Fazei-me compreender, ó Senhor, que só a união conVosco, só o amor, pode fecundar todo o apostolado.

1 – Não se pode ser colaborador de Deus, dócil instrumento nas Suas mãos, não se pode sentir com Cristo, nem associar-se ao Seu amor e à Sua obra de salvação das almas, sem uma intimidade afetuosa com Deus e com Jesus, sem uma intensa vida interior.

Pela oração e luta contra o pecado, pela renúncia de si mesmo e o exercício das virtudes, a vida interior vai despojando progressivamente a alma de tudo o que é defeituoso, favorecendo nela o desenvolvimento da graça e do amor, o que equivale a dizer que a reveste de vida divina, já que a graça e o amor são uma participação da própria vida de Deus. Por consequência, quanto mais uma alma cultivar a vida interior, tanto mais se aproximará de Deus e, semelhante a Ele por graça e amor, poderá viver na Sua intimidade, gozar da Sua amizade, penetrar os Seus mistérios e associar-se a eles. Portanto, quem está mais apto a compreender o grande mistério da Redenção e a dar-lhe o seu contributo, do que aquele que, por meio de uma vida interior fervorosa, vive em amizade íntima com Deus?

O primeiro grau de amizade divina que resulta da ausência do pecado grave não pode bastar para a fecundidade do apostolado; é preciso uma amizade mais profunda que gere uniformidade de vistas, de vontades, de desejos, de afetos, de modo que o apóstolo possa agir segundo o coração de Deus, movido não por impulsos pessoais, mas pela graça, pelo querer divino, pelas inspirações do Espírito Santo. É significativo o fato de Jesus, antes de enviar os Apóstolos à conquista do mundo, ter querido fazê-los viver três anos na Sua intimidade, tratando-os como verdadeiros amigos: “Já vos não chamarei servos… mas chamei-vos amigos” (Jo. 15, 15). Amigos não só porque lhes comunicou os tesouros da Sua vida divina, mas também porque quis que fossem colaboradores e, de certo modo, continuadores da Sua missão redentora.

É impossível ser apóstolo sem ser amigo de Deus. O próprio Deus o convida a esta amizade, mas é necessário que Ele Lhe corresponda com uma vida interior séria, que torne as suas relações com Deus cada vez mais íntimas e ricas em amor.

2 – Só da amizade de Deus, só da caridade que nos une a Ele, brota a força sobrenatural que torna eficaz qualquer forma de apostolado. Quanto mais uma alma está unida a Deus, tanto mais participa do poder do próprio Deus e, por isso, as orações, os sacrifícios e as obras que empreende pela salvação das almas, são eficazes e atingem o seu fim.

Mas onde irá o apóstolo haurir este amor que, unindo-o a Deus, o torna tão poderoso? Sem dúvida, ao mesmo Deus. “A caridade de Deus está derramada em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rom. 5, 5). Num primeiro momento, o momento da justificação, Deus infunde em nós a caridade sem a nossa colaboração, mas não nos conserva este dom e muito menos o aumenta se não nos mantivermos unidos a Ele pelos exercícios da vida interior. A luta contra as paixões, a prática das virtudes, a frequência dos sacramentos, a oração, o recolhimento, a presença de Deus têm precisamente por objetivo favorecer a união com o Senhor e o aumento da caridade. A vida interior é a forja secreta onde a alma, no contato com Deus, se inflama no Seu amor e, inflamada e forjada pelo amor, torna-se um instrumento dócil de que Deus Se pode servir para difundir o amor noutros corações. É por isso muito oportuno lembrar muitas vezes este grande princípio: a vida interior é a alma do apostolado. Uma vida interior profunda será geradora de amor intenso, de união íntima com Deus, e portanto dela brotará um apostolado fecundo, verdadeira colaboração na obra salvífica de Cristo; ao contrário, uma vida interior medíocre não poderá produzir senão um amor e uma união com Deus muito débeis e fracos e consequentemente o apostolado que deles deriva não poderá ter uma influência eficaz nas almas. Onde a vida interior estivesse quase ou totalmente extinta, também a caridade e a amizade com Deus ameaçariam extinguir-se, e extinta a chama interior, o apostolado ficaria vazio de substância, reduzindo-se a um puro movimento que poderia fazer barulho, mas não produziria fruto algum. “tudo é martelar – diz S. João da Cruz – e fazer pouco mais do que nada e às vezes nada e até ás vezes dano” (C. 29, 3).

Colóquio – “Atraí-me, Senhor, correremos…

“Ó Jesus, atraí-me, eu Vo-lo peço, para as chamas do vosso amor, uni-me tão estreitamente a Vós que Vós próprio vivais e opereis em mim. Sinto que quanto mais o fogo do amor me abrasar o coração, tanto mais direi: Atraí-me!, tanto mais também as almas que se aproximarem de mim correrão com rapidez ao odor dos Vossos perfumes, ó meu Bem-Amado. Com efeito, uma alma abrasada de amor não pode continuar inativa; sem dúvida mantém-se aos Vossos pés como Madalena, para escutar a Vossa palavra ardente e suave e, parecendo não dar nada, dá muito mais do que Marta que se atormenta com muitas coisas.

“Ó Jesus, portanto nem sequer é necessário dizer: Atraindo-me, atraí as almas que amo! Esta simples palavra: Atraí-me!, basta. Senhor, compreendo-o, quando uma alma se deixou cativar pelo odor inebriante dos Vossos perfumes, não poderá correr sozinha, todas as almas que ama serão arrastadas atrás dela. Isto faz-se sem constrangimento, sem esforço, é uma consequência natural da atração para Vós.

“Assim como uma torrente, lançando-se com impetuosidade para o oceano, arrasta consigo tudo o que encontra na passagem, assim, ó meu Jesus, a alma que mergulha no oceano sem praias do Vosso amor, atrai com ela todos os tesouros que possui. Senhor, bem o sabeis: não possuo mais nenhuns tesouros do que as almas que tiveste por bem unir à minha; estes tesouros fostes Vós que mos confiastes.

“Quando se quer atingir um fim, é preciso empregar os meios. Ó Jesus, Vós fizestes-me compreender que me tínheis dado almas por meio da cruz, e o meu gosto pelo sofrimento cresce á medida que o sofrimento aumenta” (T.M.J. M.C. e M.A. pg. 315, 311, 312 e 178).

Intimidade Divina, Meditações Sobre a Vida Interior Para Todos os Dias do Ano, P. Gabriel de Sta M. Madalena O.C.D. 1952.

Última atualização do artigo em 8 de março de 2025 por Arsenal Católico

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