Leitura atenciosa, Franz Dvorak, 1906, Wikimedia Commons

Se a luz que há em ti é toda trevas, quão grandes serão essas mesmas trevas? (Mat. VI, 23.).

Existe uma cegueira espiritual, que nem por ser voluntária, deixa de ser muito mais triste e funesta do que a corporal.

Desviamos propositadamente o pensamento de tudo o que se relaciona com a salvação da alma e evitamos com todo o cuidado o exame do nosso coração; por isso o nosso interior é para nós um verdadeiro livro fechado.

Se a luz que há em ti é toda trevas, quão grandes serão essas mesmas trevas? (1)

Estado tão triste procura Satanás assegurá-lo por todos os modos imagináveis, servindo-se umas vezes das distrações exteriores, dos negócios e dos prazeres para prender o nosso espírito, valendo-se outras do amor próprio, para o qual não há nada tão molesto rumo descobrir cada um em si mesmo motivos de confusão e de vergonha, e outras finalmente, lançando mão dos falsos amigos que lisonjeiam e fomentam o nosso próprio engano.

Não admira pois, que seja tão perigosa a cegueira da alma.

Se não me conheço, poderá dar-se comigo o que acontece ao que vive descuidado numa casa que ameaça ruína; morre da noite para a manhã, por ignorar o perigo em que está metido.

Se não me conheço, não posso sentir desejos de me corrigir; e vivendo numa falsa tranquilidade comparecerei na presença de Deus sem virtudes nem merecimentos.

Processo certamente muito cômodo, mas com o qual incorremos em grande responsabilidade. Para que nos deu o Senhor abundância de luz natural e sobrenatural, e para que está ele disposto a dar-no-la cada vez mais abundante se lha pedirmos, senão para conhecermos os nossos defeitos.

Porque examinamos tão superficialmente a nossa consciência, quando nos confessamos?

Porque é que nunca ou quase nunca nos examinamos à noite do modo como passamos o dia?

Porque é que consagramos tão raramente um quarto de hora a recolhermo-nos interiormente, para examinarmos como conseguiremos vencer as nossas paixões, as fontes das nossas faltas e pecados, e como conseguiremos estancá-las?

Sabemos julgar os outros, censuramos com rigor as suas faltas, mas não reparamos nas nossas.

Vês o argueiro nos olhos do teu irmão e não advertes na trave que te cega os teu. (2)

O conhecimento próprio torna-se mais necessário no tempo da juventude. porque, como é durante ela que as paixões se começam a manifestar, se tardarmos em as conhecer e combater, apoderar-se-ão do nosso coração, como as ervas silvestres dum campo maninho; crescerão então os abrolhos das mil variedades do amor próprio, e depois de se propagarem e de lançarem raízes profundas, acabarão por sufocar a boa semente.

Jovem cristã: consagra-te a investigar o móvel das tuas ações; não te contentes com o conhecimento das faltas; aprofunda até descobrir a sua causa. Muitas vezes encontrarás até as boas obras a raiz amarga do amor próprio, do desejo de agradar e da mentira.

toma pois, o cutelo da abnegação própria: Humilha-te na presença de Deus, e pede-lhe que te auxilie a alcançar vitória sobre ti mesma.

Feliz o dia em que puseres mãos á obra com valor e resolução. Cada triunfo que alcançares aumentará as tuas forças e Deus não deixará de premiar com novas graças a tua generosidade.

A Virgem Prudente, Pensamentos e Conselhos acomodados às Jovens Cristãs, por A. De Doss, S.J. versão de A. Cardoso, 1933.

(1) Mat. VI, 23.
(2) Mat. VII, 3.

Última atualização do artigo em 25 de fevereiro de 2025 por Arsenal Católico

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