Não deixes de crescer em justiça até à morte (Ecl. XVIII, 22).
Todos os homens hão mister de se purificar com frequência. Se alguém te disser que não peca, engana-se; e nisso não diz a verdade (1).
Até quem não cometeu pecados mortais, convém que se confesse a miúdo.
O ambiente duma sala que não é ventilada com certa frequência, torna-se pesado e insalubre. A confissão é como o ar puro; renova a alma.
A confissão além de perdoar as faltas ordinárias, aumenta também em nós o fervor para praticar o bem. As novas graças que nos traz, os bons propósitos que nela renovamos, e a exortação do sacerdote, dão à vontade um novo e poderoso impulso.
Aumenta em nos vigor moral e a facilidade para a prática da virtude.
Além disso é um exercício muito eficaz contra as tentações. A antiga serpente está espiando em todos os recantos e esconderijos: quando se vê descoberta, foge.
Leva ao conhecimento próprio, condição de todo o progresso espiritual: une-nos mais intimamente a Jesus, fonte de todo o bem, faz descer sobre nós maior abundância de graças, aumenta a caridade, torna mais vigorosa e louçã a vida da alma; e graças a ela, as nossas obras tornam-se mais meritórias, e a nossa coroa no céu mais resplandecente.
Que insensatez, privarmo-nos de todas estas bênçãos, e jugarmos por equívoco de consciência que não precisamos de nos confessar a miúdo!
Não deixes de crescer em justiça até à morte (2).
E dizes que és boa! mas a verdadeira bondade também é fervorosa; e o fervor manifesta-se nas obras, e no uso dos meios que a bondade de deus nos oferece.
ó ingratidão! Serviu-se Deus da confissão, como de alavanca, para me levantar do abismo do pecado: e eu ousarei portar-me indiferentemente com este sacramento tão salutar?
Ó cegueira! Sabes por experiência que os sacramentos possuem uma virtude vivificante; e não confias em que eles hão de confirmar, elevar e aperfeiçoar a vida que produziram na tua alma? (3)
Mas, dirás tu, há perigo de abusar deles.
Sim: de tudo se pode abusar; mas emprega os meios ao teu alcance e Deus não te arguirá de abuso dos sacramentos.
Temes talvez que com a confissão muito frequente, a contrição acabe por te faltar?!
Lembra-te dalgum pecado da vida passada, inclui-o na confissão, e terás matéria suficiente para a absolvição.
Só haverá a temer o abuso, se te confessares por mera rotina, e com a mesma irreflexão com que praticas os atos da vida ordinária. Um confessor prudente, como deve ser o que escolheres se procuras realmente o bem da tua alma, saberá impedir esse mal, orientando-te neste exercício, estimulando o teu fervor, e ajudando-te com os seus conselhos e exortações.
Se te confessares com frequência, não te detenhas muito no exame, nem te fixes demasiado nas faltas pequenas. Acusa-te só dos pecados que cometeste com plena consciência e deliberação; distingue o certo do duvidoso, e se encontrares poucas faltas, corrige-te delas, e serás boa e santa.
Observa o plano que previamente estabeleceste de te confessares em tempos determinados, sem deles te apartares por nenhum pretexto ou capricho; e quando esse tempo se aproximar, prepara-te para a confissão, abrindo mão de todos os negócios temporais: não há nenhum de maior importância para ti, do que o bem e a salvação da tua alma.
A Virgem Prudente, Pensamentos e Conselhos acomodados às Jovens Cristãs, por A. De Doss, S.J. versão de A. Cardoso, 1933.
(1) I Joan. I, 8.
(2) Ecl. XVIII, 22.
(3) Joan. VI, 35.
Última atualização do artigo em 25 de janeiro de 2025 por Arsenal Católico