(Detalhe) Oração - Anna Blunden - "For Only One Short Hour", 1854, Public Domain - Wikimedia Commons

Ó Senhor, tornai-me diligente no Vosso serviço e solícito no cumprimento do meu dever.

1 – O homem prudente é também diligente; examina e escolhe com solicitude os meios mais próprios para a sua santificação e depois põe com diligência mãos à obra. De Jesus foi dito: “Fez bem todas as coisas” (cfr. Mc. 7, 37); absolutamente falando, este louvor só convém a Jesus, cuja solicitude e diligência no cumprimento da missão que Lhe foi confiada pelo Pai celeste, foram perfeitíssimas e totalmente isentas da mais leve lacuna; contudo, guardadas as proporções, deveria também poder dirigir-se este louvor à alma diligente, ou melhor, o programa da sua vida deveria ser: fazer bem todas as coisas. Fazer o bem não basta, importa fazê-lo bem, quer dizer, não de qualquer modo, mas com cuidado, com solicitude, com prontidão, numa palavra, com diligência. O que distingue os santos não é tanto a grandeza das suas obras ou a importância do lugar que ocupam na Igreja, mas a perfeita diligência no cumprimento de todos os seus deveres, mesmo dos mais humildes. Assim acontece, por exemplo, que num grupo de pessoas que têm o mesmo gênero de vida e estão sujeitas aos mesmos deveres, às mesmas práticas de piedade, austeridades, mortificações, obras apostólicas, etc., umas atingem um alto grau de caridade e de união com Deus ao passo que outras levam uma vida medíocre; ora isto depende unicamente da maior ou menor diligência com que cada uma se aplica ao cumprimento dos próprios deveres. A diligência torna a alma atenta, desperta para o bem, de modo que cada uma das suas ações é vivificada pela caridade, é realizada com exatidão em todos os seus pormenores. “O que teme a Deus, nada despreza”, diz o Espírito Santo (Ecle. 7, 19); e quando este temor não é servil, mas fruto do amor e evita tudo o que desagrada a Deus, torna a alma tanto mais diligente quanto mais amante.

2 – “A diligência é uma aplicação da alma para realizar o bem com prontidão, e torna os homens semelhantes aos anjos, que voam com maravilhosa rapidez a executar as ordens de Deus” (Ven. João de J. M., o.c.d.). A prontidão em fazer o bem é precisamente um aspecto particular da diligência.

O negligente dirige-se para o dever de má vontade, com lentidão e atraso; porém o diligente corre ao seu encontro de espírito alegre, com solicitude e pontualidade. Fazer com prontidão todo o bem que se deve fazer, aplicar-se pontualmente a todos os seus deveres, ainda que fosse mais cômodo entreter-se noutras ocupações, é fruto da diligência. Sobretudo aquele que se obrigou, privada ou coletivamente, a um determinado regulamento de vida, tem o dever de o observar com pontualidade e exatidão. Com efeito, qualquer regulamento aprovado por quem está no lugar de Deus é, para a alma que o abraçou, uma manifestação da vontade divina, e esta vontade tem de ser cumprida sem demoras nem atrasos. A pontualidade exige disciplina, mortificação e desapego; muitas vezes pede que interrompamos uma ação interessante e agradável para nos dedicarmos a outra talvez menos atraente ou de menor importância. Porém, seria um verdadeiro erro avaliar as ações e entregarmo-nos a elas conforme correspondem ou não aos nossos gostos, ou nos parecem mais ou menos importantes. Tudo é importante e belo quando é a expressão da vontade de Deus e uma alma que em cada momento do dia, quer viver segundo esta santa vontade, nunca se deixará levar pela tentação de descuidar a mais pequenina ação prescrita pelo seu regulamento de vida. Prolongar uma ocupação para além do tempo fixado ou dispensar-se doutra, exceto por um motivo razoável, é desviar-se da vontade de Deus, é um indício de apego à própria vontade e muitas vezes também à própria comodidade. “Na solicitude não [sejais] negligentes; [sede] fervorosos de espírito, servindo ao Senhor”, escrevia S. Paulo aos Romanos (12, 11) e aos Efésios recomendava: “Cuidai em andar com prudência, não como insensatos, mas circunspectos, recobrando o tempo… Não sejais imprudentes, mas considerai qual é a vontade de Deus” (5, 15-17).

Colóquio – “Ó Senhor, refletindo na Vossa presença, compreendo que a caridade é o melhor remédio contra uma certa negligência e moleza no cumprimento dos meus deveres. Devo aplicar-me a fazer tudo por amor, com a intenção especial de Vos dar gosto.

“Deus meu, que condescendência da Vossa parte e que felicidade para mim, pobre nada, poder trabalhar para Vos dar gosto! Este pensamento determina-me a sacrificar tudo alegremente. Ó Senhor, Vós consolais-me com estas palavras e renovais a minha juventude como a da águia! Sim, em certos momentos, é mais seguro e mais eficaz repetir a mim própria: faz isto porque dás mais gosto a Deus, do que dizer simplesmente: é teu dever.

“Ó Senhor, tudo quanto eu posso fazer, já Vos é devido, ou melhor, será sempre inferior ao meu dever. Contudo, a Vossa divina bondade compraz-Se em dar-me a consolação de pensar que Vos sirvo com uma certa liberalidade e generosidade quando procuro com toda a minha diligência dar-Vos gosto, não somente nas obras da minha obrigação, mas nas super-rogatórias e de perfeição, não somente nas grandes e importantes, mas nas pequenas e até nas mínimas, pois nada é desprezível de quanto Vos pode ser oferecido

“Senhor, por meio de uma diligência amorosa em todas as minhas ações, quero mostra-Vos continuamente a grandeza dos meus desejos e do meu amor. E quanto mais generosa e liberal for no Vosso serviço, mais atrairei sobre mim os efeitos da Vossa liberalidade” (cfr. B. M. Teresa de Soubiran).

Intimidade Divina, Meditações Sobre a Vida Interior Para Todos os Dias do Ano, P. Gabriel de Sta M. Madalena O.C.D. 1952.

Última atualização do artigo em 24 de janeiro de 2025 por Arsenal Católico

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