E ele dirige os conselhos dos que a ele recorre, e leva-os ao estado de vida que melhor lhes convém (Ecl. XXXIX, 10).
Aproxima-se já ó jovem, o momento em que tens de decidir do estado ou modo de vida que hás de abraçar.
São vários os caminhos que se te apresentam. Todos eles nos conduzem pelo vale desta vida ao monte santo de Deus, à nossa eterna pátria celestial.
Seguirei por este caminho, ou por aquele?
Este, áspero, mas mais curto, é o dos conselhos evangélicos; aquele é o do matrimônio; por diante dos meus olhos perpassam as várias carreiras e caminhos que posso abraçar o mundo.
Nem todos devem trilhar o mesmo caminho. De outro modo, que seria da sociedade? Deus não violenta ninguém; deixa-nos inteiramente livre a escolha, dando-nos apenas a conhecer pelas circunstâncias da nossa vida, pela nossa compleição, aptidões e disposições, o caminho pelo qual pretende levar-nos ao céu.
Deixa-te pois, conduzir por ele; a sua sabedoria, que tudo ordena amorosamente (1), te dará a conhecer o caminho que hás de trilhar.
Não há coisa mais funesta do que pretenderes guiar-te pelo teu capricho. Se te deixasses levar por ele, correrias grave perigo de errar, e de te despenhares, sem dar por isso, num abismo, à semelhança dos temerários excursionistas das montanhas, que julgam poder prescindir de guia.
Que ilusão! Dizes que querer servir a Deus a todo o custo, e logo ao primeiro passo, num negócio tão importante, qual é o da eleição do caminho que te deve levar a Deus, deixas de consultar a Sua vontade santíssima, e, cega pelo encanto com que a fantasia te representa um estado determinado, deixas-te arrastar inconsideradamente pela paxião.
Queres pois, que Deus se acomode à tua vontade, pervertendo assim a verdadeira ordem. Que desordem tão lamentável.
E esta desordem acarreta funestas consequências. Quem segue a vocação que Deus lhe determinou, encontra-se no seu elemento, como o peixe na água; entrega-se com prazer e alegria às ocupações próprias dela, pois correspondem à sua aptidão e inclinação natural.
Mas, quem erra na eleição, logo começa a sentir dificuldades superiores às suas forças, sobrevindo-lhe depois o desagrado e aborrecimento. Daí o fracasso total ou parcial da sua vida!
Se queres ser feliz, ó jovem, não te fixes de ante mão em eleição determinada! Não sejas como a jovem insensata que respondia a um sacerdote, seu tio, quando este procurava convencê-la a que renunciasse a certas relações: “O mais que me pode dizer, é que deste modo me perco: mas amo-o tanto, que estou pronta a ir para o inferno com ele!” Tal loucura é indigna de uma criatura racional, e não pode deixar de levar à ruína.
Procura pois, colocar o teu coração na maior indiferença que puderes, tornando assim possível que Deus te ilumine e incline a tua vontade ao estado que seja mais do seu agrado para ti.
Pede-lhe numa oração fervorosa e sincera que te dê a conhecer a Sua vontade santíssima; se fizeres assim, não deixarás de ser ouvida.
Ele dirige os conselhos daquele que o implora, e leva-o ao estado de vida que mais lhe convém (2).
À oração junta a meditação. Não esperes que Deus te dê a conhecer a sua vontade, por meio de uma revelação especial: nem isso é preciso. Se procederes com boa vontade, Deus dirigirá os teus conselhos, e alcançarás o fim desejado.
É muito útil que te faças as duas perguntas seguintes: Que estado quisera eu ter escolhido à hora da morte? Se uma amiga a quem tenho grande amizade, me consultasse sobre o estado que havia de abraçar, que lhe responderia eu?
A Virgem Prudente, Pensamentos e Conselhos acomodados às Jovens Cristãs, por A. De Doss, S.J. versão de A. Cardoso, 1933.
(1) Sab. VIII, 1.
(2) Ecl. XXXIX, 10.
Última atualização do artigo em 9 de março de 2025 por Arsenal Católico