A questão sobre a qual eu quisera difundir alguma luz, para fazê-la compreender bem pelos pais e mães de família, resume-se no seguinte:
A escola aonde enviamos nossos filhos para receberem a instrução primária, deve ser cristã, e ajudar assim, a Igreja a formar cristãos, ou bem, não de ocupar-se para nada da Religião, e deixar este cuidado exclusivamente ao sacerdote e aos pais?
A escola deve ser cristã ou deve ser sem religião?
Qual é a solução do problema?
Sois cristãos? Credes em Deus, em Jesus Cristo e em sua Igreja? Ou bem, sois o que chama hoje incrédulos, quero dizer, homens que vivem sem religião, separados de Jesus Cristo e da Igreja, e que erigem em princípio que a sociedade deve proceder como eles? Tudo depende disso.
Se sois cristãos, quereis sem dúvida que vosso filho seja e permaneça cristão. Portanto deveis desejar que a escola para onde mandeis vosso filho vos ajude a fazer dele um cristão. Deveis querer e quereis que o mestre ou mestra a quem confiais vosso filho, não somente não o arrebate da fé e de seu batismo, senão que coopere enquanto lhe for possível à grande obra de sua educação, a qual deve ser cristã ante tudo. Pois todo o cristão é cristão ante tudo.
Para os pais e mães cristãos, a questão da escola que tanto se agita em nossos dias, não tem pois mais que uma solução possível, lógica e razoável. “Sim, a escola onde fazemos que seja educado nosso filho deve ser cristã. Deve ajudar-nos a fazer o nosso filho um cristão.”
Para os incrédulos e livres-pensadores, a solução é de todo oposta; e respondem pela vez de seus diários, de seus deputados, de seus correligionários e de seus conselhos municipais: “Não queremos escolas cristãs; queremos que a escola para onde enviamos nossos filhos seja como nós outros, sem Deus, sem religião.”
Quem se equivoca? Os cristãos ou os incrédulos? Se os pais cristãos estiverem em erro, se Jesus Cristo não fora o verdadeiro Deus vivo, a quem todo o cristão deve obedecer, se a Igreja não fosse sua enviada, encarregada por Ele de salvar e santificar os homens, é bem evidente que os homens incrédulos teriam razão de não querer religião na escola ou em qualquer outra parte; seriam lógicos, e nós seríamos absurdos, cegos e estúpidos.
Por felicidade nossa, e por desgraça deles, os incrédulos estão em erro.
Sabendo ou não, de boa ou de má fé, declaram guerra ao verdadeiro Deus; desconhecem ou ao menos ignoram a Jesus Cristo e a sua Igreja; aclamam o que deveriam maldizer.
Repito-o: na grande questão da escola cristã, a solução depende inteiramente do ponto de vista em que cada um se coloca; da crença ou incredulidade dos que dela se ocupam. Para ter a solução verdadeira, única verdadeira, é indispensável subir mais alto, e resolver previamente esta tríplice questão, da qual depende toda a vida. Há um Deus e uma religião verdadeira? Jesus Cristo é Deus? A Igreja é a enviada por Jesus Cristo e a depositária da verdadeira religião? Em tanto que não tiverdes resolvido, afirmativa ou negativamente, estas três perguntas, que se reduzem à uma, jamais podereis resolver razoavelmente a questão da escola. Encarando a questão como o fazem eles, os incrédulos, são lógicos; pois é seu ponto de vista o que é falso; enganam-se no ponto de partida que os perde.
Nossos demagogos e ideólogos partem todos, mais ou menos, desta ideia falsíssima: ou que não há religião verdadeira e necessária, ou que Nosso Senhor Jesus Cristo não é Deus feito homem, como afirmam por vezes suas palavras e seus milagres: ou enfim, que a Igreja e o sacerdote, ministro da Igreja, não estão encarregados por Deus mesmo de ensinar a todos os homens a conhecer e a praticar a verdadeira religião, a religião de Jesus Cristo.
Eles já em nada creem; e não querem para o povo, nem a religião, nem sacerdote, nem Deus. Julgam-se estar simplesmente separados de Jesus Cristo; mas isto é um quimera: não sabem que o Filho de Deus há declarado formalmente: “O que não está comigo, está contra mim.” Não estão com Jesus Cristo: estão, portanto, contra Jesus Cristo. Pedir que a escola já não seja de Jesus Cristo, pedem, saibam ou não, que a escola seja contra Jesus Cristo.
Escondam, quanto queiram as unhas, nem por isso deixam de ser gatos, e gatos com boas garras; e se chegassem a conseguir “a separação da escola e da Igreja” nada se dariam mais pressa à reclamar dessa força cega chamada “Estado,” que a destruição da Igreja, e que fossem postos fora da lei os sacerdotes, e tudo o que é cristão. Testemunhas, os revolucionários de 1879 que, depois de haverem conseguido “a separação da Igreja e do Estado,” chegaram em nos de dois anos a decretar a supressão da Igreja pelo Estado, e a por fora da lei os Bispos e os sacerdotes fiéis!… Testemunhas, também os comunistas de 1871, que, depois de haverem arrancado os crucifixos de todas as escolas, de nada se preocuparam mais que de profanar nossas Igrejas, encarcerar e assassinar a nossos sacerdotes.
Assim pois, no fundo desta questão da escola, não há, para quem sabe raciocinar, senão uma questão de fé. E se os incrédulos de toda a classe a resolvem em um sentido oposto ao nosso, é simplesmente porque não têm fé; é porque não conhecem a Jesus Cristo, ou porque o odeiam.
Sem a religião, não há fé nem moral; sem a fé e sem a moral não há educação. Portanto, a escola deve ser cristã, Cristã primeiro que tudo. Exigi-lo assim é um dever de consciência, tanto para os pais e mães de família, como para o sacerdote. Nisto consiste a salvação dos meninos.
Pais e mães, vede pois a imensa importância desta questão para o presente e para o futuro!
A Escola sem Deus – Mons. Ségur, 1884