Numa bela manhã, os apóstolos estavam agrupados no alto de um monte da Galileia. Nos seus rostos se estampava a alegria e a esperança, como se estivessem aguardando um acontecimento de beleza e glória. De repente surgiu no meio deles Jesus Cristo, resplandecente de beleza e glória. Todos esperavam com ansiedade as suas palavras, pois daí a pouco deveria partir para o Céu, tendo passado 40 dias sobre a terra, depois de ressuscitado. “Todo o poder me foi dado no céu e na terra, disse Cristo. Ide, ensinai a todos os povos, e batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, e ensinando-lhes a observar tudo o que eu vos mandei. E eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos” (Mt 28, 18-20). Era a ordem para a pregação da religião cristã. Daí em diante sempre houve apóstolos que ensinaram a doutrina de Cristo e sempre houve fiéis que acreditaram e praticaram esta doutrina.
A ordem dada por Cristo aos apóstolos foi executada. Jesus Cristo passara três anos a pregar uma nova religião, a ensinar novas doutrinas, a dar novas leis, a formar novos ritos. Ao partir para o céu, entregava como depósito aos apóstolos tudo aquilo que Ele ensinara aos homens e que os homens deviam aceitar pela fé, e prometia estar com os apóstolos até o fim do mundo, a fim de que este depósito da fé não fosse alterado pela ignorância ou pela maldade dos homens.
E o que continha este depósito da fé? Abramos o Evangelho de São Marcos no capítulo 16, e encontraremos esta frase de Cristo dirigida aos apóstolos, antes de partir para o céu: “Ide a todo o mundo e pregai o Evangelho a toda a criatura. Quem crer e for batizado será salvo, quem não crer. será condenado”. “Evangelho” quer dizer a boa nova, e significa todos os ensinamentos, preceitos e instituições de Cristo. Ora, Cristo não veio negar as verdades já ensinadas por Deus mediante os patriarcas e profetas do Antigo Testamento, mas completá-las e ao mesmo tempo aperfeiçoar os mandamentos e as cerimônias religiosas. Portanto o “evangelho” compreende tudo o que havia de verdadeiro e bom da lei antiga e mais o que Cristo viera ensinar. Por conseguinte o “depósito da fé” contém todas as verdades reveladas por Deus à humanidade quer antes de Cristo, quer no tempo de Cristo, quer depois de Cristo, até a morte do último apóstolo, pois desde então Deus não tem mais falado a todos os homens, mas somente a alguns, para uso particular deles. Desde Adão até a morte do último apóstolo, Deus não cessou de ensinar aos homens novas verdades, que deviam ser aceitas pela fé, e estas verdades foram sendo guardadas reverentemente pela verdadeira religião, como um depósito sagrado, formando assim o “depósito da fé”. Hoje a Igreja Católica é a guarda vigilante deste depósito, e, acreditando nas verdades que ela ensina como verdades de fé, não fazemos outra coisa que acreditar na palavra do próprio Deus. Deus falou à humanidade, e a Igreja guarda religiosamente estas palavras divinas.
Mas onde é que podemos encontrar estas palavras de Deus? Quais são as fontes onde devemos ir procurar esta água pura e vivificadora da revelação de Deus aos homens? – Esta pergunta sobre as “fontes de revelação” tem a máxima importância para nós. Uma resposta errada pode levar ao protestantismo. Aqui está mesmo a maior diferença que há entre católicos e protestantes.
Antes de responder voltemos aos começos da Igreja. Quando Cristo veio ao mundo, a religião judaica era possuidora de certos livros sagrados que continham a palavra de Deus. O próprio Deus tinha inspirado certos homens a escreverem aqueles livros e de tal maneira influiu neles que podemos dizer com toda a verdade que estes livros foram escritos pelo próprio Deus. Se eu dito uma carta e envio esta carta a um amigo, o meu amigo receberá aquela carta como minha, e não como da pessoa que a escreveu. Aqueles livros sagrados dos judeus eram uma carta de Deus aos homens, mas escrita por homens inspirados e movidos por Deus. Quando Jesus Cristo começou o seu ensino, Deus estava falando mais uma vez aos homens, mas desta vez de viva voz e não por escrito. Ao partir do mundo para o céu, Cristo deixou aos apóstolos a ordem de ensinar a todos os povos tudo aquilo que Ele viera dizer aos homens, e prometeu-lhe que o Espírito Santo havia de ensinar-lhes tudo e fazer-lhes compreender no devido tempo tudo o que Ele lhes tinha dito (Jo 14, 16). Cristo, portanto, deixou as suas doutrinas, não escritas num livro, mas na memória dos apóstolos. O Espírito Santo ainda haveria de ensinar outras verdades até a morte do último apóstolo.
Recebida a ordem de Cristo, os apóstolos se espalharam pelo mundo, para pregar o Evangelho. O Espírito Santo estava com eles, para não permitir que eles errassem. Passaram-se muitos anos sem que os apóstolos tivessem necessidade de escrever qualquer coisa. Jesus Cristo não mandou os apóstolos escreverem livros, mas ordenou que pregassem. E o próprio Cristo só pregou e não escreveu nenhum livro. Mas a Divina Providência achou conveniente deixar-nos por escrito muitas das verdades ensinadas por Cristo, deixando contudo outras, para serem transmitidas só por palavra, como atesta São João no final do seu Evangelho. É assim que o Espírito Santo inspirou a alguns apóstolos ou companheiros dos apóstolos para que eles escrevessem, em nome de Deus, uma parte das verdades reveladas por Cristo. A coleção desses escritos tem o nome de “Novo Testamento”, enquanto a coleção dos livros sagrados escritos antes de Cristo recebeu o nome de “Antigo Testamento”. Todos estes livros juntos, isto é, o Novo Testamento e o Antigo Testamento, formam a Bíblia ou Sagrada Escritura. A Bíblia portanto é a coleção de todas as verdades reveladas que Deus nos quis deixar por escrito. É, como dissemos, um livro escrito por Deus para os homens, utilizando-se da pena de homens inspirados e movidos especialmente por Ele. As outras verdades que não foram escritas deveriam ser transmitidas de boca em boca e por isso foram designadas com o nome de Tradição oral. Apenas dizemos que elas não estão nos livros inspirados por Deus, isto é, na Bíblia. Já desde os primeiros anos da Igreja aparecem por escrito estas verdades que a Igreja, assistida pelo Espírito Santo, sempre vem ensinando. Mas só a Igreja pode decidir qual é a verdade ensinada por Cristo e que não está na Bíblia.
Agora já podemos responder a pergunta feita anteriormente. Perguntamo-nos onde é que podemos encontrar as verdades que Deus ensinou aos homens. Tudo que Deus revelou aos homens, isto é, todo o depósito da fé, está ou na Bíblia ou na Tradição oral. Gravemos portanto profundamente na memória que nem tudo que Deus revelou aos homens está na Bíblia. Uma parte está na Bíblia e outra parte está na Tradição. Bíblia e Tradição são as duas fontes da revelação divina.
Os protestantes negam esta verdade e dizem que tudo o que Deus revelou aos homens está na Bíblia e só na Bíblia. Mas como podem eles ter certeza que a Bíblia é a palavra de Deus? Em nenhuma parte da Bíblia se lê que a Bíblia é a palavra de Deus. Nós católicos dizemos que sabemos disto pela Tradição oral. Deus escreveu a Bíblia e além disto revelou que a Bíblia era um livro feito por Ele.
Procuremos conhecer a palavra de Deus. Leiamos a Bíblia, principalmente o Novo Testamento. Procuremos para isto uma Bíblia com a aprovação da Igreja, pois é gravemente proibido aos católicos ler ou possuir bíblias protestantes. Procuremos também estudar a nossa religião, transmitida pela Igreja, a qual é a única depositária de todas as verdades divinas contidas quer na Bíblia, quer na Tradição.
Exemplo. Contam os Atos dos Apóstolos (um dos livros do Novo Testamento), no capítulo 8, que um ministro da rainha da Etiópia voltava de Jerusalém no seu carro, lendo a Bíblia. O diácono Filipe, que operava muitas conversões naquela região, aproximou-se dele, movido pelo Espírito Santo e disse-lhe: “Imaginas que compreendes o que lês?” Ao que o ministro respondeu: “Como posso compreender, se ninguém me explica?” E convidou Filipe para explicar aquela passagem do profeta Isaías que estava lendo. Pouco depois creu em Cristo e se batizou. Um simples fiel não pode dispensar o ensino da Igreja para compreender a Bíblia. A Bíblia deve ser explicada pela Tradição, e só a Igreja, assistida pelo Espírito Santo, possui todas as verdades da Tradição.
Procedem de maneira errônea os protestantes que procuram interpretar de acordo com sua cabeça a Bíblia: acreditam mais na sua inteligência do que na palavra de Deus.
Oração: Ensinai-me, ó meu Deus, a escutar reverentemente a Vossa palavra e dai-me forças para viver de acordo com ela. Que as vossas verdades divinas, que nos quisestes transmitir mediante a vossa Igreja, sejam como um sol luminoso para minha inteligência e como um fogo ardente para a minha vontade, de modo que eu viva sempre e em tudo no caminho dos vossos mandamentos. Amém.
As verdades fundamentais, encontradas na Bíblia e na Tradição, foram expressas no “Credo”. Rezemos o “Credo”, que resume toda nossa fé:
Creio em Deus Pai…
Resolução: – Nunca aceitar uma Bíblia protestante, pois é adulterada e não tem a aprovação da Igreja.
Leituras de Doutrina Cristã, Parte I – Dogma, Padres Jesuítas de Três Poços, Pinheiral, Estado do Rio, 1958