Ó Jesus, ponho toda a minha esperança no Vosso poder, no Vosso amor infinito, na Vossa Paixão, para o bem das almas que me confiastes.
1 – No seu trabalho, o apóstolo tem necessidade de ser amparado por uma forte esperança. Os momentos de entusiasmo são breves, ao êxito depressa sucede o fracasso, as dificuldades são muitas, a luta desencadeada pelas forças inimigas é dura e incessante, e se o apóstolo não estiver ancorado em Deus por uma sólida esperança teologal, tarde ou cedo acabará por desanimar e abandonar a empresa. “Eu venci o mundo” (Jo. 16, 33), disse Jesus e, enviando os apóstolos continuar a Sua missão vitoriosa, assegurou-lhes: “Estou convosco todos os dias até à consumação dos séculos” (Mt. 28, 20). Eis o fundamento da esperança apostólica: a vitória de Cristo e a Sua incessante assistência. Sim, Ele estará conosco todos os dias, portanto também nos dias sombrios, quando o horizonte está carregado e nem um raio de luz se vislumbra, quando o inimigo triunfa, os amigos se retiram e, humanamente falando, não se vê possibilidade alguma de êxito. Se confiássemos nos nossos recursos, na nossa capacidade, nas nossas obras, teríamos razão para desesperar, para nos rendermos; mas não acontece assim. Nós esperamos e estamos seguros da nossa esperança porque Deus é onipotente e quer que todos os homens se salvem; porque Cristo nos remiu com o Seu Sangue, morreu por nós e por nós ressuscitou, porque, enfim, as Suas promessas – promessas de um Deus – são infalíveis. “O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não passarão” (Mt. 24, 35).
Apoiando-se na vontade salvífica de Deus, no Seu poder infinito e na Redenção de Cristo, o apóstolo há de alimentar a esperança certa de que, por fim, a graça triunfará. Mas ao mesmo tempo, para não se expor a ilusões, deve convencer-se de que não se chega à vitória senão passando pelo Calvário. “O apóstolo não é maior do que Aquele que o enviou” (Jo. 13, 16); se Jesus só chegou ao triunfo da ressurreição depois da Sua Paixão e Morte dolorosíssimas, o apóstolo não pode pretender ir por outro caminho. Também para ele virão necessariamente as horas das trevas que, em vez de significarem abandono da parte de Deus, serão a prova de que Deus está com ele porque o conduz pelo mesmo caminho por onde conduziu o Seu divino Filho.
2 – Jesus também conheceu o fracasso: quando, terminado o Seu discurso na sinagoga, os nazarenos indignados “o conduziram até ao cume do monte, para o precipitarem” (Lc. 4, 29); quando, pelo menos duas vezes, os judeus escandalizados com as Suas palavras “pegaram em pedras para lhe atirarem” (Jo. 10, 31); quando os fariseus conspiravam contra Ele e tramavam falsidades para O condenarem à morte; quando Judas O traiu; quando os Seus O abandonaram e Ele, feito joguete da soldadesca, foi flagelado, coroado de espinhos, vestido como rei de comédia, esbofeteado e cuspido; quando foi preferido a Barrabás; quando foi arrastado para o Calvário entre dois ladrões e crucificado no meio deles. Pode afirmar-se, que, humanamente falando, o apostolado de Jesus terminou com um clamoroso fracasso, pois Ele teve de suportar a morte própria dos malfeitores. Tudo isto deve estar bem impresso na memória do apóstolo para que se não escandalize quando alguma coisa de semelhante suceder na sua vida. “Se eles me perseguiram a mim, também vos hão de perseguir a vós” (Jo. 15, 20).
Através das perseguições, das humilhações e dos insucessos, o apóstolo aprenderá a não confiar nas próprias forças, a ter-se por servo inútil mesmo depois de se ter cansado muito, a convencer-se da própria insuficiência e da insuficiência de todos os meios humanos, e por conseguinte, a pôr só em Deus todas as suas esperanças. Aprenderá a trabalhar unicamente por amor de Deus, sem procurar a consolação do êxito, renunciando até à legítima satisfação de constatar os resultados das suas fadigas; aprenderá a desprender-se da opinião e do juízo dos homens, a agir prescindindo da sua aprovação ou desaprovação e a esperar somente no juízo e na aprovação de Deus. As adversidades e desgostos que o apóstolo encontra no seu trabalho, constituem a sua noite escura, comparável à dos contemplativos; noite dolorosa, mas preciosíssima, porque ordenada a purificar o seu espírito de todos os restos de amor próprio, de egoísmo, de vaidade e de apego às criaturas e à sua estima. Bem recebida, esta noite conduzi-lo-á gradualmente a uma pureza interior cada vez maior e a uma união com Deus cada vez mais plena. Portanto deve permanecer firme na sua esperança e, apesar das lutas, das dificuldades, dos insucessos, deve estar certo do êxito, não só no que diz respeito à salvação das almas que lhe estão confiadas, mas também no que se refere à sua santificação pessoal. Se por permissão de Deus este resultado lhe ficar desconhecido e todo o seu trabalho, como o de Jesus, terminar com uma aparente derrota, nas Chagas e no Sangue do divino crucificado achará força para esperar ainda, esperar contra toda a esperança.
Intimidade Divina, Meditações Sobre a Vida Interior Para Todos os Dias do Ano, P. Gabriel de Sta M. Madalena O.C.D. 1952.
Última atualização do artigo em 8 de março de 2025 por Arsenal Católico