A fé de Maria

Ó minha Mãe, ensinai-me a crer com plena firmeza e a confiar totalmente em Deus.

1 – A Igreja, fazendo suas as palavras de Sta Isabel, dirige a Maria este belíssimo louvor: “Bem-aventurada és tu porque creste, porque se hão de cumprir as coisas que da parte do Senhor te foram ditas” (Lc. 1, 45). Grandes coisas, de fato, se realizaram em Maria e Ela teve o grande mérito de acreditar. Segundo a palavra de Deus, anunciada pelo Anjo, acreditou que se tornaria Mãe, sem perder a virgindade; acreditou, Ela, tão humilde, que se tornaria deveras a Mãe de Deus, que o fruto do seu seio seria realmente o Filho do Altíssimo. Aderiu com plena fé a tudo o que lhe foi revelado sem sequer hesitar perante um plano que vinha perturbar toda a ordem natural das coisas: uma mãe virgem, uma criatura mãe do Criador. Acreditou quando o Anjo lhe falou, mas continuou a crer mesmo quando o Anjo a deixou só e Ela se encontrou nas humildes condições de qualquer mulher que está para ser mãe. “A Virgem – diz S. Bernardo – tão pequena aos seus próprios olhos, não foi menos magnânima na sua fé na promessa de Deus; Ela que não se considerava mais que uma pobre escrava, não teve a mínima dúvida sobre a sua vocação para este incompreensível mistério, para esta maravilhosa troca, para este insondável sacramento, e acreditou firmemente que viria a ser a verdadeira Mãe do Homem-Deus..

Maria Santíssima ensina-nos a crer na nossa vocação para a santidade, para a intimidade divina. acreditamos nessa vocação quando Deus no-la revelou com a clareza da luz interior, confirmada pela palavra do Seu ministro. Mas devemos continuar a crer mesmo quando nos encontramos sós, nas obscuridades, nas dificuldades que tentam abater-nos e desanimar-nos. Deus é fiel, não faz as coisas a meias: Deus levará até ao fim a Sua obra em nós, contanto que confiemos totalmente nEle.

2 – Estaria muito longe da verdade quem pensasse que, para Maria, os mistérios divinos estavam já de tal modo desvendados e a divindade do seu Jesus era tão evidente que Ela não tinha já necessidade de acreditar. Excetuada a Anunciação e os fatos que acompanharam o nascimento de Jesus, não encontramos na Sua vida, manifestações extraordinárias do sobrenatural. Ela vive de pura fé, como nós, apoiando-se na palavra de Deus. Os próprios mistérios divinos que se realizam nEla e em redor dela, permanecem habitualmente envoltos no véu da fé, tomando exteriormente o aspecto comum das várias circunstâncias da vida ordinária e escondem-se até muitas vezes sob aspectos obscuros e desconcertantes. Assim, por exemplo, a extrema pobreza em que nasceu Jesus, a necessidade de fugir para o exílio a fim de O salvar, a Ele, o Rei do Céu, das fúrias de um rei da terra, as dificuldades para Lhe arranjar o estritamente necessário que por vezes chega até a faltar. Maria, porém, nunca duvidou de que aquele Menino que precisava de cuidados maternais e de proteção como qualquer outro menino, era o Filho de Deus. Acreditou sempre, mesmo quando não compreendia. Foi o que aconteceu, por exemplo, quando se deu o súbito desaparecimento de jesus que aos doze anos ficou o templo, sem que os Seus o soubessem. S. Lucas nota que, quando o Menino explicou o motivo, alegando a missão que Lhe havia sido confiada pelo Pai celeste, maria e José “não entenderam o que lhes disse” (2, 50). Se Maria sabia com certeza que Jesus era o Messias, não sabia, porém, de que modo Ele iria cumprir a Sua missão; por isso, naquele momento, não entendeu a relação que havia entre a Sua demora no templo e a vontade de Deus. Contudo não indagou mais: sabia que Jesus era o seu Deus e isto lhe bastava; estava segura, totalmente segura dEle.

A alma de fé não se detém a examinar a conduta de Deus e, mesmo não compreendendo, não hesita em acreditar e em seguir cegamente as disposições da vontade divina. Detemo-nos algumas vezes na nossa vida espiritual porque desejamos compreender demais, indagar demais os desígnios de Deus sobre a nossa alma; não, o Senhor não nos pede que compreendamos, mas que acreditemos com todas as nossas forças.

Colóquio – “Ó Maria, cobri-me com a vossa sombra e eu ficarei calmo e confiante sob as vossas asas. Acompanhai-me no meu caminho e conduzi-me por atalhos secretos. O sofrimento não me poupará, mas Vós tornar-me-eis faminto dele, como de um alimento indispensável. Ó Maria, Maria! O vosso nome é mel e bálsamo para os meus lábios. Maria, Maria! Ave Maria! Quem vos pode resistir? Quem se perderá com a Ave Maria? Maria ! Maria! Vós sois a Mãe dos pequenos, a saúde dos fracos, a estrela nas tempestades… Ó Maria! Maria! Se estiver sem ajuda, sem coragem, sem consolação, eu corro a vós e grito: Ave Maria! Vós sois o conforto dos escravos, a coragem dos pequenos, a fortaleza dos fracos, Ave Maria! Quando pronuncio o vosso nome, todo o meu coração fica inflamado, Ave maria! Alegria dos Anjos, alimento das almas, Ave Maria!” (cfr. P. Eduardo Poppe).

Sim, ó Maria, conduzi-me pelo rápido atalho da inteira confiança em Deus. Ó vós que sois bem-aventurada por terdes acreditado, aumentai a minha fé, dai-me uma fé firme, inquebrantável, invencível. Devemos à vossa fé o cumprimento das promessas do Senhor; fazei-me participar nessa fé, para que eu creia nEle, nas Suas palavras, nas Suas promessas, nos Seus convites, sem sombra de dúvida, sem hesitação, sem incerteza. A dúvida faz-me parar, a hesitação paralisa-me, a incerteza corta-me as asas… Ó Maria, fazei que eu creia totalmente para que possa dar-me totalmente a Deus, aderindo a todos os Seus planos, aceitando de olhos fechados todas as disposições da divina Providência; fazei que ei creia para que possa desafiar corajosamente a tempestade; fazei que eu creia para que possa abandonar-me plenamente á ação do Senhor e percorrer com confiança o caminho da santidade. Se vós estiverdes comigo, ó Maria, nada recearei; a fortaleza da vossa fé será o sustentáculo e o refúgio da minha, tão débil e tão frouxa.

Intimidade Divina, Meditações Sobre a Vida Interior Para Todos os Dias do Ano, P. Gabriel de Sta M. Madalena O.C.D. 1952.

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