Jesus, Mestre divino, dignai-Vos receber-me na Vossa escola a fim de que, sob a Vossa direção, me possa preparar para o apostolado.
1 – Para uma alma se dar ao apostolado interior nenhuma precaução é necessária, pois quanto mais se consagrar à oração e ao sacrifício, mais útil será ao próximo e, ao mesmo tempo, tirará grande proveito para a sua própria santificação. Com efeito, as armas do apostolado interior coincidem perfeitamente com os exercícios fundamentais da vida espiritual. Não se pode afirmar o mesmo a propósito do apostolado exterior, o qual, por sua natureza, requer cuidados e ocupações diferentes das que dizem respeito ao aproveitamento individual. Uma alma recém-iniciada na vida interior ainda não possui a capacidade requerida para atender simultaneamente à sua santificação e à dos outros; precisa de tempo para concentrar as suas forças sobretudo na própria formação espiritual. De resto, se a eficácia do apostolado depende do grau de amor e de união com Deus a que chegou aquele que o exerce, é evidente que um principiante não será ainda capaz de um apostolado fecundo. Entregar-se antes de tempo à atividade apostólica significa, portanto, dispersar inutilmente as energias, coma consequência de prejudicar a sua vida interior e de não produzir nenhum fruto para os outros. O próprio Jesus, embora não tivesse necessidade nenhum disso porque era Deus, quis dedicar os primeiros trinta anos da Sua vida à oração e ao retiro, dando-nos a entender que é preciso amadurecer o espírito nos exercícios da vida interior antes de nos lançarmos no apostolado exterior. Com os apóstolos sucedeu algo de semelhante: os três anos passados com Jesus foram anos de verdadeira formação. O Senhor instruía-os, admoestava-os, ensinava-os a orar, a praticar a virtude, e só algumas vezes, timidamente, como que para os provar, lhes confiava alguma missão. Depois, antes de os enviar definitivamente à conquista do mundo, quis que temperassem o espírito alimentando-se da Sua Carne, assistindo à Sua Paixão e, por fim, reunindo-se no Cenáculo à espera da vinda do Espírito Santo. E assim, na prática, o catolicismo autêntico exige que os apóstolos, antes de entrarem em campo, se preparem pelo exercício de uma intensa vida interior, a fim de se tornarem instrumentos aptos e fecundos para o bem das almas.
2 – A urgência das obras apostólicas – urgência que hoje se faz sentir cada vez mais premente – não pode justificar uma preparação apressada para o apostolado. De que serviria lançar na peleja um maior número de indivíduos se estes, por falta de formação, fossem incapazes não só de conquistar terreno, mas até de suster o choque das forças inimigas? Não basta entusiasmo e boa vontade, é preciso robustez de vida interior, solidez de ideias e de propósitos, é preciso espírito de sacrifício e união com Deus. Caso contrário, além de ser inútil ao bem alheio, pôr-se-á em perigo a sorte do próprio apóstolo; É necessário prover à urgência do apostolado, intensificando sobretudo a formação das almas que se dedicam a ele, pois só as almas ancoradas em Deus por meio de uma intensa vida interior, poderão conter o ímpeto da atividade externa, por vezes avassalador, vivificando-a coma chama do amor.
“Um homem perfeito – diz S.ta Teresa de Jesus – faz mais do que muitos que o não sejam” (Cam. 3, 5); por isso é de suma importância que os que se dedicam ao apostolado estejam seriamente encaminhados para a perfeição, para a santidade; só assim poderão dar Deus às almas e levar as almas a Deus. Toda a história da Igreja é uma demonstração prática deste princípio: “Um só era S. Paulo e quantos não atraiu… Se todos os cristãos fossem como S. Paulo, quantos mundos poderiam converter!” (S. João Crisóstomo). O Santo Cura d’Ars tinha bem poucos recursos humanos e no entanto converteu um número incontável de almas, justamente por causa da sua santidade, do seu amor, da sua união com Deus.
As imperiosas exigências do apostolado externo requerem, mais do que nunca, apóstolos bem formados, apóstolos de profunda vida interior, apóstolos santos. Ainda que se tenha terminado o período de formação, importa vigiar sempre, a fim de que a atividade externa de maneira nenhuma venha a diminuir a vida interior. É preciso manter sempre o equilíbrio entre a oração e o trabalho, de modo que ao apóstolo não esgote as suas energias espirituais, mas tenha tempo suficiente para se fornecer, para retomar e manter o contato íntimo com Deus.
Colóquio – “Ó Senhor, toda a minha ânsia é que, tendo Vós tantos inimigos e tão poucos amigos, ao menos estes sejam bons. Por isso determino fazer este pouco que posso, isto é, seguir os conselhos evangélicos com toda a perfeição possível e orar pelos defensores da Igreja, pelos pregadores e letrados que a defendem. Ó Senhor, já que eu não valho nada para defender a Vossa Igreja diretamente, quero procurar que ao menos valham as minhas orações para ajudar a estes servos de Deus, que com tanto trabalho se têm fortalecido com letras e santa vida e agora se cansam para defender o Vosso nome.
“Deus meu, quero ser tal que mereça alcançar de Vós estas duas coisas: a primeira, que no grande número dos santos e letrados que defendem a Igreja, haja muitos que tenham as qualidades necessárias, e que as concedais àqueles que ainda as não possuem completamente, pois mais fará um perfeito do que muitos que o não sejam. E a segunda que, depois de lançados neste combate. Vós os segureis com a Vossa mão para que possam livrar-se de tantos perigos como há no mundo e atravessar este mar proceloso com os ouvidos surdos ao canto das sereias. Se junto de Vós, meu Deus, posso alguma coisa nisto, eis que também eu pelejo pela Vossa glória, embora encerrada na clausura.
“Conjuro-Vos, Senhor, que me escuteis. Jamais cessarei de Vos suplicar, e por que sois, esquecei as minhas misérias: trata-se da Vossa glória e do bem da Igreja e para isso convergem todos os meus desejos. Quando as minhas orações, desejos, disciplinas e jejuns não forem empregados no que Vos disse, não cumpro com o fim para que Vós, Senhor, me chamastes à vida contemplativa” (cfr. T.J. Cam. 1, 2; 3, 2-10).
Intimidade Divina, Meditações Sobre a Vida Interior Para Todos os Dias do Ano, P. Gabriel de Sta M. Madalena O.C.D. 1952.
Última atualização do artigo em 8 de março de 2025 por Arsenal Católico