Ensinai-me, Senhor, a agir varonilmente, confiando em Vós.

1 – “O reino dos céus adquire-se à força” (Mt. 11, 12). Não bastam os bons propósitos nem os bons desejos para nos tornarmos santos, é preciso pô-los em prática; e é nesta prática que se encontram as maiores dificuldade perante as quais muitas vezes as almas param desanimadas ou, pelo menos, retrocedem no caminho empreendido. São almas fracas que se assustam coma fadiga, o esforço, a luta; são almas a quem falta, ou pelo menos, escasseia a virtude da fortaleza. Esta virtude é que nos torna capazes de enfrentar e suportar qualquer dificuldade, qualquer dissabor ou sacrifício que possamos encontrar no cumprimento do dever. Dificuldades e sacrifícios que nunca faltarão porque “larga é a porta e espaçoso o caminho que conduz à perdição… estreita é a porta e apertado o caminho que conduz à vida” (Mt. 7, 13 e 14). Portanto, do mesmo modo que seria uma ilusão pretender achar fácil e cômodo o caminho do bem, seria também exercício da virtude da fortaleza. Além, disso, quanto mais uma alma aspira a uma maior perfeição, tanto mais forte e corajosa deve ser, já que serão maiores as dificuldades que terá de enfrentar.

Quando Jesus quis fazer o elogio do Precursor, disse: “Que fostes ver ao deserto? Uma cana agitada pelo vento?” (Mt. 11, 7); não, João Batista não era um fraco, suscetível de ser sacudido pelo vento das dificuldades, mas um forte que, para defender a lei de Deus, não teve receio de incorrer na desgraça do seu rei e soube afrontar o martírio com coragem. Noutra parte, falando da vitória sobre o mal e sobre o demônio, Jesus traçou o elogio do homem forte: “Quando um homem valente, armado, guarda a entrada da sua casa, estão em segurança os bens que possui” (Lc. 11, 21). É a imagem da alma que tem a virtude da fortaleza: está bem armada e nenhuma luta, nenhuma tentação, nenhum obstáculo lhe poderão meter medo; apesar de tudo isso permanecerá segura e tranquila porque vai buscar a sua força ao próprio Deus.

2 – “Sua Majestade – afirma Sta Teresa de Ávila – quer e é amigo de almas corajosas porque caminham em humildade e não têm nenhuma confiança em si mesmas” (Vi. 13, 2). A fortaleza cristã não é temeridade nem presunção das próprias forças, mas baseia-se em Deus e nos grandes dons que Ele outorgou ao homem. Se o homem não é nada por si mesmo, é contudo grande por aquilo que Deus lhe fez e lhe deu, pela dignidade altíssima que lhe conferiu: na ordem natural foi posto à frente do governo do mundo, todas as demais criaturas lhe foram submetidas e ele deve servir-se delas para melhor conhecer e mar a Deus; na ordem sobrenatural recebeu a vocação altíssima de filho de Deus, foi chamado por Ele a participar da Sua vida e da Sua felicidade eternas. Para alcançar esta meta foi-lhe dada a graça, que não é só vida e luz sobrenaturais, mas também força divina, força infundida nele para curar as debilidades da sua natureza, para corroborar a sua vontade e torná-la assim capaz de cumprir todos os deveres inerentes à sua vocação. No batismo, juntamente com as outras virtudes infusas, recebeu a virtude da fortaleza, participação da fortaleza divina, depositada na sua alma como um gérmen capaz de se desenvolver até à perfeição total. O fundamento da fortaleza cristã está, pois, nos dons naturais e sobrenaturais recebidos de Deus, na dignidade altíssima a que o homem foi por Ele elevado. Se somos fracos, não é devido à insuficiência dos dons divinos, mas à nossa insuficiência, porque não fazemos render bastante os talentos da natureza e da graça que o Senhor nos deu. Se, porém, somos fortes, o mérito não é nosso, mas de Deus quer nos tornou tais. O cristão é humilde na sua fortaleza porque sabe que esta não brota de si mesmo como de fonte própria, mas dos dons que Deus lhe deu, e continua sempre dependente de Deus, tanto na consideração do seu nada, como na da sua grandeza, tanto na sua humildade como na sua fortaleza. Eis porque o Senhor, embora amando as almas corajosas, quer vê-las humildes e sempre desconfiadas de si mesmas; por isso o Espírito Santo diz: “Sê forte, fortifique-se o teu coração e espera no Senhor” (Sal. 26, 14).

Colóquio – “Ó Deus eterno, Vós olhastes para a fraqueza da nossa natureza humana e vistes quão débil, frágil e miserável ela é; por isso Vós, supremo Provedor, que provestes de tudo as Vossas criaturas, Vós, Remediador excelente, que a todas as coisas destes remédio, destes-nos a rocha e a fortaleza da vontade para sustentar a debilidade da nossa carne. E esta vontade é tão forte, que nem o demônio nem criatura alguma a pode vencer se nós não quisermos, isto é, se o livre arbítrio, em cujas mãos está posta, não consentir.

“Ó Bondade infinita, e donde vem tanta fortaleza à vontade da Vossa criatura? De Vós, suma e eterna Fortaleza, porque participa da fortaleza da Vossa vontade. Por isso vemos que a nossa vontade é tão forte quando se une à Vossa e tão fraca quando se aparta dela; porque Vós criastes a nossa vontade à semelhança da Vossa, e por conseguinte, estando na Vossa, ela é forte.

“Na nossa vontade, ó Pai eterno, demonstrais a fortaleza da Vossa vontade porque, se a um membro insignificante destes tanta fortaleza, qual não será a Vossa, ó Criador e governador de todas as coisas?

“Parece-me que esta vontade livre, que Vós nos destes, está fortalecida pela luz da fé, porque nesta luz conhece a Vossa vontade, a qual não quer outra coisa senão a nossa santificação. De tal modo que a vontade, fortalecida e alimentada pela santa fé, dá vida às nossas ações e por isso sem obras não pode haver nem vontade verdadeira nem fé viva. A fé nutre e alimenta o fogo da caridade porque descobre à alma o Vosso amor e dileção para conosco e assim a torna forte para Vos amar” (Sta Catarina de Sena).

Intimidade Divina, Meditações Sobre a Vida Interior Para Todos os Dias do Ano, P. Gabriel de Sta M. Madalena O.C.D. 1952.

Última atualização do artigo em 25 de janeiro de 2025 por Arsenal Católico

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