Quando deixareis vós, ó crianças, de amar a vossa infância? (Prov. I, 22).
O livre alvedrio é o dom mais precioso com que Deus enriqueceu o homem, aquela admirável faculdade, com que nos podemos determinar livremente a operar.
A vontade é ilustrada pelo entendimento, que lhe mostra por um lado o que é bom e conforme à razão e ao beneplácito de Deus, para que o eleja, abrace e ame, e por outro o que é mau e contrário à razão e à lei de Deus, para que o evite, odeie e aborreça.
Mas o mal apresenta-se muitas vezes de um modo sedutor e lisonjeiro aos sentidos, obrigando a vontade a travar um combate que se prolonga pela vida inteira. A vida do homem sobre a terra é uma batalha (1).
Quem quiser sair dela vitorioso, deve exercitar constantemente a vontade na prática do bem e procurar adquirir uma liberdade moral cada vez maior.
Há homens de quem se pode dizer que são quase absolutamente falhos de vontade: esses só se resolvem a proceder por impressões sensíveis, pelo que lhes causa prazer ou complacência. Querem e abraçam apenas o que lhes lisonjeia os sentidos.
A semelhante querer não se pode dar o nome de vontade, mas o de instinto dos sentidos; porque a vontade propriamente dita, só se determina a operar depois que o entendimento formou o seu juízo acerca das coisas.
Há outros cuja vontade, muito fraca, só aos pequeninos sacrifícios se abaixa; as coisas difíceis aterram-nos. Andam sempre hesitantes e não conseguem alcançar uma virtude sólida.
A esses alude a Sagrada Escritura, quando diz: Até quando amareis as ninharias de crianças? (2) e em outro lugar: Não sejais como os meninos que vacilam e se deixam arrastar por todos os ventos (3).
Quão digna de compaixão é esta infância moral em muitos homens notáveis pelo talento e faculdades, que ocupam os primeiros postos na sociedade, e que parece sobressaírem aos outros! Que vergonha! Exteriormente apresentam-se altivos, dominadores, inflexíveis; interiormente são escravos de ruins paixões! A própria consciência mostra-lhes a sua miséria, obrigando-se a envergonharem-se da sua covardia.
Sim: não há verdadeira grandeza sem liberdade moral. Jovem cristã, se a bondade divina te deu o livre alvedrio, foi para que usando bem dele, trabalhes por adquirir o domínio sobre as tuas paixões.
Mãos à obra! experimenta uma vez a força admirável da tua vontade livre! Começa pelas coisas pequenas, para acabares pelas de maior vulto.
A cada vitória que alcançares corresponderá um aumento de vigor de vontade, o qual com a graça de Deus conseguirá triunfar de todos os teus inimigos.
A Virgem Prudente, Pensamentos e Conselhos acomodados às Jovens Cristãs, por A. De Doss, S.J. versão de A. Cardoso, 1933.
Última atualização do artigo em 28 de fevereiro de 2025 por Arsenal Católico