O dia 14 de Setembro, dia da Festa da Exaltação da Santa Cruz, comemora a gloriosa reconquista da Santa Cruz das mãos dos Persas.
Chosroes II, Rei da Pérsia, pegara em armas contra o império oriental romano (610), sob o pretexto de querer vingar as crueldades que o imperador Phocas tinha praticado contra o imperador Maurício. Phocas desapareceu e teve por sucessor Heráclio, governador da África. Este fez uma proposta de paz a Chosroes que este rejeitou. Uma cidade após outra caiu em poder dos Persas, sem que Heráclio lhes pudesse tolher os passos. Senhor de Jerusalém, Chosroes praticou as maiores atrocidades contra sacerdotes e religiosos, reduziu à cinza as igrejas, e entre outras preciosidades, levou também a parte do Santo Lenho, que Santa Helena tinha deixado na cidade Santa.
Heráclio pela segunda vez pediu a paz. O rei bárbaro respondeu-lhe com arrogância e orgulho: “Os Romanos não terão paz, enquanto não adorarem o sol, em vez de um homem crucificado”. Vendo assim frustrados todos os esforços, Heráclio pôs toda confiança em Deus e em 622 marchou contra a Pérsia. Vitorioso no primeiro encontro, na Arménia, no ano seguinte o exército cristão conquistou Gaza, queimou o templo, junto com a estátua de Chosroes, que nele se achava. Chosroes foi assassinado pelo próprio filho, com o qual Heráclio celebrou a paz. Uma das primeiras condições desta paz foi a restituição do Santo Lenho, o qual Heráclio levou em triunfo para Constantinopla.
Uma vez livre do jugo dos Persas, Heráclio resolveu fazer a solene trasladação do Santo Lenho para Jerusalém. Na Primavera do ano de 629, com uma grande comitiva, foi à Cidade Santa, levando consigo a preciosa relíquia. Festas extraordinárias prepararam-se na Palestina. Em procissão soleníssima foi levada a Santa Cruz, para ser depositada na igreja do Santo Sepulcro, no monte Calvário. O Imperador tinha reservado para si a honra de a carregar.
Chegada a procissão à porta da cidade que conduz ao Gólgota, Heráclio, como retido por forças invisíveis, não pôde dar mais um passo adiante. O patriarca Zacarias, que se achava ao lado do Imperador, levantou os olhos ao Céu e como por inspiração divina, disse-lhe: “Senhor! Lembrai-vos de que Jesus Cristo era pobre, enquanto vós andais vestido de púrpura; Jesus Cristo levava uma coroa de espinhos, quando na vossa cabeça vejo brilhar uma coroa preciosíssima; Jesus Cristo andava descalço, quando vós usais calçado finíssimo”.
Heráclio com humildade aceitou o aviso do patriarca. Sem demora tirou a coroa, trocou o manto imperial por uma túnica pobre, substituindo o rico calçado por sandálias e, tomando de novo o Santo Lenho, sem dificuldade alguma o levou até a última estação. Lá chegado, todo o povo se acercou da grande relíquia, venerando-a com muita fé. Muitos doentes recuperaram a saúde.
Para todos, o dia 14 de Setembro de 629 foi um dia de triunfo e da mais pura alegria. Deus ainda glorificou-o com muitos milagres.
Pe. João Batista Lehmann in ‘Na Luz Perpétua’ (Editora Lar Católico, 1950)
Fonte: Senza Pagare