A humildade: Fundamento de todo o edifício espiritual

[Detalhe] Fra Angelico, Nossa Senhora com o Menino Jesus [Madonna da Humildade], entre cerca de 1430 e cerca de 1450, Public Domain - Wikimedia Commons

Onde houver humildade, também haverá sabedoria (Prov. XI, 2).

A humildade é o fundamento de todo o edifício espiritual; e quanto mais alto se houver de levantar esse edifício tanto mais fundo se há de abrir o alicerce da humildade.

Sem ela toda a virtude é mera aparência, porque lhe falta a verdade.

A humildade nasce do conhecimento das nossas relações com Deus, com o próximo e conosco.

Que és na presença de Deus? Com tudo o que tens e possuis, és criatura e obra de Deus, que te tirou do nada. Que há pois, em ti que seja propriamente teu?

Absolutamente nada: tudo é de Deus. Como queres, então, gloriar-te do nada?

O próximo também está na mesma relação com Deus: como quer que o consideres, é obra da sua mão, propriedade sua. Por conseguinte és igual a ele; em nada te deves, pois, julgar superior a ele. Mas, supondo ainda que tivesses alguma vantagem sobre o próximo, seria mais uma razão para te humilhares, visto que a quem mais recebeu, mais lhe será pedido.

Se voltas os olhos para dentro de ti mesma, quantos motivos encontras para te humilhares.

Quem és tu? Enquanto ao corpo uma criatura vil, que não tardará em se converter em pasto dos vermes! Enquanto à alma, quanta ignorância no entendimento, quanta fraqueza na vontade! Que fizeste desde que viste ao mundo? Quantas obras que reputas boas subsistirão na presença de Deus, que tudo sabe? E se consideras os teus pecados, quantas vezes não foi o céu testemunha da tua ignomínia? Mas, ainda que só uma vez tivesses ofendido a majestade divina, não bastaria já para te considerares o último de entre os homens?

Já vês quão genuína e sólida é a virtude da humildade, que repousa na base eterna da verdade.

Considera pois, coma tenção e convence-te profundamente de que nada és, e nada podes por ti mesma, e logo repetirás com todo o coração as palavras do Salmista: Não a nós, não a nós, Senhor, mas ao vosso santo nome sejam dadas honra e glória (1).

Quão falsa e desprezível te parecerá então a complacência própria, e quão injustos os louvores dos homens? Brotará no teu coração um santo aborrecimento de ti mesma, e uma sede e desejo ardente de desprezos e humilhações; este há de ser o princípio da tua semelhança com Jesus, o qual escolheu os tormentos, desprezando a ignomínia, e está assentado à direita do trono de Deus (2).

A humildade diz muito bem nas jovens.

Torna-as amáveis; é a mãe da simplicidade, da candura e da modéstia.

Conserva-as puras; porque a jovem humilde desconfiando de si, foge dos perigos e reza com fervor. Pelo contrário, a soberba precede a ruína (3), e continua pelo caminho que leva ao abismo da maldade.

A humildade dá grandeza de ânimo, porque não é limitada pelo amor próprio, e nem teme as censuras, nem busca os louvores dos homens. Tem sempre os olhos em Deus, e apoiando-se na sua virtude divina tem ousadia para os maiores sacrifícios, que está sempre disposta a praticar!

Não há contratempo que lhe roube a felicidade, porque nunca se julga injustamente tratada, nem a apavoram as contradições que lhe sobrevêm. Espera e confia; alegra-se em poder contribuir com a sua humilhação para a honra de Deus. Sofre resignadamente todas as contrariedades, e beija paciente a mão que a fere, porque nela reconhece a mão do Pai amantíssimo, sapientíssimo e justíssimo.

Mas, não julgues que a humildade se alcança só com a consideração das suas excelência. Não: obtém-se principalmente coma prática.

Põe de parte toda a afetação de vestir, nos modos, e no falar; procura antes a naturalidade, a simplicidade e a verdade.

Resiste aos pensamentos e desejos lisonjeiros; não fales nunca de ti, não procures os louvores, nem te deixes perturbar pelo vitupério.

Sê paciente nas injúrias, e não exageres a importância das ofensas que te fizerem.

Procura em tudo a honra de Deus e considera como roubo sacrílego cingires a cabeça com os louros da glória que pertence ao Senhor (4).

Pede a Deus na oração que te dê a humildade, essa virtude que em Maria Santíssima fez a admiração do céu e que lhe valeu como recompensa, a mais excelsa dignidade que jamais pode ser concedida a um mortal.

Mas sobretudo aprende esta virtude de Jesus que nos manda expressamente que o imitemos nela, quando diz: Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração (5).

A Virgem Prudente, Pensamentos e Conselhos acomodados às Jovens Cristãs, por A. De Doss, S.J. versão de A. Cardoso, 1933.

(1) Salm. CXIII, 9.
(2) Hebr. XII, 2.
(3) Prov. XVI, 18.
(4) Tim. I, 17.
(5) Mat. XI, 29.

Última atualização do artigo em 9 de março de 2025 por Arsenal Católico

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