A Igreja Invencível
A Santa Madre Igreja está entrada no vigésimo século de existência. Mil e novecentos anos de vida! Será interessante passarmos um olhar pela sua história, para vermos como tem vivido. A história do seu passado nos ensinará a confiar no seu futuro. Porque nós a veremos sempre vencedora, embora a encontremos quase sempre perseguida e combatida.
Advertência de Cristo
Jesus Cristo avisou aos seus discípulos que eles iriam ser perseguidos e odiados. “Não é o discípulo mais do que o Mestre. Se a mim eles perseguiram, também vos perseguirão a vós” (ver Jo 15, 18-20). Esclareceu mesmo em que consistiria essa perseguição: seriam presos, denunciados pelos próprios pais e irmãos, e seriam mortos (ver Lc. 21, 12-19). A caminho do calvário, Nosso Senhor anunciou de novo os grandes sofrimentos, comparando-os com os seus, dizendo: “Se com o lenho verde se faz isto, que se fará no seco” (Lc. 23, 31).
Mas Jesus também lhes disse que não tivessem medo: “Haveis de ter aflições no mundo, mas tende confiança, eu venci o mundo” (Jo 16, 33). E na promessa a São Pedro, Jesus garantiu claramente que a Igreja venceria sempre todos os combates dos seus inimigos: “E as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16, 18).
Ainda no berço
Bem cedo começaram as perseguições. Por causa das pregações e dos milagres que faziam, os Apóstolos começaram a ser presos (ver At 4, 3; 5, 18 e 26) e açoitados (id. 5, 40). Não tardou em começarem as mortes: Santo Estevão foi o primeiro mártir – apedrejado pelos judeus (ver At 7, 54-59). Pouco depois, a perseguição se tornou geral, a ponto de os cristãos serem obrigados a sair de Jerusalém (id. 8, 1-3). Os Apóstolos foram todos martirizados.
As perseguições romanas
São célebres as grandes perseguições que os cristãos sofreram por parte dos imperadores romanos. Começaram no ano 64, com o imperador Nero, e foram até ao ano 304, com o imperador Diocleciano. Durante esses 240 anos, os cristãos tiveram apenas uns poucos tempos de tranquilidade.
É incrível o que eles sofreram. Perseguidos, presos, açoitados, eram umas vezes entregues às feras para ser devorados vivos; outras vezes, martirizados de modo horrível; atados aos postes, eram queimados para iluminar os jardins. Só de uma vez mataram 6000 soldados da Legião Tebana. Calcula-se em cerca de 12 milhões o número dos cristãos martirizados nos três primeiros séculos.
Finalmente, no começo do século IV, Constantino Magno deu liberdade à Igreja.
Através dos séculos
Em todos os tempos, a Igreja continuou a ser perseguida. Os imperadores e reis, mesmo os católicos, quiseram usurpar o poder do Papa e governar os Bispos. Os que não eram católicos prendiam, matavam, exilavam os Bispos e os sacerdotes. “Cento e setenta e uma vezes foram os Papas, ou destronados, ou exilados ou assassinados” (Junglas).
As leis civis ora consideram a Religião um crime, ora proíbem o ensino da religião, ora confiscam os bens eclesiásticos, ora separam a Igreja do Estado, ora negam direitos civis aos religiosos. Em todo o mundo, a Igreja tem sido perseguida.
Nos últimos tempos, as perseguições na Rússia, no México, na Espanha e na Alemanha têm sido as mais duras. Porém, mesmo em outros países, a perseguição existe com outro aspecto.
No Brasil, tivemos a perseguição do Marquês de Pombal, a Questão Religiosa, a perseguição liberal da república, sendo que esta ainda continua em grande parte.
As heresias
Além do ataque do poder civil, a Igreja padeceu a perseguição das heresias. Os hereges combatem a doutrina da Igreja, misturando erros nesta doutrina. Desde o começo, houve heresias. Negam as verdades da fé, ou as explicam de modo diferente.
Esta perseguição é ainda pior do que matar os cristãos. Houve heresias que tiraram um número enorme de fiéis à Igreja. Por exemplo: o protestantismo, o arianismo, e outras.
É também mais doloroso este modo de fazer mal à Igreja, porque são os seus próprios filhos que se levantam contra ela.
Em nome da ciência
Também a Igreja tem sido perseguida em nome da ciência. Mas esta não é a verdadeira ciência, e sim uma ciência falsa. Dizem que a Igreja é inimiga da ciência; que ela tira a liberdade de pensar porque obriga a crer nos dogmas; que ela é atrasada e amiga da ignorância. Por isso a combatem, negam os seus dogmas, não aceitam a sua autoridade.
E há muita gente que se deixa levar por essas alegações. São pessoas ignorantes, que não compreendem os erros e as tolices dos falsos sábios. Mas a verdade é que a Igreja padece com isto, vendo os seus filhos se afastarem dela.
Dos próprios filhos
A Igreja padece ainda mais, talvez, com o procedimento incorreto de alguns dos seus filhos. O mau exemplo dos católicos faz com que muitos se afastem e outros não se aproximem da Igreja. Ainda pior, quando este mau exemplo é dado por um sacerdote ou um Bispo. Tem-se dado o caso de mesmo o Papa não ter tido uma vida edificante.
A Igreja não tem nada a ver com a vida particular deste ou daquele. Nós somos maus não é por causa da Igreja, mas porque agimos contra a Igreja. A questão, porém, é que isto faz sofrer a Igreja. E não há dúvida de que isto é muito pior para ela do que as perseguições de fora.
A grande vitória
Mas, apesar de todas essas perseguições, a Igreja continua a viver sempre triunfante. O que é ainda mais notável é que as perseguições servem para renovar a vida da Igreja. Foi assim desde o começo; ainda hoje continua a ser assim. Os homens querem fazer o mal; mas Cristo faz com que este mal se converta em bem.
A perseguição dos cristãos em Jerusalém fez com que eles se espalhassem, e assim propagassem a doutrina do Evangelho (ver At 8, 4).
As perseguições romanas despertaram em muitas almas o desejo de ser cristãs. Por ocasião dos martírios, muitos pagãos se convertiam, vendo a coragem ou os milagres dos mártires. Tertuliano disse que “o sangue dos mártires é uma semente de cristãos”.
Por toda parte, quando a Igreja é perseguida, os católicos se tornam melhores, mais corajosos e fervorosos. Mesmo que alguns apostatem, a qualidade melhora. É o que vemos agora na Alemanha, no México, na Espanha. Foi o que se viu no Brasil, por ocasião da prisão de D. Vital e D. Macedo Costa (Questão Religiosa).
As heresias serviram para fazer estudar melhor a Religião, e firmar ainda mais a fé.
O ataque da falsa ciência desenvolveu nos católicos o estudo da verdadeira ciência, e isto trouxe grande força à Igreja, principalmente no século passado.
Mesmo os escândalos servem. Eles mostram bem clara a distinção que se deve fazer entre a Igreja e os católicos. Ela é divina; os católicos são homens. Os defeitos são nossos, os erros são nossos, os pecados são nossos. Ela nada tem que ver com isto. A mãe, que procurar educar bem seu filho, tem culpa, se ele não lhe segue os conselhos?
Assim, a Igreja nos aparece com o esplendor da sua instituição divina, embora esteja entregue às mãos dos homens.
Não prevalecerão…
Os inimigos lutarão em vão, como têm lutado até agora. A Igreja já venceu as lutas contínuas de 19 séculos, e vencerá até ao fim, “até à consumação dos séculos”. Jesus, que venceu o mundo, prometeu que “as portas do inferno não prevalecerão contra ela”.
Alguns inimigos marcaram o tempo para a morte da Igreja. Voltaire disse que, dentro de 50 anos, ela teria desaparecido. Foi ele que desapareceu…
Alguns católicos temem, quando vêem a Igreja perseguida. Não temam, ela será sempre perseguida. Lembrem-se das palavras de Jesus: “Se a mim perseguiram, também vos perseguirão”. Mas se lembrem também de que ela será sempre vitoriosa.
Quando a tempestade for grande, chamemos pelo Mestre, que é o barqueiro invisível, o condutor divino da Igreja. Como na tempestade de Tibérias, basta uma palavra Sua para a vitória (ver Mc 4, 35-40).
Cristo prometeu. A Sua palavra é divina, e não pode falhar: “As portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16, 18).
Para viver a doutrina
A história aumenta a nossa confiança na Igreja. Agradeçamos, cada dia, a Nosso Senhor a graça de ser católicos. E despertemos em nós o entusiasmo pela Igreja. É uma pena vermos os profanos mais ardorosos pelos seus partidos políticos ou seus clubes esportivos, do que nós pela Santa Madre Igreja.
Os tempos não nos trouxeram ainda a perseguição física, como para os mexicanos, espanhóis, alemães e russos. Porém há outra perseguição, que padecemos. Precisamos reagir. Precisamos defender a Igreja e as almas. Foi para isto que se intensificou a Ação Católica. Todo bom católico deve pertencer à Ação Católica. É um dever.
Na Ação Católica, melhoramos a nossa vida cristã e cuidamos da salvação do próximo. Cuidando da nossa vida, evitamos o nosso mau exemplo, que faz tanto mal à Igreja. Cuidando do próximo, intensificamos a vida católica e aumentamos as forças cristãs.
Quando os Apóstolos viram a tempestade forte, gritaram a Jesus: “Senhor, salvai-nos, que perecemos” (Mt 8, 25). É preciso rezar pela Igreja, principalmente nos momentos mais difíceis e perigosos. As orações depois da Santa Missa (3 Ave Marias, etc.) são rezadas “pela liberdade e exaltação da Santa Madre Igreja”. No Cânon da Santa Missa rezamos também pela Igreja e por seus chefes. Mas é preciso rezar mais pela Igreja.
Devemos ser apegados à Igreja, e não às pessoas da Igreja. As pessoas passam, a Igreja é perene. Mesmo que as pessoas caiam, a Igreja fica de pé. Mesmo que as pessoas sejam vencidas, a Igreja será sempre invencível. Assim evitaremos que a nossa fé se enfraqueça, porque este ou aquele fraquejou. Mesmo que os escândalos apareçam (Nosso Senhor disse que é preciso haver escândalos – ver Mt 18, 7), nós não diminuiremos a nossa fé, porque ela posta é na Igreja, que é divina, e não nos homens que são pecadores.
Devemos rezar, em particular, pelos pastores da Igreja, para que edifiquem os fiéis tanto pela doutrina que ensinam como pelos exemplos que dão.
A Doutrina Viva – Catecismo do Pe. Álvaro Negromonte, Editora Vozes, 1939.
Última atualização do artigo em 10 de abril de 2025 por Arsenal Católico