Ó Jesus, imolado pela minha salvação, fazei que eu seja digno de me imolar conVosco pela salvação dos meus irmãos.
1 – A oração apostólica deve ser acompanhada do sacrifício, à semelhança da oração que Jesus dirigiu por nos ao Pai no jardim das Oliveiras e sobre a cruz. O amor deve estimular as almas orantes “ao sacrifício ativo que não sossega na oração enquanto a pena e o sofrimento não chegarem ao limite das suas forças. Nesse momento, consumidas pelo ardor da caridade e pela veemência do desejo, elas já não serão orantes, mas orações vivas” (Pio XII, 17-1-43). Oração e sacrifício estão intimamente unidos porque brotam duma chama única: o amor que impele à oração e á imolação pela glória de Deus e pela salvação das almas. Vida contemplativa é, portanto, sinônimo de vida austera e penitente, a ponto de se tornar um contínuo “sacrifício de louvor”. Quanto mais a oração for alimentada e impregnada de sacrifício tanto mais será eficaz, e atingirá a sua máxima eficácia quando o sacrifício atingir o seu ponto culminante.
Toda a alma contemplativa deve “ser um digno altar onde possa residir a Divina Majestade” (cfr. J.C. S. I, 5, 7), altar no qual se eleva a oração e sobre o qual se imola o sacrifício. O apostolado de Jesus culminou e consumou-se no aniquilamento da morte na cruz e por meio dela: só depois de ter sido flagelado, trespassado pelos cravos, abandonado por Deus e pelos homens, o Salvador pôde dizer: “Consummatum est”, tudo está consumado (Jo. 19, 30). O mesmo nos sucederá a nós; somente quando nos tivermos deveras sacrificado pelas almas, somente quando tivermos aceitado imolar-nos totalmente com Jesus pela sua salvação, é que poderemos repetir com Ele: tudo está consumado. A nossa participação no apostolado de Jesus encontra a sua realização no sacrifício de nós próprios: sacrifício não imaginário nem hipotético, mas real e concreto, cuja forma e medida nos é indicada por Deus através das circunstâncias da vida, de tudo o que a Sua divina Providência permite, das disposições dos superiores e dos deveres do nosso estado. Quando uma alma está disposta a viver num contínuo sacrifício da própria vontade pela salvação das almas, na renúncia de si mesma, quando está disposta a deixar-se crucificar de qualquer modo pela santa vontade de Deus para conquistar outras almas para o Seu amor, então chega ao vértice do apostolado e, portanto, ao vértice da fecundidade apostólica.
2 – Muitos não se salvam por não haver quem reze e se sacrifique por eles. Sem as lágrimas e os sofrimentos de Mônica, muito provavelmente a Igreja não teria tido S.to Agostinho. Benditas as almas que fazem da imolação apostólica a razão de ser e o fim da sua vida. “Minhas irmãs em Cristo – escreve S.ta Teresa de Jesus às suas filhas – ajudai-me a suplicar ao Senhor esta graça [a salvação das almas]. Foi para isto que Ele vos juntou aqui: esta é a vossa vocação, estes hão de ser os vossos negócios e os vossos desejos, este há de ser o motivo das vossas lágrimas, das vossas orações… E quando as vossas orações, desejos, disciplinas e jejuns não se empregarem nisto, pensai que não cumpris o fim para que o Senhor vos juntou aqui” (Cam. 1, 5; 3, 10). Os contemplativos e as contemplativas, não tendo encargos de apostolado exterior, estão estritamente obrigados a concentrar todas as suas forças na oração e no sacrifício, pois só assim corresponderão ás grandes esperanças que a Igreja põe neles e realizarão a sua vocação. Através das penitências que provêm da vida comum e da observância de uma vida austera, humilde, em tudo sujeita à obediência e privada de toda a satisfação humana, eles são chamados, de um modo especial, a completar generosamente na sua carne o que falta à Paixão de Cristo, em favor do Seu Corpo místico que é a Igreja (cfr. Const. Apost. Sponsa Christi).
“Vim ao Carmelo para salvar as almas”, declara S.ta Teresa do Menino Jesus (M.A. pg. 178); e depois de ter oferecido e consumido para tal fim as suas energias, até as orações que se faziam para lhe alcançar um pouco de alívio, durante a sua última doença, oferecia pelos pecadores.
Mas se os contemplativos devem ser os “especialistas” do apostolado do sacrifício, este não pode nem deve faltar, embora de uma forma diversa, na vida de todo o apóstolo. Assim como Jesus comprou as nossas almas pelo preço do Seu Sangue, também aquele que quiser colaborar com Ele na salvação da humanidade deve estar disposto a juntar ao Sangue preciosíssimo de Cristo algumas gotas do próprio sangue. As almas custam caro, e o apóstolo há de pagar à sua custa aqueles que pretende conquistar. O apostolado será verdadeiro e fecundo na medida em que estiver impregnado de sofrimentos e em que for fruto de imolação.
Intimidade Divina, Meditações Sobre a Vida Interior Para Todos os Dias do Ano, P. Gabriel de Sta M. Madalena O.C.D. 1952.
Última atualização do artigo em 8 de março de 2025 por Arsenal Católico