Guarda a tua boca com portas e fechaduras (Ecl. XXVIII, 28).
Quão poucos são os homens que refreiam a língua e não pecam por palavra!
Na verdade, o apóstolo tem razão quando diz: O varão perfeito não peca por palavra (1). Se a falta de caridade ás vezes nasce de um espírito rude por natureza, ordinariamente tem a sua origem no orgulho oculto que nos leva a falar do próximo com menos caridade.
Muitas vezes apodera-se até da língua o ódio, a inveja e o amor próprio ofendido.
Examina atentamente na presença de Deus, quais são os motivos secretos das tuas conversas e juízos acerca do próximo.
Porque estás sempre pronta para falar dos pecados e defeitos alheios? Porque atribuis má intenção às obras do próximo, e porque deprecias as suas boas qualidades?
Donde procedem as suspeitas, juízos temerários, murmurações e calúnias? Donde aquela dureza e insinuação, cheias de veneno?
Aqui tens uma fonte abundante de conhecimento próprio: as tuas palavras revelam o que vai dentro do teu coração.
Como cumprimos o mandamento principal: amarás ao próximo como a ti mesmo? Qualquer palavrinha que fira o teu amor próprio, causa-te uma funda impressão: mas tu não reparas em falar dos outros.
Contudo o que não desejas para ti, não deves querê-lo para o próximo.
O detrator é a abominação dos homens (2), e o que secretamente fere a reputação do próximo, é como a víbora que se deleita em morder em silêncio (3).
Basta uma faísca para propagar um pavoroso incêndio; basta uma palavra inconsiderada contra o próximo, para provocar um sem número de desvios, ódios e inimizades entre os membros da mesma família, entre amigos e conhecidos.
E quem poderá reparar os prejuízos que causa a má língua? Jamais poderás deter a palavra que partiu da tua boca como um dardo, para ir ferir o bom nome do teu irmão. Poderás desdizer-te; mas, nunca lograrás desvanecer totalmente a má impressão que ela causou.
Filhos dos homens! Os vossos dentes são como lanças e dardos, e a vossa língua como espada cortante (4).
Senhor, só Vós sabeis quão incuráveis são de ordinário as feridas causadas pela língua peçonhenta (5). Ponde uma guarda à minha boca, e aos meus lábios uma porta que os feche. Não permitais que o meu coração deslize em palavras de maldade (6).
Rodeai de espinhos os meus ouvidos (7), para que não entrem neles más palavras.
Dai-me força para fazer calar imediatamente com um olhar carregado e grave a má língua, porque assim se dissipará a calúnia, como as nuvens com o vento norte.
Se estiveres resolvida a defender em toda a parte o bom nome do próximo, conquistarás a amizade e confiança de todos, e merecerás ser chamada à boca cheia, filha de Deus. Bem-aventurados os pacíficos, porque eles serão chamados filhos de Deus (8).
A Virgem Prudente, Pensamentos e Conselhos acomodados às Jovens Cristãs, por A. De Doss, S.J. versão de A. Cardoso, 1933.
(1) Sant. III, 2.
(2) Prov. XXIV, 9.
(3) Ecl. X, 11.
(4) Salm. LVI, 5.
(5) Salm. CXL, 3-4.
(6) Ecl. XXVIII, 28.
(7) Prov. XXV, 23.
(8) Mat. V, 9.
Última atualização do artigo em 24 de janeiro de 2025 por Arsenal Católico