Pickersgill, Frederick Richard (b, 1820) - Mulher Orando (Rosário)

Ó Jesus, manso e humilde de coração, fazei o meu coração semelhante ao Vosso.

1 – Como pela temperança o homem se torna senhor de si mesmo refreando as paixões da concupiscência, assim, pela mansidão, adquire o domínio próprio e refreia os ímpetos da ira e da cólera. Esta virtude é de grande valor porque assegura à alma a paz interior, tão necessária para atender com igualdade a todos os deveres para com Deus e para com o próximo. A alma agitada por sentimentos de ira é incapaz de ver as coisas, como elas são, de formular juízos desapaixonados, de tonar decisões equilibradas, de conter a suas palavras e os seus atos dentro dos limites da cortesia e da gentileza. A sua maneira de agir é incorreta, desordenada e muitas vezes injusta, ocasiona sensaborias aos outros, arrefecendo a caridade e destruindo a harmonia das boas relações. A irascibilidade não contida perturba o espírito, impede-o de compreender a vontade de Deus, fá-lo desviar da linha do dever e seguir os impulsos da paixão. O papel da mansidão é precisamente moderar e pacificar todos estes movimentos passionais, tornando a alma senhora de si mesma, capaz de se manter calma mesmo em circunstâncias difíceis e irritantes. “Sejamos muito mansos para com todos – exorta-nos S. Francisco de Sales – e tenhamos o máximo cuidado para que o nosso coração não nos fuja das mãos; ponhamo-lo por isso todas as manhãs numa atitude de humildade, doçura e tranquilidade. A perfeita igualdade de espírito, a doçura e a suavidade inalterável de coração, são virtudes mais raras do que a perfeita castidade e são sumamente desejáveis”. Para defendermos o nosso coração dos movimentos da ira devemos estar prontos a refreá-los no momento em que despertam porque se os secundamos um pouco logo se tornam muito violentos e ser-nos-ão depois muito difíceis de vencer. A fidelidade constante em reprimir qualquer movimento de cólera levar-nos-á, pouco a pouco, a saborear o doce fruto da mansidão: “Os mansos possuirão a terra e deleitar-se-ão na abundância da paz” (Sal. 36, 11).

2 – A mansidão é particularmente importante para o desenvolvimento da vida de oração e de união com Deus. Como poderá atender ao recolhimento e ao colóquio íntimo com o Senhor, a alma agitada pelo vento da ira? Em vão procurará aplicar-se à oração: o seu espírito e o seu coração fugir-lhe-ão, seguindo os fantasmas provocados pela paixão. Aliás “non in commotione Dominus” (III Re. 19, 11), Deus não Se deixa encontrar nem Se manifesta no meio do barulho e da excitação, mas só na paz e na calma interiores. Quando a alma, embora ligeiramente, é sacudida por sentimentos de ira, não se pode aperceber das suaves moções da graça nem do leve murmúrio das inspirações divinas: o tumulto da paixão não dominada impede-a de prestar ouvidos ao Mestre interior e deste modo, perdendo o seu guia, já não age segundo o beneplácito divino, mas deixa-se levar pelos seus impulsos caprichosos que lhe farão continuamente cometer faltas.

Uma alma de vida interior sabe muito bem que tudo quanto acontece – mesmo as circunstâncias mais difíceis – é permitido por Deus para a sua santificação; todavia, quando se desencadeia a ira, este pensamento desvanece-se completamente e ela já não vê mais que as criaturas ou as coisas que a feriram e contra as quais quer reagir. Se queremos que a nossa vida permaneça sempre sob o governo do Espírito Santo, que as nossas ações sejam sempre movidas pela graça e conformes à vontade de Deus, nunca devemos condescender, nem sequer sob o pretexto de bem, com os movimentos da ira. Nestes momentos é necessário ter energia para suspender todo o juízo e ação, esforçando-nos antes por restabelecer no nosso coração a paz indispensável para podermos julgar as coisas à luz de Deus.

O Senhor ensina aos mansos os Seus caminhos, porque só a alma que impôs silêncio aos ressentimentos da ira e aos ímpetos da cólera está em condições de ser ensinada por Deus, de escutar e seguir a Sua voz.

Colóquio – “Ó Jesus, Cordeiro mansíssimo, que sendo amaldiçoado não amaldiçoastes, sendo injuriado não ameaçastes, recebendo grandíssimos desprezos respondestes com divina doçura ou calastes com admirável silêncio, ajudai-me para que, a Vosso exemplo, vença a ira, reprima a cólera, abrace a mansidão e, armado de paciência, sofra de bom grado qualquer trabalho a fim de chegar a gozar conVosco o descanso eterno” (Ven. Luís da Ponte).

“Ó Senhor, com a Vossa ajuda quero fazer um exercício particular de doçura e de resignação à Vossa vontade, não tanto nas coisas extraordinárias como nos acontecimentos e contrariedades de cada dia.

“Quando me aperceber de que a ira se inflama em mim, concentrarei as minhas forças não impetuosamente, mas com suavidade, não violentamente, mas com doçura, e procurarei estabelecer o meu coração na paz. Mas, sabendo bem que nada poderei fazer sozinho, serei diligente, meu Deus, em invocar o Vosso auxílio, como outrora o invocaram os Apóstolos atormentados pela tempestade e sacudidos pelas ondas do mar encapelado. Permitireis acaso, ó Senhor, que Vos invoque em vão? Dignai-Vos nesses instantes vir em meu socorro, dignai-Vos ordenar às paixões que cessem, levantai a Vossa mão para me abençoar e seguir-se-á uma grande bonança. Ensinai-me a ser manso para com todos, mesmo para com aqueles que me ofendem ou me são contrários, e até para comigo próprio, não indispondo por causa das minhas recaídas e defeitos. Quando, apesar dos meus esforços, me encontrar por terra, repreender-me-ei docemente: ‘Vamos! meu pobre coração – direi – eis-nos de novo caídos na vala que tantas vezes tínhamos proposto evitar. Levantemo-nos agora e deixemo-la de uma vez para sempre. Recorramos à misericórdia de Deus, esperemos nela e ela nos ajudará’. Deste modo, ó Senhor, confiando em Vós, recomeçarei de novo, seguindo o caminho da humildade e da mansidão” (cfr. S. Francisco de Sales).

Intimidade Divina, Meditações Sobre a Vida Interior Para Todos os Dias do Ano, P. Gabriel de Sta M. Madalena O.C.D. 1952.

Última atualização do artigo em 25 de janeiro de 2025 por Arsenal Católico

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