Nossa Senhora da Misericórdia e Santos Sebastião e Bernardo de Siena, por Luca Signorelli, por volta de 1490, Museu Diocesano d'Arte Sacra - Public Domain - Wikimedia Commons

Ó Maria, já que sois verdadeiramente minha Mãe, fazei que eu seja vosso verdadeiro filho, digno de vós.

1 – Dando o seu consentimento para ser a Mãe do Filho de Deus, Maria unia-se por um vínculo estreitíssimo, não só com a pessoa, mas também com a obra de Jesus. Sabia que o Salvador viria ao mundo para remir o gênero humano; por isso, aceitando ser Sua Mãe, aceitava também tornar-se a mais íntima colaboradora da Sua missão. Efetivamente Maria, dando-nos Jesus, fonte de graça, colaborou do modo mais direto na difusão da graça nas nossas almas. “Se Jesus foi o Pai das nossas almas – diz Sto Antônio – Maria foi a Mãe, porque dando-nos Jesus, deu-nos a verdadeira vida, e oferecendo depois no Calvário a vida do Filho pela nossa salvação, gerou-nos para a vida da divina graça”.

Como uma mulher – Eva – tinha colaborado na perda da graça, assim por harmoniosa disposição da divina Providência, uma outra mulher – Maria – devia colaborar na restituição da graça. É verdade que a vida da graça nos vem de Jesus que é a sua única fonte e o único Salvador; mas como foi Maria que O deu ao mundo, e como está intimamente associada a toda a vida e a toda a obra de Jesus, pode bem dizer-se que a graça nos vem também de Maria. Se Jesus é a fonte e a nascente da graça, Maria, como gosta de dizer S. Bernardo, é o canal, o aqueduto que a conduz até nós. Como Jesus quis vir a nós por meio de Maria, assim toda a graça, toda a vida sobrenatural chega até nós por meio de Maria. “Esta é a vontade dAquele que determinou que tenhamos tudo por meio de Maria” (S. Bernardo). Tudo o que Jesus nos mereceu em sentido próprio, de direito, Maria mereceu-o secundariamente por mérito de conveniência. Nossa Senhora é, pois, verdadeiramente, nossa Mãe: juntamente com Jesus gerou-nos para a vida da graça e com toda a verdade podemos saudá-la: “Salve Rainha, Mãe de Misericórdia, vida, doçura, esperança nossa, salve!”.

2 – Desde o momento em que se tornou a Mãe do Salvador, Maria Santíssima amou-nos tanto – diz S. Bernardino de Sena – e tanto se dedicou a cuidar da nossa salvação que “desde então nos trouxe no seu seio como amorosíssima Mãe”. Mas como a obra redentora de Jesus, iniciada na Incarnação, culminou sobre o Calvário, onde, com a Sua morte, nos mereceu a graça, assim a maternidade de Maria a nosso respeito devia realizar-se aos pés da cruz. Enquanto Jesus morria nos mais atrozes tormentos, o Seu coração amorosíssimo preparava-nos um dom entre todos verdadeiramente excelente. Aqui na terra Ele não possuía nada de mais caro do que a Sua Mãe, e esta Mãe quis deixar-no-la como preciosíssima herança: “Eis a tua Mãe” (Jo. 19, 27), disse a João; e ao dá-la ao apóstolo, que naquele momento representava a humanidade inteira, as palavras de Jesus eram a expressão da grande realidade que tivera início desde o primeiro instante da Sua incarnação no seio da Virgem e que agora se cumpria ali junto á cruz: a maternidade espiritual de Maria a nosso respeito. De fato, nesse momento, juntamente com Jesus, Nossa Senhora salvava as nossas almas, oferecendo por elas a vítima divina que era sua, pois era seu filho. Com esta oferta Maria alcançou-nos a vida da graça, é portanto verdadeiramente a mulher que, na ordem sobrenatural, nos dá a vida: é a nossa Mãe.

“Deus amou tanto o mundo que lhe deu o Seu Filho Unigênito para sua salvação”, diz o Evangelho (cfr. Jo. 3, 16); e da mesma forma declara S. Boaventura: “pode dizer-se que Maria amou tanto o mundo que lhe deu o seu unigênito para que, por Ele, todos tenham a vida eterna”. Eis a que preço Nossa Senhora se tornou nossa Mãe e nós nos tornamos seus filhos. E Ela, que nos gerou por tão alto preço, deseja que vivamos como seus verdadeiros filhos, dignos da vida da graça que jorrou do peito aberto do seu Jesus e do seu coração maternal trespassado pela espada da dor.

Colóquio – “Ó confiança bem-aventurada, ó refúgio seguro; vós, Mãe de Deus, sois minha Mãe! Como não hei de ter esperança quando a minha salvação e a minha santidade estão nas mãos de Jesus, meu irmão e de Maria, minha Mãe?” (cfr. Sto Anselmo).

“Ó Maria, portadora do fogo, ó Maria, portadora da misericórdia! Maria, sois corredentora do gênero humano porque revestistes o Verbo com a vossa carne, e assim foi resgatado o mundo. Cristo resgatou-o com a Sua Paixão e vós com a vossa dor do corpo e do espírito” (Sta Catarina de Sena).

“ó Maria, vós sois aquele jardim fechado no qual está encerrado o Dador do ser; em vós está o próprio Deus, todo o céu e todas as criaturas. Mediante o sangue recebido de vós foi salvo todo o mundo. Se não fôsseis vós, ó Maria, para mim não haveria paraíso; se não fôsseis vós, para mim não haveria Deus…

“Ó Maria, quantos são os dons e as graças que quereis dar às criaturas! E quem não desejaria receber tais dons? Mas falta a perseverança em querê-los e vós, Mãe amorosa, não concedeis dons aos vossos filhos quando vedes que os teriam em pouca conta e os deitariam fora porque sabeis que deveríeis depois dar-lhes o castigo merecido. Ó Maria, quereis dar-me os vossos dons, mas privo-me deles porque quero misturar os meus dons com os vossos. Quereria as vossas graças, mas, ao mesmo tempo, quero a minha vontade e deste modo não as posso receber. Quereria a vossa benevolência, mas, ao mesmo tempo, quero o amor e a particular benevolência das criaturas e não pode ser assim. Quereria o vosso amor junto com o meu, mas assim não o posso ter. Quereria habitar debaixo do vosso manto e também sob o manto do meu comodismo… Mas, como disse o vosso Filho, não é justo que haja membros delicados sob uma cabeça coroada de espinhos. Também não é justo que os filhos estejam com as suas comodidades debaixo do vosso manto, ó Mãe dulcíssima, que tanto vos desprezastes a vós mesma.

“Ó Maria, que vos poderei eu dar e oferecer que vos seja agradável? Se vos ofereço a minha vontade, receio que não vos agrade, porque não está conforme ao querer divino. Se vos ofereço a inteligência, não está iluminada; se vos ofereço o afeto, não é puro. Ofereço-vos o Coração do vosso Unigênito e maior dom não vos posso oferecer” (Sta M. Madalena de Pazzi).

Intimidade Divina, Meditações Sobre a Vida Interior Para Todos os Dias do Ano, P. Gabriel de Sta M. Madalena O.C.D. 1952.

Última atualização do artigo em 30 de março de 2025 por Arsenal Católico

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