A ociosidade ensina muita maldade (Ecl. XXXIII, 29).
Estar ocioso é não fazer nada. Ser preguiçoso, é não fazer o que se deve, ou fazê-lo mal.
A preguiça e a inação, eis dois vícios muito prejudiciais à juventude.
Donzela cristã, diz-te acaso a tua vida passada que já tens direito ao descanso?
E o momento presente que te diz? Não pode da tua juventude, atividade, vida e louçania?
Viver na ociosidade é envelhecer, corromper-se e morrer antes do tempo.
O futuro exige também imperiosamente que sejas ativa. Se ele te estiver reservado, aproveita o presente com solicitude previdente, para formares o espírito e o coração. Prática boas obras agora, para não te encontrares na presença do Senhor, com as mãos vazias e só com o talento que enterraste (1), se dentro em pouco já não puderes dispor de tempo nenhum (2).
A ociosidade é uma ingratidão para com Deus, que nos deu as potências da alma e as forças do corpo, para fazermos uso delas.
É um roubo do dom mais precioso, que é o tempo.
É uma ofensa de Deus. A inércia torna-nos desprezíveis aos olhos de Deus, eternamente ativo, e priva-nos da semelhança que temos com ele.
É uma injustiça. Somos membros da sociedade humana, e o próximo tem direito a que o sirvamos na família, no Estado e na Igreja. E esta injustiça é sobretudo dirigida contra aqueles que granjearam com o seu trabalho os bens que dissipamos loucamente, e contra aqueles que se haviam de aproveitar do que por indolência nossa se torna estéril.
É um escândalo para o próximo. O mau exemplo leva-o a cometer a mesma falta. Talvez o preguiçoso seja também culpado de que alguém, sentindo-se oprimido pelo trabalho, murmure da Providência, pois é claro que o jugo do trabalho se torna tanto mais pesado quanto menor é o número dos que o suportam.
Que diferença entre as criaturas irracionais e a donzela indolente! Aquelas numa atividade constante, cumprindo fielmente a lei que o Criador lhes impôs; esta, inativa, fugindo ao trabalho, e contrariando os desígnios de Deus.
A ociosidade traz consigo prejuízos temporais tais como a desonra e a pobreza (3).
Enfraquece as forças do espírito. Percorre o campo do preguiçoso, diz a Escritura, e encontrá-lo-ás cheio de ortigas, coberto de silvas e o muro em ruínas (4).
A ociosidade corrompe o coração e ensina muita maldade (5). É o vazadouro dos pecados da alma. As águas estancadas exalam emanações mefíticas; do coração ocioso brotam pensamentos perigosos, males abomináveis, que se convertem em desejos e obras péssimas.
A ociosidade debilita, enerva o espírito, faz que a vontade perca a energia, e mirra o coração.
Acostuma a recaídas vergonhosas. Dá ousadia aos inimigos da salvação, que, ao verem o nosso descuido, se valem da nossa covardia.
É companheira de todos os vícios, porque lhes abre de par em par as portas do coração doente e pusilânime.
A ociosidade é orgulhosa. no preguiçoso, a arrogância substitui o verdadeiro mérito, a ignorância a ciência, e a aparência a substância. O indolente está convencido que é mais sábio do que todos os homens (6).
É invejosa. Desgosta-a a prosperidade e triunfo alheio.
Procura acobertar-se com a mentira, e deita mão do engano e da hipocrisia.
É frequentemente pródiga. Quantas vezes estende criminosamente a mão a coisas que sem trabalho não pode adquirir limpamente!
A ociosidade odeia a censura e a correção; não quere que a incomodem; é disputadora e procaz.
É dura com os outros; é desconfiada e maldisente.
É curiosa, e tem sempre abertas as portas dos sentidos.
Entrega-se com frequência aos excessos da comida e de bebida, e procura entreter-se com passatempos vis.
Converte-se em esquecimento de Deus, porque a verdadeira oração exige atividade e esforço.
É inconstante. O preguiçoso quer e não quer (7).
É covarde. Por isso diz: Lá fora está um leão, que me matará se eu sair à rua (8).
É fraca. O preguiçoso mata-se em desejos inúteis (9).
Não se esforça por ganhar o céu; não há mérito que o atraia, nem coroa que o seduza.
A ociosidade transforma o espírito em carne, e a carne em corrupção.
Olha, preguiçoso, repara na formiga e aprende dela a ser sábio (10).
Que triste espetáculo o de uma donzela preguiçosa! É uma primavera sem sol, verdura, plantas, botões, aroma e esperança! A figueira não floresce; as videiras não crescem; a oliveira defrauda todas as esperanças, e os campos não prometem colheitas (11).
Guarda-te então, donzela cristã, e teme a sentença do Salvador: A árvore que não der bons frutos, será cortada e lançada ao fogo (12).
A Virgem Prudente, Pensamentos e Conselhos acomodados às Jovens Cristãs, por A. De Doss, S.J. versão de A. Cardoso, 1933.
(1) Mat. XXV, 25.
(2) Apoc. X, 6.
(3) Prov. XXVIII, 19.
(4) Prov. XXIV, 30-31.
(5) Prov. XXXIII, 29.
(6) Prov. XXVI, 16.
(7) Prov. XIII, 4.
(8) Prov. XXII, 13.
(9) Prov. XXI, 25.
(10) Prov. VI, 6.
(11) Habac. III, 17.
(12) Luc. III, 9.
Última atualização do artigo em 24 de janeiro de 2025 por Arsenal Católico