Ó Deus, usai da Vossa onipotência infinita para me converterdes totalmente ao Vosso amor.
1 – “Eu sou o Deus onipotente” (Gén. 17, 1); foi assim que Deus Se apresentou a Abraão. Deus é onipotente porque pode fazer tudo o que quer, tudo o que a Sua Sabedoria infinita vê como possível; e pode fazê-lo como quer, quando quer e sem nenhuma limitação: “Tudo o que o Senhor quer, o faz, no céu, na terra, no mar e em todos os abismos” (Sal. 134, 6). Nada pode impedir a Sua ação, nada pode opor-se ao Seu querer, nada Lhe é difícil. As nossas obras, mesmos as mais simples, requerem tempo, fadiga, material próprio, colaboração; as obras de Deus, ainda as maiores, realizam-se num só instante por uma ato simplicíssimo da Sua vontade. Deus é de tal maneira onipotente, que com uma só palavra tirou do nada todas as cosias: “fiat“, e a luz e os céus, a terra e os mares e o universo inteiro foram feitos. As nossas palavras são um som oco que se perde no ar sem nada produzir; a palavra de Deus, ao contrário, é onipotente, criadora, operante, ativa, eficaz, produzindo infalivelmente tudo o que exprime. Deus é tão onipotente que, tendo criado o homem livre, o governa e dirige segundo o Seu beneplácito sem lesar em nada a sua liberdade. Deus é de tal maneira onipotente que transforma os homens, de filhos do pecado, em Seus filhos adotivos, participantes, da sua vida divina. Deus é tão onipotente que tira o bem do próprio mal. A onipotência de Deus está sempre em ato, sempre em atividade, sempre operando, sem jamais se cansar; e esta onipotência grandiosa, infinita, eterna, está totalmente ao serviço da Sua bondade infinita, ou melhor, é a mesma bondade infinita que pode fazer todo o bem que quer. Como temos necessidade do auxílio dessa onipotência, nós tão fracos que, muito embora vendo e desejando o bem, tantas vezes somos incapazes de o fazer!
2 – Deus é o único onipotente, o único que, por Sua natureza, possui o poder; nós, porém – como todas as outras criaturas – somos impotentes, incapazes de qualquer coisa. O sol não pode brilhar, o fogo não pode arder, a flor não pode desabrochar e nós não podemos sequer dar um passo sem o concurso da onipotência divina. É a grande verdade que Jesus nos ensinou com as palavras: “sem mim nada podeis fazer” (Jo. 15, 5).
O nosso poder, a nossa capacidade não têm as suas raízes em nós, mas em Deus somente: “a nossa capacidade vem de Deus” (II Cor. 3, 5). Este pensamento deve manter-nos na humildade: se alguma coisa podemos e sabemos fazer, não é por virtude própria, mas unicamente porque Deus nos tornou participantes do Seus poder divino. Abandonados a nós mesmos, nem sequer seríamos capazes de formular um pensamento ou articular uma palavra. Por outro lado, esta nossa impotência radical não deve deprimir-nos porque Deus, bondade infinita, assim como nos comunicou o ser e a Sua bondade, também nos comunica o Seu poder e está disposto a comunicá-lo na medida em que nos vir mais humildes e convictos da nossa impotência. É assim que Deus Se compraz em escolher os humildes, “as coisas vis e desprezíveis segundo o mundo e aqueles que não são” (I Cor. 1, 28), para realizar as obras mais grandiosas. Sta Teresa de Ávila podia dizer: “Sozinha, Teresa não pode nada, mas com Jesus, Teresa pode tudo”, e S. Paulo: “Tudo posso nAquele que me conforta” (Fil. 4, 13). A razão dos nossos numerosos insucessos no bem, nas obras de apostolado e no progresso na virtude, está exatamente em não nos apoiarmos bastante na onipotência divina. Contamos demais com os meios humanos e de menos com o auxílio de Deus onipotente. É certo que não devemos ficar ociosos à espera da ajuda divina, devemos fazer tudo o que estiver nas nossas mãos, porém nunca devemos atribuir o êxito às nossas indústrias e canseiras, mas unicamente ao auxílio da onipotência divina.
Colóquio – “A Vossa mão onipotente, Senhor criou no céu os anjos e na terra os vermes, e não foi superior ao criar aqueles nem inferior ao criar estes. tal como nenhuma outra mão poderia criar o anjo, também nenhuma podia criar o vermezinho; como nenhuma podia criar o céu, tão pouco nenhuma outra pode criar a mais pequena folha duma árvore ou qualquer outro corpo, mas só a Vossa mão pode tudo isto, pois que tudo Lhe é igualmente possível. Não é para Vós mais simples criar o verme do que o anjo, porque tudo o que quisestes foi feito no céu e na terra, no mar e nos abismos.
“Do nada criastes todas as coisas e as fizestes só com a Vossa vontade: Vós possuís cada uma das Vossas criaturas sem indigência alguma; Vós a governais sem fadiga, a dirigis sem tédio e nada há que perturbe a ordem do vosso império nem nas alturas nem nas profundidades. Vós não sois o autor do mal que não podeis fazer, conquanto nada exista que não possais fazer; nunca Vos arrependestes daquilo que fizestes, nem sois perturbado por tempestades ou agitação de espírito, nem os perigos da terra Vos podem causar dano” (Sto Agostinho).
“Regozijo-me, ó Senhor, por ver a Vossa onipotência nas mãos da Vossa justa e amorosa vontade, porque tudo o que proceder de tal querer e poder, será bom e útil para mim e redundará para a glória do Vosso nome. Ó Deus uno e trino, tão sábio quão poderoso e tão poderoso como bom, em tudo infinito, iluminai o meu entendimento com a Vossa sabedoria, tornai boa a minha vontade com a Vossa soberana bondade, fortalecei as minhas potências com o Vosso maravilhoso poder, a fim de que Vos conheça, Vos ame e Vos sirva com fortaleza” (Ven. L. da Ponte).
Intimidade Divina, Meditações Sobre a Vida Interior Para Todos os Dias do Ano, P. Gabriel de Sta M. Madalena O.C.D. 1952.