Convém orar sempre sem defalecer (Luc, XVIII, 1).
Auxiliados pela graça de Deus, podemos fazer tudo o que Ele nos manda e aconselha. E isto está em plena conformidade com o seu amor e sabedoria.
Nada pois te deve dissuadir de andares em contínua oração (1).
Convém orar sempre sem desfacelimento (2). Orai sem intermissão (3).
Eis o que diz Jesus Cristo, eis oa viso que nos dirige o Espírito Santo.
Por conseguinte, é possível orar sempre e sem interrupção.
Mas, que é orar? Será repetir certas palavras contindas numa fórmula determinada? Será preciso entregarmo-nos a alguns sinais exteriores? requerer-se-á um lugar e tempo determinado?
Não: oração é todo o olhar fiél que dirigios a Deus, toda a elevação do coração ao céu. Deus é um espírito: os que O adoram devem fazê-lo em espírito e verdade (4).
Deus é um espírito: está em toda a aprte, está dentro de nós, e aí é testemunha dos mais pequeninos movimentos do nosso coração.
Deus é um espírito: basta que te acuda algum pensamento sobre Deus, que sintas dentro de ti algum desejo de Lhe agradar, logo Ele aceita complacente as tuas homenagens e abre o seu coração ás tuas súplicas piedosas.
Se não é possível estar sempre orando vocalmente, nem meditar em todo o tempo, contudo podes facilmente conservar no teu coração o amor de Deus e a boa disposição para com Ele. Conserva cuidadosamente tão amorsa disposição de espírito, continua a depositar a tua confiança em Deus, ouve atentamente a sua voz e estarás em oração contínua.
Assim como o fogo não se extingue se houver o cuidado de o alimentar assim o trato com Deus jamais se interromperá, se o alimentarmos de vez em quando com a oração propriamente dita e enquanto a alma não se apartar desta direção que leva a Deus.
As obras ordinárias próprias do estado de cada um são uma oração excelente, quando dirigidas a Deus pela reta intenção, e quando feitas dum modo conforme à sua natureza e aos desígnios de Deus.
Contudo, não é difícil conversar com o Senhor frequentemente por meio de orações.
Será caso necessário que estas orações frequentes sejam pnderadas e prolongadas? Será preciso servires-te de palavras escolhidas ou de fórmulas compostas por outros? Não serão do agrado de Deus aquelas que espontaneamente te saem do coração?
Oh almas santas, que sabeis ferir com flechas certeiras o coração de Deus, segundo o seu ardente desejo! ensinai-me a conversar com Ele com amor e simplicidade, saudando-O umas vezes como Criador e Senhor, outras como Pai e Benfeitor, outras como am,igo, consolador, como conselheiro, testemunha e Mestre; ora adorando-O, louvando-O e dando-Lhe graças; ora pedindo-Lhe mercês ou acundindo a Ele nas nossas dúvidas.
Como Deus se compraz em nos ver correr para Ele, à semelhança do que fazem as criancinhas com o pai, para lhe contarmos as nossas amarguras e alegrias, as nossas esperanças e receios! As minhas delícias, diz Ele, são estar com os filhos dos homens (5). Porque não hão de ser as nossas conversas confiadamente com Deus?
Oh meu Deus, meu Pai, meu sumo Bem, meu Tudo! Quero que sejais o futuro o meu conselheiro em todas as circunstâncias da vida, o íntimo amigo a quem confie as minhas inquietações, amarguras e desejos. Se me ameaçar algum perigo, a Vós acudirei logo em busca de auxílio. Se por desgraça vier a cair em pecado, a minha primeira palavra será pedir-Vos perdão. Se a voz da seria do mundo se fizer ouvir aos meus ouvidos, logo a sufocará este brado do coração: Só em Deus está a verdadeira felicidade: Deus me basta.
A Virgem Prudente, Pensamentos e Conselhos acomodados às Jovens Cristãs, por A. De Doss, S.J. versão de A. Cardoso, 1933.
(1) Ecl. XVIII, 22.
(2) Luc. XVIII, 1.
(3) I Tes. V, 17.
(4) Joan. IV, 24.
(5) Prov. VIII, 31.
Última atualização do artigo em 10 de março de 2025 por Arsenal Católico