Ó Jesus, fazei-me compreender que a minha oração é uma nada se não se apoia em Vós; que a minha fé é vã se não a traduzo em obras.
1 – Mediante o Evangelho da Missa (Jo. 16, 23-30) – tomado ainda hoje do discurso da última ceia – a Igreja continua a preparar-nos para a Ascenção e para o Pentecostes. “Saí do Pai e vim ao mundo – disse Jesus – outra vez deixo o mundo e vou para o Pai”; eis o anúncio da Sua próxima ascensão ao céu. Chegado ao fim da Sua missão entre os homens, Jesus apresenta-a em síntese, como uma grande viagem do Pai ao mundo e do mundo ao Pai. Isto recorda-nos o conceito de “peregrinação” que todo o cristão deve aplicar à sua vida a ponto de a considerar como “uma noite passada em má pousada” (T.J. Cam. 40, 9), com o coração voltado para a radiosa manhã da vida eterna.
“Mas vem o tempo em que não vos falarei já por parábolas, mas abertamente vos falarei do Pai”. Eis o anúncio do Pentecostes: Jesus, por meio do Espírito Santo, iluminará os Seus apóstolos fazendo-lhes entender claramente os mistérios divinos, e o Pai não será mais um desconhecido para eles. Tudo o que nós podemos estudar e conhecer das cosias de Deus é letra morta enquanto o Espírito Santo não nos abrir a inteligência. isto é mais um motivo para compreendermos quanto temos necessidade dEle e para desejarmos a Sua vinda.
Mas o Evangelho propõe-nos também outro argumento. Jesus, que por várias vezes tinha instruído os apóstolos sobre a oração e sobre o modo de rezar, ensina-lhes agora o segredo da oração eficaz: “se pedirdes a meu Pai alguma coisa em meu nome, Ele vo-la dará”. Jesus parte, mas deixa aos apóstolos o meio seguro para encontrar acesso junto do Pai: apresentar-se em Seu nome, em nome do Homem-Deus que, tendo-Se imolado para glória do Pai e para nossa salvação, merece ser sempre atendido “pro sua reverentia” em razão da Sua piedade (Hebr. 5, 7).
2 – Pedir “em nome de Jesus” significa, na prática, estarmos convencidos de que as nossas ações, como de resto todas as nossas boas obras sem nenhuma exceção, não valem nada se não se apoiam nos méritos infinitos de Jesus. Significa estarmos convencidos de que, por mais que façamos e rezemos, somos sempre “servos inúteis” (Lc. 17, 10), que não temos em nós nenhuma suficiência, mas que toda a nossa suficiência vem do Crucificado. A primeira condição, portanto, da oração feita “em nome de Jesus”, é a humildade, um sentido cada vez mais profundo e realista do nosso nada. Mas a segunda condição é uma confiança ilimitada nos méritos infinitos de Jesus, que ultrapassam todas as nossa indigências, misérias, necessidades. Não pediremos nunca demais em Seu nome; nunca seremos demasiado ousados em pedir a plenitude da graça divina sobre as nossa almas, em aspirar à santidade – escondida, sim, mas autêntica – em vista de quanto Ele mereceu por nós. Não existem infidelidades e culpas, tendências más e misérias sinceramente detestadas que o Sangue de Jesus não possa lavar, purificar, perdoar; não há fraqueza que Ele não possa sarar, fortificar, transformar. Não há criatura de boa vontade, ainda que fraca e pequena que, em nome de Jesus, não possa aspirar à santidade.
Mas requer-se uma terceira condição para que a nossa oração seja eficaz: que a nossa vida corresponda à nossa oração, que a nossa fé se traduza em boas obras. “Sede pois fazedores da palavra e não ouvintes somente, enganando-vos a vós mesmos. Porque se alguém é ouvinte da palavra e não fazedor, este será comparado a um homem que contempla num espelho o seu rosto nativo; porque se considerou e, tendo-se retirado, logo esqueceu como era”; esta forte expressão de S. Tiago, tirada da Epístola de hoje (1, 22-27), é um chamamento insistente à concretização da vida cristã. É vã a oração, é vã a confiança em Deus, se não as acompanhamos com os nossos esforços generosos para cumprirmos todos os nosso deveres, para vivermos à altura da nossa vocação. Podemos e devemos esperar tudo do nome de Jesus, mas Ele pede-nos um esforço contínuo para Lhe sermos totalmente fiéis.
Colóquio – “Deus onipotente, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, Vós que sois benigno, usai de misericórdia para comigo, porque aquilo que podia encontrar de mais precioso, devotamente Vo-lo ofereci; tudo o que me foi dado encontrar de mais caro para Vós, eu Vo-lo apresentei suplicante. Nada me ficou que não tenha acrescentado em holocausto à Vossa Majestade; nada mais me resta acrescentar, pois que Vos ofereci a minha esperança, enviei o meu advogado, o Vosso dileto Filho. Enviei o Vosso glorioso Filho qual Mediador entre Vós e mim; enviei aquele Intercessor pelo qual espero obter o perdão. Enviei o Verbo que Vós enviastes para reparar a minha culpa, a Vós apresentei a Paixão que sofreu o Vosso santíssimo Filho. Esta é a Vítima santa que Vos ofereço para Vos aplacar e tornar propício. Grande, na verdade, é a minha injustiça, mas muito maior é a justiça do meu Salvador. Quanto Deus é superior ao homem, tanto a minha malícia é inferior à Sua bondade em que qualidade e quantidade.
“Que culpa poderia o homem ter cometido que não tivesse sido expiada pelo Filho de Deus feito homem? Que soberba se inchou tão desmedidamente que não pudesse ser abatida por tanta humildade? Em verdade, ó meu Deus, se com uma balança se pesassem os delitos do homem pecador e a graça de Deus redentor, ver-se-ia que a diferença não é só como a distância que vai do Oriente ao Ocidente, mas como a que separa o inferno do mais alto dos céus. Ó Criador da luz, perdoai as minhas culpas pelos imensos trabalhos do Vosso amado Filho! Fazei, Senhor, que a Sua piedade vença a minha impiedade, que a Sua modéstia satisfaça pela minha perversidade, que a Sua mansidão dome a minha irascibilidade. A sua humildade repare a minha soberba; a Sua paciência, a minha impaciência; a Sua benignidade, a minha dureza; a Sua obediência, a minha desobediência; a Sua tranquilidade transforme a minha inquietação; a Sua doçura, a minha amargura; a Sua caridade apague a minha crueldade” (Sto Agostinho).
Intimidade Divina, Meditações Sobre a Vida Interior Para Todos os Dias do Ano, P. Gabriel de Sta M. Madalena O.C.D. 1952.