Havia meia-hora que o Senhor estava na cruz, desde o meio-dia. O Pai fez um prodígio no céu para dar um sinal que quem morria era seu Filho. A natureza choraria pela morte do Senhor, já que os homens blasfemavam dele.
O sol que nasce todos os dias e ilumina tanto os bons como os maus, afastou os olhos para não presenciar tanta maldade. Ao meio-dia quando o sol é mais forte, o céu escureceu. Deus mostrava aos homens a escuridão em que viviam e a enorme treva que caia sobre eles, por apagar a luz que resplandecia. Como o povo judeu retirava a luz sobre eles, Deus retirava a sua proteção e eles iriam ficar numa escuridão maior do que os envolvia neste momento.
O sol se virou contra os cruéis judeus, ficou de luto e ocultou-se na escuridão. Todos ficaram preocupados e perguntavam o que estava acontecendo. Desde a hora sexta até a hora nona, cobriu-se toda a terra de trevas (Mt 27, 45). Os judeus queriam um sinal (cf. Mc 8, 11). Não bastava o dia ficar escuro contra toda ordem natural? Que outro sinal seria mais claro que este?
As trevas cobriram a terra da hora sexta até a hora nona, o mesmo intervalo de tempo em que o Senhor esteve vivo. Não havia nada de digno para ser iluminado. A obra da salvação estava se realizando. Deus é meu rei desde os tempos antigos, ele, que opera a salvação por toda a terra (SI 73, 12). A claridade costuma atrapalhar os que fazem orações, assim ficou o Calvário: como um oratório no céu, com a melhor meditação que se podia ter: Jesus crucificado.
A Paixão do Senhor, Luis de La Palma, 1624.
Última atualização do artigo em 11 de janeiro de 2025 por Arsenal Católico