A Paixão do Senhor: Cristo padeceu por amor aos homens

Jesus flagelado por nossos pecados. Pinrtura: A Flagelação de Cristo atado à Coluna, atribuído a Palma el Joven (Museu do Prado) cerca de 1550

O Senhor passou a noite toda entre os inimigos, mas não desejava vingança, apenas paz e felicidade a eles. Entregava-se ao sofrimento por amor a Deus e aos homens, e ninguém era mais poderoso que Ele. Estava triste e ao mesmo tempo o seu amor era tão grande que desejava sofrer, pois sua dor salvaria os homens. Esta noite de dor, também foi de conforto e de alegria, pois com este batismo de sangue se farte de opróbrios (Lm 3, 30).

O amor de Cristo pela humanidade, desafia todo o conhecimento (Ef 3, 19), porque a fonte em que nasce está acima de toda a compreensão. Não se baseia na perfeição ou nos méritos dos homens, pois estes são imperfeitos e pecadores. Não é possível amar o homem pelo o que ele é. O amor tem fundamento no amor que o Pai tem pelo Filho, e nos infinitos benefícios concedidos a sua humanidade, porque por obediência, agradecimento e amor ao Pai, Cristo amou os homens.

No instante da concepção de Jesus no seio da Virgem Maria, Deus deu-lhe o ser divino unindo-o a sua divina pessoa. Pelo que podemos dizer, é certo que o homem Jesus, é Deus, Filho de Deus, e tem de ser adorado no céu e na terra. Este é um dom infinito, ser Deus.

Deus concedeu a Jesus, ser rei de toda a criação. Ele existe antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem nele. Ele é a cabeça do corpo, da Igreja. Ele é oprincípio, o primogêmto dentre os mortos e por isso tem o primeiro lugar em todas as coisas (CI 1, 17-18). Enquanto Deus é igual ao Pai e ao Espírito; enquanto homem é o primeiro entre todos e cabeça de todos. Todos nós recebemos da sua plenitude graça sobre graça (Jo 1, 16). Não só porque a graça seja maior n’Eie, mas porque é o santificador de todos os homens. Para dar um exemplo, é como uma tinta que todos têm de receber, a cor da santidade. Claro que a santidade não pode ser a penas exterior, tem de ser também interior, em sua totalidade.

Quando Jesus olhasse para si mesmo, rei de todas as criaturas, com todos os anjos ajoelhados diante d’Eie, e soubesse que tudo lhe vinha de Deus. Com que palavras, diria o seu amor a Deus? Com que vontade se ofereceria a Deus para obedecer e servir? Não existem palavras para exprimir ou explicar este grande mistério.

Ao manifestar ao Pai o grande desejo de servir e agradá-lo, Deus diria que lhe confiava a salvação da humanidade, que tinha se perdido pelo pecado de um homem. Entregava-lhe uma missão: Devia amar os homens com um amor tão grande, sendo capaz de sofrer tudo para salvá-los. Jesus amou os homens por amor ao Pai e por obediência; como era Deus, amou-os desde o princípio com o amor de Deus.

De Jesus, grande manancial e torrente caudalosa, flui o amor de Deus para os homens. O Pai entregou toda a humanidade a Jesus. Todas as coisas me foram dadas por meu Pai (Mt 11 , 27), ora, está é a vontade daquele que me enviou: que eu não deixe perecer nenhum daqueles que me deu (Jo 6, 39). Porém, como tudo estava perdido ao encomendar-lhe, era necessário reconquistar tudo novamente. Deus não enviou o Filho ao mundo para condená-lo, mas para que o mundo seja salvo por ele (Jo 3, 17}.

A recomendação fez com que se preocupasse com verdadeira solicitude, em redimir o mundo. Sabendo Jesus que o Pai tudo lhe dera nas mãos (Jo 13, 3), preocupado em cumprir a missão, disse: Manifestei o teu nome aos homens que do mundo me deste (Jo 17, 6). E orava: Por eles é que eu rogo. Não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me destes, porque são teus. Santifico-me por eles para que também eles sejam santificados pela verdade (Jo 17, 9. 19). Quando foi preso no horto, preocupado com o mandato do Pai, defendeu-os: Se é, pois a mim que buscais deixai ir estes. Assim se cumpriu a palavra que disse: dos que me destes não perdi nenhum (Jo 18, 8-9). Não perdeu nenhum por culpa própria, entretanto doeu a perdição de Judas, pois tinha rogado ao Pai também por ele. Conservei os que me deste, e nenhum deles se perdeu, exceto o filho da perdição, para que se cumprisse a Escritura (Jo 17, 12).

Desta mesma fonte, nasceu também tudo o que convinha para o bem e felicidade do homem. Pouco antes da Paixão, disse: O mundo, porém, deve saber que amo o Pai e procedo como o Pai me ordenou (Jo 14, 31). E padeceu na cruz pelos homens. Era grande o desejo de cumprir a missão: Devo ser batizado num batismo; e quanto anseio até que se cumpra! ( Lc 12 , 50). O batismo de sangue parecia que demorava uma eternidade, de tão grande que era o seu desejo. No Domingo de Ramos aceitou ser recebido com flores e ser aplaudido pelo povo, para que vissem a alegria de seu coração, a mesma alegria que subiria na cruz. O rei Davi exprimiu a força do amor de Jesus ao escrever: Exulta, como um gigante, a percorrer seu caminho. Sai de um extremo do céu, e no outro termina seu curso; nada se furta ao seu calor(SI 1 B, 6-7). O amor divino saiu de Deus e voltou para Deus. Não amou o homem pelo homem, mas por Deus. Não há ninguém que possa escapar do seu calor, nem fugir do seu amor, porque sua caridade é tão ardente que força, quase obriga os corações. O amor de Cristo nos constrange (2Cor 5, 14).

O apóstolo Paulo tanto estimava esse amor, que menosprezando a fome, a sede, a perseguição, a vida e a morte, dizia: Eu mesmo desejaria ser reprovado, separado de Cristo, por amor de meus irmãos (Rm 9, 3). O apóstolo André diante da cruz que morreria, louvava e dizia para se alegrarem com ele. Os exemplos levam-nos a desejar subir à cruz e encontrar o coração de Jesus. Grande parece ser o amor demonstrado por Paulo e André; maior, infinitamente maior, é o amor de Jesus.

Jacó deu uma grande prova de amor: sete anos trabalhou para o seu sogro Labão, para poder casar-se com Raquel; era tanto trabalho que de dia não descansava e de noite não dormia; tinha a pele queimada pelo sol e pelo frio. Assim, Jacó serviu por Raquel sete anos, que lhe pareceram dias, tão grande era o amor que lhe tinha (Gn 29, 20). Pareceria pouco, também para Cristo uma noite de ultrajes e três horas na cruz para obter como esposa, a Igreja, e fazê-la toda gloriosa, sem mácula, sem ruga, sem qualquer outro defeito semelhante, mas santa e irrepreensível (Ef 5, 27). Sem dúvida amou mais do que padeceu. O amor de seu coração foi maior que o sofrimento de suas feridas abertas. Deus mandou padecer por todos os homens, mas se fosse por apenas um, da mesma maneira teria padecido. Assim, como esteve três horas na cruz, se fosse necessário ficaria até o fim do mundo, pois seu amor era infinito.

Foi tamanha prova de amor que surpreendeu a muitos, foi escândalo para os judeus e loucura para os pagãos (l Cor 1, 23). A prova de amor que nos deu cega a todos no meio de tanta luz. Quando revela este segredo e mistério: ficamos deslumbrados, nos desmanchamos em lágrimas, queimamos de amor, permanecemos felizes na tribulação, fortalecidos no medo e desejamos amar tudo o que Cristo desejou e amou.

Outro motivo de júbilo para o Senhor foi quando naquela noite, no meio das agressões e injúrias, previa, graças ao seu sofrimento, a imagem de um mundo renovado. Homens transformados da carne para o espírito. Contemplava homens que, ao conhecerem o seu sofrimento por eles, faziam-se à sua imagem e semelhança, desprezando o mal e desejosos de fazer o bem no mundo. Com esta alegria poderia sofrer com fortaleza, dar o rosto e o corpo sem desviar dos ataques. Via que através do que lhe faziam aqueles carrascos, Deus moldava nele, a imagem e exemplo dos predestinados.

Deus Pai estava satisfeito com a obediência do Filho, preparava uma honraria por toda desonra e insulto que sofreu naquela noite: compunha um cântico para que fosse exaltado para sempre no céu.

A Paixão do Senhor, Luis de La Palma, 1624.

Última atualização do artigo em 13 de março de 2025 por Arsenal Católico

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