Pela manhã de quinta-feira, primeiro dia dos pães ázimos, estando Jesus em Betânia ou provavelmente a caminho de Jerusalém, os discípulos perguntaram onde celebrariam a Páscoa. O Senhor encarregou Pedro e João dos preparativos: Ide à cidade, à casa de um tal, e dizei-lhe: O Mestre manda dizer-te: Meu tempo está próximo. É em tua casa que celebrarei a Páscoa com meus discípulos (Mt 26, 18). Ele vos mostrará no andar superior uma grande sala mobiliada, e ali fazei os preparativos (Lc 22, 12-13). Os dois discípulos obedeceram e aconteceu tudo como Jesus havia dito; assim a ceia foi preparada na casa daquele homem bemaventurado.
Jesus chega a Jerusalém para celebrar a Páscoa
Chegando o Senhor com os outros discípulos a Jerusalém, foram na casa do amigo que o estava esperando. Encontraram tudo preparado: o cordeiro, as ervas amargas, os pães sem fermento e tudo que era necessário para celebrar a Páscoa. O Senhor iniciou a cerimônia na hora indicada: sacrificaram o cordeiro e assaram-no, aspergiram com sangue a soleira da casa e a seguir o Senhor calçou as sandálias, cingiu as vestes e ficou de pé, os apóstolos fizeram o mesmo. Depois comeram rapidamente, como que de passagem, o cordeiro, o pão sem fermento e as ervas amargas. Os judeus faziam tudo isto em memória da libertação e saída do Egito. Para nós, um símbolo da libertação do pecado que haveríamos de conseguir, graças ao sangue derramado por Jesus Cristo. Neste momento, o Senhor dava início a sua Paixão.
Concluída a cerimônia, assentaram-se para a ceia habitual. Enquanto comiam, o Senhor com toda ternura manifestou o grande amor que sentia pelos apóstolos, dizendo como tinha desejado cear com eles antes de morrer: Tenho desejado ardentemente comer convosco esta Páscoa, antes de sofrer (Lc 22, 15). Aconteceria um mistério grandioso naquela ceia, que somente o infinito desejo do Filho de Deus poderia realizar. Contou que aquela era a última ceia e que não voltaria a cear com eles, até que estivessem juntos no Banquete Celestial.
E vós tendes permanecido comigo nas minhas provações, por isso estareis junto de mim quando eu triunfar: pois, disponho do Reino a vosso favor, assim como meu Pai o dispôs a meu favor, para que comais e bebais à minha mesa no meu Reino e vos senteis em tronos, para julgar as doze tribos de Israel (Lc 22, 28-30).
Consolando os apóstolos porque ficariam órfãos, o Senhor prometia uma grande herança depois da morte.
Judas continuava entre eles dissimulando a traição. Com toda misericórdia, o Senhor comia no mesmo prato, com um homem que pensava somente no momento de entregá-lo. O Senhor conhecendo o segredo, tentou abrandar-lhe o coração com um lamento : Em verdade vos digo: um de vós me há de trair (Mt 26, 21). Ao ouvirem isto, todos começaram a ficar desolados e se olhavam assustados. Mesmo estando com a consciência limpa, cada um perguntava com humildade: Porventura sou eu? (Me 14, 19).
Estavam treze à mesa e molhavam o pão no mesmo prato, três ou quatro pessoas ao mesmo tempo. Os apóstolos queriam saber quem era o traidor e assim acabar com a suspeita e o temor entre eles. O Senhor, porém, queria salvar Judas e não revelou completamente o segredo, para que o ódio dos seus companheiros não o levasse à perdição total. Jesus, pelo contrário, acentuou mais a amizade que Judas desprezava com sua traição: Em verdade vos digo, aquele que há de me vender não só está à mesa comigo, como também pôs comigo a mão no prato (Mt 26, 23). O Filho do Homem segue o caminho da cruz por vontade própria, por obediência ao Pai e assim salvar os homens, mas ai daquele homem por quem o Filho do Homem é traído! O traidor pensa que triunfa e que ganhará amigos e dinheiro, mas na realidade caminha em direção ao tormento eterno que seria melhor para esse homem que jamais tivesse nascido! (Mt 26, 24).
Descoberto pelo sinal de molhar o pão no prato, Judas sem nenhum embaraço perguntou: Mestre, serei eu? (Mt 26, 25). O Senhor com voz baixa, para que os outros não ouvissem, respondeu: Tu o disseste, que quer dizer sim, segundo o modo de falar dos hebreus.
A Paixão do Senhor, Luis de La Palma, 1624.
Última atualização do artigo em 13 de março de 2025 por Arsenal Católico