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A Paixão do Senhor: Jesus é condenado à morte

Assustado com os gritos dos judeus e pelo temor a César, foi mais fácil atropelar a justiça do que enfrentar o furor dos acusadores.

Era perto do meio-dia, Pilatos começou a preencher os requisitos que a lei indicava para concluir e proclamar solenemente a sentença.

Sentou-se no tribunal, no lugar chamado Lajeado (em aramaico, Gabbatá), tinha este nome porque o piso era coberto artisticamente por pedras de várias cores, formando um mosaico que representava a riqueza, a justiça e a majestade de Roma. Era alto e elevado, estava encostado à parede do pretório pelo lado de fora.

Pilatos trouxe Jesus para fora, onde todo o povo pudesse vê-lo. Lançou à vista deles a injustiça e disse-lhes: Eis aqui o vosso rei! Todos gritaram : Morte! Morte! Crucifica-o! Pilatos retorquiu: Hei de crucificar o rei dos judeus? Os sumos sacerdotes responderam: Não temos outro rei senão César!

Isto acontecia no exterior, mas se queremos aprofundar o mistério devemos analisar: estavam decidindo se deviam crucificar Jesus, o motivo era blasfêmia contra Deus ou traição a César, ambas julgadas infundadas pelo juiz. Outra questão era contra o povo judeu: continuariam a ser o povo escolhido? A solução, para esta pergunta, se resolveria conforme receberiam a Jesus.

Senhor, dignai-vos, pela vossa misericórdia, afastar de vossa cidade santa, Jerusalém, vossa cólera e vossa exasperação (Dn 9, 16).

Como o povo judeu se valeu do procurador romano contra o Senhor, da mesma forma Deus se valeria do governador contra eles. Fez que Pilatos fosse testemunha da inocência e propagador do reino, embora não entendesse o sentido das palavras: Eis aqui o vosso rei! Hei de crucificar o vosso rei!

Repetidas vezes os judeus tinham acusado e pedido a morte de Jesus; tinham preferido Barrabás; em todas as ocasiões que o juiz o defendeu, se opuseram com ameaças. Mas, apesar de tudo isso, Deus, o justo juiz deu outra oportunidade para os judeus confirmarem ou se retratarem publicamente antes de finalizar o processo. Como era uma decisão grave e importante, preparou com toda solenidade possível. Estavam presentes, junto de Jesus, todo o povo judeu e seus líderes. Perto do meio-dia da festa da Páscoa, Pôncio Pilatos, procurador de Roma, em alta voz disse: Eis aqui o vosso rei! Hei de crucificar o vosso rei?

Os judeus entenderam bem todo o sentido da frase: O Rei, o Messias profetizado e prometido pela Lei; o Filho de Deus. Houve tempo para pensarem bem na resposta, mas os pontífices, que quanto mais velhos, mais perdiam o pudor e o temor a Deus, responderam: Não temos outro rei senão César!

Os sábios deviam perceber que faltava um rei natural, e segundo as Escrituras tinha chegado o tempo messiânico. Cegos e exaltados, não quiseram receber o Rei que Deus enviava, condena ndo-se a continuarem subjugados por um rei estrangeiro, o César romano.

Pouco antes de Pilatos dar a sentença, chegou um recado de sua mulher: Nada faças a esse justo. Fui atormentada por um sonho que lhe diz respeito (Mt 27, 19).

Foi um sonho natural ou providencial? Nada diz o Evangelista. Os Santos Padres opinam que a visão foi para ajudar a boa vontade do juiz. (13) Talvez tivesse visto o trágico fim do marido, a destruição de Israel ou revelação de que Jesus era Filho de Deus. Pedia para que Pilatos não tomasse parte na condenação daquele justo, pois tinha sofrido muito com a visão.

Não contou detalhes, pois não acreditariam e os judeus achariam um absurdo. O fato é que teve um sonho, que a fez sofrer muito e não pode ficar indiferente; mesmo com medo, mandou avisar seu marido, tentando forçá-lo a compadecer-se daquele justo. Por respeito, Pilatos enviou uma resposta, e assim todos ficaram sabendo que sua esposa também intercedeu por Jesus de Nazaré. Este foi outro importante testemunho da inocência do Senhor.

Alguns tem opinião que foi o demônio que a moveu em sonhos, para atrapalhar a Redenção. Não parece lógico que o maligno incitasse os judeus de um lado para matá-lo, e de outro movesse uma mulher para salvá-lo. Para que o poder do reino das trevas continuasse pelo mundo, seria mais fácil impedir a morte do Senhor, mudando os ânimos dos sacerdotes e do povo para que pedissem a liberdade para Jesus. Com os pontífices desistindo das acusações, também o governador não tinha nenhum interesse em continuar a sentença.

Uma tradição muito antiga assegura que a mulher de Pilatos se chamava Claúdia Procla, tinha simpatia pelo judaísmo, embora conservasse os costumes romanos; depois da morte de Jesus, se tornou cristã. A Igreja Ortodoxa grega a inclui entre os seus santos.

Os sacerdotes e o povo continuavam obstinados, Pilatos viu que nada adiantava, mas que, ao contrário, o tumulto crescia. Fez com que lhe trouxessem água, lavou as mãos diante do povo e disse: Sou inocente do sangue deste homem. Isto é lá convosco! (Mt 27, 4). Usando de uma fórmula conhecida dos judeus (cf. Dt 21, 6), deixava claro que não tomava parte da injustiça: Eu não me considero culpado, nem quero ter na minha consciência a morte deste homem, que a culpa recaia sobre vocês.

Pela última vez, Pilatos alegava a convicção que tinha da inocência de Jesus. Normalmente, o juiz decide de acordo com o que o processo concluiu. Desta vez terminou de uma maneira curiosa: solenemente lavou as mãos, o declarou inocente e, em seguida, o condenou.

Realmente, Pilatos foi um juiz injusto, sentenciou contra a própria consciência. Foi um homem dúbio, quis ficar bem com o mundo e com Deus. Pouco serve lavar as mãos por fora e dissimular os erros com belas palavras, porque vamos ser julgados pelo Senhor, que não vê as exterioridades e sim as obras.

Pilatos pensava que estava limpo do sangue do Redentor. Os judeus como animais sanguinários perante o discurso do governador, responderam: Caia sobre nós o seu sangue e sobre nossos filhos! (Mt 27, 25). Consideravam-se totalmente limpos, tanto que colocaram os próprios filhos como caução.

Depois de tanta insistência Pilatos consentiu e declarou pública e solenemente a sentença de morte; o povo todo ficou satisfeito. A sentença também foi contra os judeus, pois pediram que caísse sobre eles aquele sangue; passados alguns anos, o templo e a cidade foram destruídos por ordem do Imperador. (14)

E o espinheiro respondeu: se realmente me quereis escolher para reinar sobre vós, vinde e abrigai- vos debaixo de minha sombra; mas, se não o quereis, saia fogo do espinheiro e devorei os cedros do Líbano! (Jz 9, 15)

O povo escolhido preferiu outro rei e foram abrasados. Escolheram o imperador romano, que como um rio enfurecido inundou e destruiu sua cidade. Porque este povo rejeitou as águas tranquilas de Siloé (Is 8, 6) ficaram sem pátria por toda a terra, humilhados e vencidos, submetidos a um rei estrangeiro.

Pronunciada a sentença, Pilatos ordenou que Jesus fosse conduzido pelas ruas até o local da execução.

Toda a cidade rapidamente tomou conhecimento do ocorrido, as ruas ficaram amontoadas de pessoas que desejavam ver passar Jesus Nazareno; a quem tinham visto fazer inúmeros milagres e veneravam como profeta. A cidade ficou tumultuada; as opiniões se dividiam, alguns estavam favoráveis, outros contrários; os amigos e discípulos estavam abatidos; os inimigos se alegravam pela vitória. O Senhor estava triste e abatido; a dor era enorme. O Espí­rito Santo havia anunciado pela boca do salmista: Quando tropecei, eles se reuniram para se alegrar; eles me dilaceraram sem parar (SI 34, 15). Perante a dor, pede a Deus a ressurreição. Até quando se levantará o meu inimigo contra mim? Olhai! Ouvi-me, Senhor; ó meu Deus! Iluminai meus olhos com vossa luz, para eu não adormecer na morte, para que meu inimigo não venha a dizer: Venci-o (SI 12, 4-5).

Sabendo como seria terrível, tinha prevenido os apóstolos na noite anterior, animando-os para que esperassem a ressurreição.

Em verdade, em verdade vos digo: haveis de lamentar e chorar; mas o mundo se há de alegrar. E haveis de estar tristes, mas a vossa tristeza se há de transrormar em alegria. Quando a mulher está para dar à luz, sofre porque veio a sua hora. Mas, depois que deu à luz a criança, já não se lembra da aflição, por causa da alegria que sente de haver nascido um homem no mundo. Assim também vós: sem dúvida, agora estais tristes, mas hei de ver-vos outra vez, e o vosso coração se alegrará e ninguém vos tirará a vossa alegria (Jo 16, 20-22).

A Paixão do Senhor, Luis de La Palma, 1624.

(13) O termo Santos Padres designa os sacerdotes teólogos dos primeiros séculos. No Ocidente termina com Santo Isidoro de Sevilha ( t 636), no Oriente com São João Damasceno (t 749).

(14) Tito no ano 70, depois de cinco meses de combate, deixou Jerusalém em ruínas, o templo destruído e milhares de cadáveres espalhados pelas ruas.

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