A Paixão do Senhor: Jesus é crucificado entre dois ladrões

Anthony van Dyck, Crucificação, 1630, domínio público, Wikimedia Commons

Chegando ao Calvário os condenados descarregam as cruzes. Todos que estavam seguindo o cortejo se reuniram em volta. Enquanto preparavam a crucificação deram-lhe de beber vinho misturado com mirra (Mc 15, 23). A bebida servia para entorpecer e aliviar o sofrimento dos condenados. Era costume que as mulheres piedosas se preocupassem em trazer este alívio.

Aceitou agradecido, provou, mas se recusou a beber (Mt 27, 34). Não quis aliviar a dor naquele momento, a fortaleza e a dignidade de estar na cruz não viriam de um vinho narcotizado, pois pelo Espírito Santo se ofereceu como vítima sem mácula a Deus (Hb 9, 14).

Depois despiram o Senhor e o crucificaram. Repartiram as vestes e sortearam a túnica.

Sim, rodeia-me uma malta de cães, cerca-me um bando de malfeitores. Traspassaram minhas mãos e meus pés: poderia contar todos os meus ossos. Eles me olham e me observam com alegria, repartem entre si as minhas vestes, e lançam sorte sobre a minha túnica (SI 21, 17-19).

A cruz já estava fixa no solo e as escadas preparadas. Os dois verdugos ergueram o Senhor pelas escadas; Jesus estava despido, coroado de espinhos e com as costas sangrando pela flagelação. Vendo a cena, o povo começou a gritar.

Jesus olhava a cruz com amor, havia muito tempo que a desejava, porque nela triunfaria e resgataria o mundo. O que tinha sido um instrumento infame e desonroso convertia-se em árvore da vida e escada da glória. Ao estender os braços sobre a cruz, uma profunda alegria o tomava, pois de agora em diante todos os pecadores que se a proximassem seriam recebidos de braços abertos. Também os pecados dos homens seriam cravados e mortos, junto com suas mãos e seus pés.

Sabemos que o nosso velho homem foi crucificado com ele, para que seja reduzido à impotência o corpo subjugado ao pecado, e já não sejamos escravos do pecado (Rm 6, 6). Cancelando os documentos escrito contra nós, cujas prescrições nos condenavam. Aboliu-o definitivamente, ao encravá-lo na cruz (CI 2, 14).

Não pedia mais ao Pai que o livrasse do cálice, mas que somente perdoasse a humanidade.

Estava repleto de alegria, viu que a cruz seria adorada e amada; viu que os mártires, por defender a verdade, morreriam de modo semelhante; viu o triunfo que os cristãos conquistariam com a cruz; viu os milagres que, pelo sinal da cruz, aconteceriam pelo mundo; viu tantos homens que se tornariam santos, vencendo o pecado. A cruz seria alçada como uma bandeira, pela qual os homens conquistariam o céu.

São João Damasceno diz que ao ser cravado na cruz, Jesus ficava de frente para o povo e de costas para Jerusalém, porque a cidade não tinha acreditado nele.

O Senhor, do alto da cruz, viu sua Mãe. Com o olhar buscou consolo em quem mais o amava. Trinta anos de convívio faziam que Jesus conhecesse profundamente a bondade de sua Mãe e seu sincero amor. A Virgem Maria, Mãe de Deus, somente ela podia conhecer intimamente o Filho. Se pudéssemos entender o carinho e amor com que sempre se olhavam, saberíamos que agora os olhares eram de dor.

Embora a dor crescesse a cada instante, o amor não diminuía. Se Cristo amou tanto a Igreja, que se entregou por ela, imagine como amava a Virgem Maria, Mãe da Igreja, que tinha um valor muito maior. Ela que animaria e sustentaria a Igreja quando ele partisse.

O Filho se oferecia também por sua Mãe. Depois de sua morte, mais que ninguém, ela estaria em graça e com a força do Espírito Santo. A Virgem Maria olhava com amor, agradecimento e humildade, pois se com a morte Jesus se tornaria Rei e Senhor do Universo, ela que compartilhou toda a sua dor, seria procla mada Rainha e Senhora da Humanidade.

Jesus desejoso de conseguir para os homens a liberdade e acumular de graças sua Mãe, estendeu os braços sobre a cruz. Os executores, com fortes marteladas, cravaram-no na cruz. Ali estava o Rei dos reis pregado num madeiro e Maria cravada no seu coração.

Começou a escorrer sangue da cruz até o solo, eram como aqueles quatro rios que regavam o Paraíso e fertilizavam a terra, contudo este sangue era infinitamente mais precioso.

Jesus na cruz, sendo Deus, conservou a serenidade, mas não pode evitar que o rosto ficasse desfigurado e pálido.

O céu de Jerusalém reconhecia o seu Senhor e mostrava sua dor. A terra estremeceu e as pedras se quebravam, o dia escureceu. A Virgem Maria ficou mais firme que as pedras e mesmo com tanta dor não se rompeu como a terra. Sua alma permaneceu clara, mais brilhante que o sol, o rosto refletia dor e o corpo quase não aguentava ficar em pé.

Ao mesmo tempo foram crucificados com ele dois ladrões um à sua direita e outro à sua esquerda (Mt 27, 38), eJesus no meio (Jo 19, 18). Pilatos redigiu também uma inscrição e a fixou por cima da cruz. Nela estava escrito: Jesus de Nazaré, rei dos judeus. Muitos dos judeus leram essa inscrição, porque Jesus foi cruciricado perto da cidade e a inscrição era redigida em hebraico, em latim e em grego (Jo 19, 19-20).

São Mateus diz: Este é Jesus, o rei dos judeus (Mt 27, 37). São Lucas: Este é o rei dos judeus (Lc 23, 38). São Marcos apenas: O rei dos judeus (Mc 15, 26). Estes evangelistas se preocuparam apenas em dar o sentido da condenação, que é o mesmo em todos, embora com alguma variação. São João reproduz o texto completo, mais jurídico e detalhado: Jesus de Nazaré, rei dos judeus. (18)

Os outros dois ladrões também receberam a inscrição, pois era costume indicar a condenação. Pilatos decidiu colocar como título da inscrição que Jesus pretendia ser rei, se opondo a César, mas a decisão de Deus foi diferente, pois ficou escrito que realmente Jesus era Rei.

A Paixão do Senhor, Luis de La Palma, 1624.

(18) Em Roma, na Basílica de Santa Cruz em Jerusalém, encontra-se um fragmento (23cm x 13cm) da inscrição da Cruz. É considerado uma relíquia autentica.

Última atualização do artigo em 11 de janeiro de 2025 por Arsenal Católico

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