Deus meu, sabedoria infinita, iluminai a minha mente e ensinai-me o segredo da verdadeira sabedoria.
1 – Deus é sabedoria infinita pois conhece-Se perfeitamente a Si mesmo e a todas as coisas. Em Deus a sabedoria não é como em nós, distinta do ser, mas é o próprio ser de Deus. O ser de Deus é suma sabedoria, é raio intelectual luminoso, resplandecente, eternamente subsistente, que abrange e penetra toda a essência divina e, ao mesmo tempo, vê nela, como em sua causa, todas as coisas que existem e poderão existir. A sabedoria divina – diz a Sagrada Escritura – “atinge tudo por causa da sua pureza… É uma exalação do poder de Deus e como que uma pura emanação da claridade de Deus onipotente. É o clarão da luz eterna, o espelho sem mancha da majestade de Deus e imagem da Sua bondade” (Sab. 7, 24-26).
A sabedoria divina é, acima de tudo, um perfeito conhecimento de Deus. Nenhuma criatura, nem sequer os anjos e os bem-aventurados no céu, pode conhecer a Deus a ponto de esgotar a grandeza infinita do Seu ser. Só Deus Se conhece perfeitamente a Si mesmo, só a sabedoria divina pode esgotar as profundezas infinitas da Sua essência e dos Seus mistérios. Para nós, tão incapazes de conhecer a Deus tal qual Ele é, é um gozo imenso contemplar a sabedoria infinita que penetra todos os mistérios divinos, é um conforto imenso invocá-la e confiar-se a ela para que seja a nossa luz e o nosso guia no conhecimento de Deus.
A sabedoria divina é, pois, conhecimento perfeito de tudo quanto existe; nenhum erro pode haver nela, pois é verdade eterna e imutável. Nada lhe pode permanecer oculto ou misterioso, porque ela fez todas as coisas e por isso as conhece até à sua íntima essência; nada de novo há nelas que deva aprender, porque tudo vê desde toda a eternidade num eterno presente e nada, por insignificante que seja, se pode furtar à sua luz fulgurantíssima: “Até os próprios cabelos da vossa cabeça estão todos contados”, disse Jesus (Mt. 10, 30). Deus conhece-nos muito melhor do que nós mesmos nos conhecemos: todos os movimentos mais secretos do nosso coração, mesmo aqueles que escapam ao nosso controle, são-Lhe perfeitamente manifestos. Peçamos-Lhe a graça de nos conhecermos a nós mesmos na Sua luz, na Sua verdade eterna.
2 – A sabedoria divina conhece todas as coisas em Deus e em relação a Ele que é a sua causa primeira. Vê todas as coisas dependentes de Deus e por Ele ordenadas à Sua glória, por isso não as julga segunda as suas aparências exteriores, mas unicamente segundo o valor, o lugar, o significado que têm perante Deus. Os juízos da sabedoria divina estão pois infinitamente distantes dos nossos limitados juízos humanos que se detêm na pura materialidade das coisas: “Ó profundidade das riquezas da sabedoria e da ciência de Deus! – exclama S. Paulo – quão incompreensíveis são os Seus juízos e imprescrutáveis os Seus caminhos!” (Rom. 11, 33). E tanto mais incompreensíveis são para nós, quanto mais habituados estamos a julgar as coisas sob um ponto de vista oposto ao da sabedoria divina.
Conhecer as coisas em relação a Deus, estimá-las segundo o valor que têm na Sua presença, eis a verdadeira sabedoria, sabedoria que deves procurar adquirir à luz da sabedoria eterna. Observa quão longe estás dela quando julgas as criaturas e os acontecimentos só sob o ponto de vista humano, baseando-te unicamente na alegria e no prazer que te proporcionam. Esta sabedoria, que é a do mundo, “é loucura diante de Deus” (I Cor. 3, 19), porque julga as coisas em relação ao homem e não em relação a Deus, julga-as segundo as aparências e não segundo a realidade. Só quando te habituares a despojar-te da tua maneira de ver humana, demasiado subjetiva e interesseira, poderás ultrapassar as aparências das coisas para descobrir, à luz da fé, o significado e o valor que têm diante de Deus. Verás então claramente, que tudo o que o mundo tem em consideração – como uma grande inteligência, o êxito nas empresas, a estima das criaturas, etc. – é nada segundo a sabedoria divina, que julga imensamente superior o menor grau de graça ou o mínimo ato de caridade sobrenatural. Vê, pois, como te enganas quando te preocupas mais com o bom êxito dos teus negócios do que com o teu aproveitamento na virtude; vê como te enganas quando julgas o teu próximo segundo as suas qualidades naturais, segundo a simpatia ou antipatia natural que te inspira, sem ter em linha de conta o seu valor sobrenatural. A humilde consideração da tua ignorância há de fazer-te sentir mais do que nunca a necessidade de invocar a Sabedoria divina: “Ó Sabedoria que saístes da boca do Altíssimo, vinde ensinar-nos o caminho da prudência” (BR).
Colóquio – “Ó Sabedoria divina! Em ti há um espírito de inteligência santo, único, multíplice, sutil, discreto, ágil, imaculado, claro, suave, amigo do bem, penetrante, a quem nada pode impedir, benéfico, amante dos homens, benigno, estável, constante, seguro, que tudo pode, tudo vê, que encerra em si todos os espíritos, inteligente, puro, sutil. Com efeito, tu és mais ativa do que todas as coisas ágeis e atinges tudo por causa da tua pureza. Porque és uma exalação do poder de Deus onipotente, não se pode encontrar em ti a menor impureza. És o clarão da luz eterna, o espelho sem mácula da majestade de Deus e a imagem da Sua bondade. És uma só e podes tudo; permanecendo em ti mesma, renovas todas as coisas e, transfundindo-te nas almas santas, formas os amigos de Deus. És mais formosa do que o sol; comparada com a luz, vences, porque a esta sucede a noite, mas contra ti a malícia nada pode. Tu atinges fortemente desde uma extremidade à outra e dispões todas as coisas com suavidade.
“Deus de meus pais e Senhor de minha misericórdia, conVosco está a Vossa sabedoria que conhece as Vossas obras e se achava presente quando formáveis o universo e sabe o que é agradável aos Vossos olhos e o que é reto segundo os Vosso preceitos. Enviai-a dos Vossos santos céus e do trono da Vossa majestade, para que esteja comigo e comigo trabalhe, e para que eu saiba o que Vos é agradável. porque ela sabe todas as coisas e entende-as e me guiará nas minhas obras com prudência e me protegerá com o seu poder. Ó Senhor, os pensamentos dos mortais são tímidos, e incertas as nossas providências. E com dificuldade compreendemos o que há na terra, e com trabalho descobrimos o que temos diante dos olhos. Quem pode pois investigar as coisas do céu? E quem poderá conhecer os Vossos desígnios, ó Senhor, se Vós lhe não derdes a sabedoria e do mais alto dos céus não enviardes o Vosso Santo Espírito?” (Sab. 7, 22-30; 8, 1; 9, 1-7).
Intimidade Divina, Meditações Sobre a Vida Interior Para Todos os Dias do Ano, P. Gabriel de Sta M. Madalena O.C.D. 1952.