Ó Jesus, fazei-me compreender cada vez melhor o valor e o significado do Vosso sacrifício eucarístico.
1 – O centro do culto litúrgico é a Santa Missa. Como a obra redentora de Jesus culmina no Calvário pela Sua morte na cruz, assim a ação litúrgica, que prolonga a obra de Jesus no mundo, culmina na Santa Missa, que renova e perpetua sobre os nossos altares o Sacrifício da Cruz. Jesus quis que os preciosos frutos da Redenção, por Ele merecidos no Calvário para todo o gênero humano, fossem aplicados e transmitidos a cada fiel em particular, por meio da sua participação no Sacrifício eucarístico. Sobre os nossos altares, portanto, continua a correr aquela fonte de graça que Jesus Cristo abriu no Calvário, fonte de que todos os fiéis são obrigados a aproximar-se pelo menos uma vez por semana mediante a assistência à Missa dominical, mas da qual nos podemos aproximar também todos os dias, todas as vezes que participemos do Sacrifício do altar. A Santa Missa é verdadeiramente a “fonte d avida”; Jesus, ao oferecer-Se e ao imolar-Se continuamente sobre os nossos altares, repete-nos: “Se alguém tem sede, venha a mim e beba” (Jo. 7, 37).
“O augusto sacrifício do altar – diz a Encíclica Mediator Dei – não é uma pura e simples comemoração da Paixão e Morte de Jesus Cristo, mas um verdadeiro sacrifício, no qual, imolando-Se de um modo incruento, o Sumo Sacerdote renova o que fez outrora na Cruz”. A vítima é idêntica, assim como o Sacerdote, apenas é diferente o modo de fazer a oferta: no Calvário foi de um modo cruento, no altar é de um modo incruento. Mas se na Missa não vemos o Corpo despedaçado de Cristo e o Sague, no entanto, em virtude da Consagração, temos realmente presente aquele mesmo Corpo e Sangue; por outro lado, realizando-se esta divina presença sob espécies distintas, é misticamente renovada a morte cruenta do Calvário, com a real separação do Corpo e do Sangue do Salvador.
2 – O melhor modo de assistir à Santa Missa é o que nos faz participar mais na ação sublime que se realiza no altar. Para isso é muito recomendável o método litúrgico que, fazendo-nos recitar as mesmas orações do sacerdote, nos permite seguir mais de perto as várias partes do Santo Sacrifício. todavia, mais do que preocupar-se com a integridade da recitação – que é obrigatória só para o celebrante – é preciso procurar penetrar o significado das várias orações e sobretudo daquelas que acompanham os pontos principais da Santa Missa, como: o Ofertório, a Consagração e a Comunhão. O método litúrgico, porém, ainda que seja ótimo, não é o único. A Encíclica Mediator Dei nota expressamente que “as necessidades e as disposições das almas não são iguais em todos, nem permanecem sempre as mesmas em cada um”. Não é raro o caso, por exemplo, de certas almas sentirem a necessidade de fechar o seu missal para “saborear” e “penetrar” mais profundamente a própria substância da Missa, depois de terem seguido por muito tempo e com fruto o método litúrgico. Evidentemente, isto não é um retrocesso, mas um progresso. Em vez de atender, de uma maneira distinta, às várias cerimonias e orações, a alma sente necessidade de “se pôr em íntimo contato com o Sumo Sacerdote” (ib.). para se associar interiormente `Sua ação, à Sua oferta e à Sua imolação. Neste caso a alma segue a Missa de um modo mais contemplativo que litúrgico, isto é, com a simples “atenção amorosa” que é característica da oração contemplativa. Sem seguir necessariamente em todas as suas partes o desenrolar do sagrado Rito, a alma fixa nele o seu pensamento e o seu coração com um olhar geral, mas tornado penetrante pelo amor. E assim, entra cada vez mais na compreensão do Santo Sacrifício, adquire dele um “sentido” cada vez mais profundo e vê despertar em si um desejo mais eficaz de se associar a ele. Contudo será sempre bom que de tempos a tempos, volte ao seu missal – particularmente para seguir a liturgia dos domingos e dias festivos – pois nele descobrirá novas luzes, novos sentidos, que a ajudarão a penetrar cada vez melhor na substância do Santo Sacrifício.
Colóquio – “Ó Pai eterno, permiti que Vos ofereça o Coração de Jesus, Vosso diletíssimo Filho, como Ele mesmo Se oferece a Vós no Santo Sacrifício do Altar. Aceitai, se Vos aprouver, esta minha oferenda. Aceitai todos os desejos, os sentimentos, os afetos, os movimentos e os atos do Seu Coração sacrossanto: são todos meus, porque Ele os sacrifica por mim e eu protesto de futuro não querer outros desejos senão so Seus. Recebei-os em satisfação dos meus pecados e em agradecimento por todos os Vossos benefícios. Recebei-os para me concederdes, em virtude dos Seus méritos, todas as graças que me são necessárias, principalmente a graça da perseverança final. Recebei-os como outros tantos atos de amor, de adoração e de louvor que ofereço à Vossa divina Majestade, pois que somente por eles Vós sois dignamente honrado e glorificado.
“Ó meu Deus, eu Vos ofereço o Vosso Filho dileto em ação de graças por todo o bem que me fazeis, como minha súplica e minha oferta, minha adoração e meu tudo. recebei-O, ó Pai eterno, por tudo aquilo que desejais de mim, porque não tenho mais nada pra Vos oferecer que não seja indigno de Vós, a não ser Aquele de que Vós me concedeis gozar, com tanto amor”. (Santa Margarida M. Alacoque).
“Que darei eu ao Senhor por todos os benefícios que recebi dEle? Tomarei o cálice da salvação. Ó Jesus, dignai-Vos identificar-me de tal modo conVosco, que eu possa exprimir-Vos sem cessar aos olhos do Pai. Vós dissestes quando viestes ao mundo: ‘Eis que venho, ó Deus, para fazer a Vossa vontade!’. Fazei que esta oração seja um palpitar incessante do meu coração. Vós que todo Vos destes para cumprir a vontade do Pai, fazei que esta vontade seja o meu alimento e, ao mesmo tempo, a espada que me imole. E assim, juntamente conVosco, Mestre adorado, irei contente ao encontro de qualquer imolação, alegrando-me por ter sido reconhecida pelo Pai, pois Ele me crucifica juntamente conVosco” (cfr. I.T. II, 7 e 14).
Intimidade Divina, Meditações Sobre a Vida Interior Para Todos os Dias do Ano, P. Gabriel de Sta M. Madalena O.C.D. 1952.