Meu Deus, concedei-me a graça de conservar a união com o próximo pelo vínculo da caridade e da paz.
1 – Como Jesus, no curso da Sua vida terrena, não cessou de recomendar a caridade e a união fraterna, assim a Igreja, nas Missas dominicais, continua a inculcar-nos esta virtude. Hoje fá-lo servindo-se de um trecho da carta de S. Paulo aos Efésios (4, 1-6): “Rogo-vos que andeis dum modo digno da vocação a que fostes chamados, com toda a humildade e mansidão, com paciência, com toda a humildade e mansidão, com paciência, suportando-vos uns aos outros por caridade, solícitos em conservar a unidade do espírito pelo vínculo da paz”. O chamamento que recebemos foi a vocação ao cristianismo, a vocação ao amor. Deus, caridade infinita, adota-nos como Seus filhos a fim de que rivalizemos com a Sua caridade a tal ponto que seja o amor o vínculo que nos una a todos num só coração, como o Pai e o Filho estão unidos numa só Divindade pelo vínculo do Espírito Santo. “Como Tu, Pai, o és em mim e eu em Ti, que também eles sejam um em nós”, pediu Jesus para nós (Jo. 17, 21).
“Conservar a unidade pelo vínculo da paz”: eis uma coisa fácil e difícil ao mesmo tempo. Fácil porque, quando o coração é verdadeiramente humilde, manso e paciente, tudo suporta com amor, tendo maior cuidado em se adaptar à mentalidade e aos gostos alheios do que em fazer vale os seus. Difícil porque, enquanto estivermos no mundo, o amor próprio, apesar de mortificado, tenta sempre ressurgir e afirmar os seus direitos, criando constantes ocasiões de choques recíprocos. Para os evitar é preciso muita renúncia de si mesmo e muita delicadeza para com os outros. Devemos persuadir-nos de que tudo o que perturba, enfraquece ou, o que é pior, destrói a união, não pode agradar a Deus, mesmo que o façamos sob pretexto de zelo. Excetuando o cumprimento do dever e o respeito pela lei de Deus, devemos preferir sempre renunciar às nossas ideias, embora boas, a discutir com o próximo. Dá muito mais glória a Deus um ato de renúncia humilde a favor da união, dá muito mais glória a Deus a paz entre os irmãos, do que uma obra grandiosa que possa causar discórdia e desentendimento.
2 – O excesso de personalismo, o grande desejo de agir cada um a seu modo são muitas vezes causa de divisões entre os bons. Dada a nossa limitação, as nossas ideias não podem ser de tal modo absolutas que não admitam as ideias dos outros. Se o nosso modo de ver é bom, reto, luminoso, pode haver outros igualmente bons e até melhores; por isso, em vez de o rejeitarmos por não sabermos renunciar a opiniões demasiado pessoais, é mais prudente, humilde e caritativo aceitar o modo de ver alheio, procurando conciliá-lo com o nosso. Este personalismo é inimigo da união, é um obstáculo para o maior êxito das obras e mesmo para o nosso progresso espiritual.
Na Epístola de hoje S. Paulo apresenta-nos todos os motivos que temos para nos mantermos unidos: “[sede] um só corpo e um só espírito como fostes chamados a uma só esperança pela vossa vocação; há um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus e Pai de todos”. Se Deus quis salvar-nos e santificar-nos unidos a Cristo e formando com Ele um só corpo, dando-nos uma única vocação, uma única fé, uma única esperança e sendo Ele o Pai de todos, como pretenderemos salvar-nos e santificar-nos separando-nos uns dos outros? Se não queremos frustrar o plano de Deus e pôr em perigo a nossa santificação e salvação, temos de estar prontos para qualquer sacrifício pessoal a fim de mantermos e consolidarmos a união. Lembremo-nos de que jesus pediu para nós não só a união, mas a união perfeita: “que sejam consumados na unidade” (Jo. 17, 23).
Também o Evangelho de hoje (Mt. 22, 34-46) vem reforçar este incitamento à união, visto Jesus repetir que o mandamento do amor do próximo é, juntamente com o do amor de Deus, o fundamento de “toda a lei”, de todo o cristianismo. Não desprezemos estes chamamentos contínuos à caridade e à união; a Igreja insiste neste ponto, pois nele insistiu Jesus, porque a caridade “é o mandamento do Senhor e se ele é observado, basta” (S. João Ev.).
Colóquio – “Ó Verbo, Filho de Deus, Vós olhais com maior complacência para uma obra feita em união e caridade fraterna do que para mil em desunião. Agrada-Vos mais uma ação insignificante, com um abrir e fechar de olhos, feita em união e caridade, do que se eu padecesse o martírio em desunião e sem caridade. Onde há união, ali estais Vós, porque Vos chamais caridade: ‘Deus caritas est’. Chamais-Vos Deus de paz e de união: ‘Deus pacis’. Sois o autor da paz e sem Vós não pode haver nem verdadeira paz nem união. A paz e a união entre os pecadores são falsas e de curta duração porque, estando os seus corações dominados pela tirania do pecado e das paixões, quebra-se facilmente o vínculo que os unia, vínculo mais fraco do que um fio de estopa. Assim, somente de Vós, ó Deus, procede a perfeita união; e onde há desunião, reina a confusão por causa do pecado e do demônio. Com que desejo ardente deveríamos procurar esta união e com quanta vontade a deveríamos procurar esta união e com quanta vontade a deveríamos amar! Onde há união, há todos os bens, abundância de todas as coisas, de todas as riquezas celestes e terrestres.
“Ó Santíssima Trindade, concedei-nos, pois, a graça de vivermos unidos uns aos outros, de conservarmos a união de espírito, tendo um mesmo querer e sentir, imitando a indivisível unidade que existe entre as três Pessoas divinas” (S.ta M. Madalena de Pazzi).
“Onde há amor e caridade, aí habitais Vós, Senhor! O Vosso amor, ó Cristo, congregou-nos num só corpo e num só coração; concedei-nos, pois, amarmo-nos com um coração sincero. Afastai de nós as dissensões e contendas; fazei que os nossos corações estejam sempre unidos em Vós e Vós sempre no meio de nós” (da Liturgia).
Intimidade Divina, Meditações Sobre a Vida Interior Para Todos os Dias do Ano, P. Gabriel de Sta M. Madalena O.C.D. 1952.
Última atualização do artigo em 25 de janeiro de 2025 por Arsenal Católico