Vinde, Espírito Santo, enchei o meu coração e acendei nele o fogo da caridade.
1 – O Pentecostes é a plenitude do dom de Deus aos homens. No Natal Deus dá-nos o Seu Filho Unigênito, Jesus Cristo, o Mediador, a ponte que une a humanidade à divindade. Na Semana Santa, pela Sua Paixão até á morte de cruz, Jesus dá-Se inteiramente por nós; lava-nos, purifica-nos, santifica-nos com o Seu Sangue. Na Páscoa, Cristo ressuscita e a Sua Ressurreição, como depois a Sua Ascensão ao céu, é penhor da nossa; Ele procede-nos na casa do Pai para nos preparar o lugar, pois que nEle e por Ele começamos a fazer parte da Família divina, tornamo-nos filhos de Deus, destinados à bem-aventurança eterna. Mas o dom de Deus aos homens não se limita a isso: tendo subido ao céu, Jesus, juntamente com o Pai, envia-nos o Seu Espírito, o Espírito Santo. O Pai e o Espírito Santo amaram-nos a ponto de nos darem o Verbo, por meio da Incarnação; o Pai e o Verbo amaram-nos até nos darem o Espírito Santo. É toda a Trindade que Se dá aos homens, que Se inclina sobre este pobre nada para o remir do pecado, para o santificar, para o introduzir na Sua intimidade. Esta é a excessiva caridade com que Deus nos amou e o dom divino às nossas almas culmina com o dom do Espírito Santo, que é o dom por excelência: “Domum Dei Altissimi“. O Espírito Santo, vínculo e penhor do amor mútuo do Pai e do Filho, que recebe, sela e coroa a Sua doação recíproca, é dado às nossas almas pelos méritos infinitos de Jesus, a fim de levar a bom termo a obra da nossa santificação. O Espírito Santo, que desce sobre os Apóstolos sob a forma de línguas de fogo, diz-nos como Ele, Espírito de amor, nos foi dado para nos transformar com a Sua caridade e, assim transformados, no reconduzir a Deus.
2 – O dom do Espírito Santo não é um dom passageiro, mas permanente. De fato, para a alma que vive na caridade, Ele é o doce hóspede que habita nela: “Se alguém me ama – diz Jesus e lemo-lo no Evangelho da Missa deste dia (Jo. 14, 23-31) – viremos a ele e faremos nele morada”. Todavia, esta inabitação da Trindade, e por conseguinte, do Espírito Santo, na alma em graça, é um dom que pode e quer crescer, é uma doação contínua. A primeira doação realizou-se em nós no dia do nosso batismo; foi depois renovada, confirmada, de modo especialíssimo, com o crisma – o sacramento da Confirmação que é como que o Pentecostes de cada alma cristã – e em seguida, a cada aumento de caridade, renova-se este dom e o Espírito Santo, com o Pai e com o Filho, dá-Se à alma de um modo mais pleno, mais profundo, mais penetrante. Muito a propósito, o Evangelho de hoje fala-nos da caridade que é, ao mesmo tempo, a condição e a consequência da inabitação do Espírito Santo nas nossas almas; condição, porque, segundo a palavra do próprio Jesus, as Pessoas divinas habitam só na alma que ama; consequência, porque “a caridade de Deus está derramada nos nosso corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rom. 5, 5). No santo Batismo fomos amados por Deus com um amor totalmente preveniente, isto é, sem qualquer mérito da nossa parte, mas unicamente pelos méritos de Jesus, foi-nos dado o Espírito Santo que difundiu em nós a caridade. Em seguida, cada vez que correspondemos aos convites divinos e fazemos atos generosos de caridade, Ele renova a Sua visita invisível à nossa alma, difunde sempre em nós nova graça e nova caridade. Assim, a nossa vida sobrenatural desenvolve-se sob a ação do Espírito Santo, inteiramente presa pela corrente vivificante e transformante do Seu amor. Compreendemos deste modo como a festa do Pentecostes pode e deve representar uma nova difusão do Espírito Santo na nossa alma, uma nova visita Sua, mediante a qual nos enche dos Seus dons: “Veni, creator Spiritus – mentes tuorum visita, imple superna gratia – quae tu creasti pectora“.
Intimidade Divina, Meditações Sobre a Vida Interior Para Todos os Dias do Ano, P. Gabriel de Sta M. Madalena O.C.D. 1952.