Cinco eram loucas, e cinco prudentes (Mat XXV, 2).
Era meia noite quando se ouviu uma voz clamando: Chegou o esposo, saí depressa a recebê-lo (1).
Passaram já os breves dias deste mundo, acabou-se já o tempo do trabalho: eis que chega o Rei da eternidade, para dar a cada um a sua recompensa.
Apresentam-se dez virgens: mas apenas cinco são admiradas ao banquete nupcial do céu: as outras cinco são dele excluídas implacavelmente.
Como assim, Salvador divino? podia dizer alguma delas. Não sou eu também criatura Vossa, incorporada pelo batismo no corpo místico da Igreja? E não sou também cristã, não tenho o nome de católica?
É por isso mesmo que te condeno: foste ingrata deixando de cumprir as tuas obrigações, como criatura minha e como cristã.
Houve tempo em que me reconhecias por teu senhor, e em que não eras insensível ao meu amor; mas não tardaste em deixar entrar no teu coração outro amor, o amor do mundo. Foi então que me apartei de ti. Não te conheço.
Levantaram-se no teu coração as paixões, o amor aos prazeres, às riquezas, às honras: converteste-los em ídolos teus, ofereceste-lhes todas as coisas. Eu houve de me separar de ti. Não te conheço.
Iam-se tornando cada vez menos frequentes os teus testemunhos de amor; cada vez oravas menos, cada vez te entibiavas mais no serviço de Deus: a luz da fé apenas ardia na tua alma, porque te ia faltando o azeite da caridade e das boas obras. As tuas faltas, ao princípio leves, foram-se tornando cada vez maiores, até que vieste finalmente a cair em pecado mortal e chegaste a afastar-te totalmente de mim. Não te conheço.
Quantas vezes te avisei pela voz dos teus pais, diretores e amigas! Quantas vezes te procurei persuadir, quantas te ameacei suavemente com casos de morte e perdas temporais! Mas tu lançaste ao vento todos os avisos! Não te conheço.
Que fizeste, louca? Deste maior crédito ao espírito da mentira do que a mim. Ele converteu-se em teu senhor, e tu serás eternamente a sua escrava. Não te conheço.
Oh! Senhor! Apartai benigno de mim tal infelicidade, e dizei-me aquelas consoladoras palavras com que saudastes as virgens prudentes:
Levanta-te, apressa-te, amiga minha, pomba minha, formosa minha, e vem (2).
Porque o inverno já passou, já acabaram e se dissiparam totalmente as chuvas (3). Terminou o tempo da prova, das tentações, das angústias e tristezas. Foi breve a luta: a recompensa será eterna. Entra na alegria do teu Senhor (4).
Agora compreenderás como a minha misericórdia visitando-te noutro tempo, se afastou das criaturas que se interpunham entre o teu amor e o meu. O teu coração jorrava sangue, quiseste apartar-te do teu Senhor; mas com a assistência da minha graça o teu amor saiu purificado e fortalecido da prova. Entra na alegria do teu Senhor.
A prova passou. Perseveraste até ao fim; seguiste-me pelo caminho da cruz até ao Calvário, até à cruz, até à morte. Entra, serva boa e fiel, entra na alegria do teu Senhor.
Junta a tua voz às que entoam o admirável cântico das virgens que acompanham o Cordeiro. Descortina-se aos teus olhos um novo mundo, e começa para ti uma vida nova, vida sem morte, sem tristeza, sem lamentos, sem dores (5), alegria eterna, eterno júbilo, eterno encanto, na presença e na posse do Deus três vezes santo. Amen. Vinde, Senhor Jesus (6).
Nem te fascinaram os falsos prazeres e honras do mundo, nem te deixaste seduzir por eles: pelo contrário o teu coração correu após os bens eternos. Entra na alegria do teu Senhor.
É certo que na tua alma se levantaram as paixões, o afã de gozar, a avareza e o orgulho; mas a minha graça ajudou-te a prender e a apanhar essas raposas (7), antes que crescessem e assolassem a vinha; e o teu amor aumentou, fortificou-se na luta contra o inferno, o mundo e a carne, e as águas da tribulação não puderam apagá-lo. Recebe agora o prêmio da tua fidelidade. Entra na alegria do teu Senhor.
A Virgem Prudente, Pensamentos e Conselhos acomodados às Jovens Cristãs, por A. De Doss, S.J. versão de A. Cardoso, 1933.
(1) Mat. XXV, 6.
(2) Cant. II, 10.
(3) Cant. II, 11.
(4) Mat. XXV, 21.
(5) Cant. II, 15.
(6) Apoc. XXI, 4.
(7) Apoc. XXII, 20.