Caminhai em Cristo, enraizados e edificados nele (Col. II, 6-7).
A virtude não consiste em fazer uma obra boa e isolada, mas, na disposição adquirida pelo hábito de proceder ordinariamente bem.
A virtude puramente natural, isto é, aquela disposição e presteza para as obras que se funda em motivos puramente naturais, e que deles procede não é digna de recompensa sobrenatural.
A virtude dos cristãos deve ser sobrenatural: isto é, deve-se fundar em motivos sobrenaturais, e praticar com o auxílio da graça.
Porque é que as virgens fátuas foram expulsas pelo esposo celeste e mereceram ouvir aquelas espantosas palavras: Não vos conheço? Não eram acaso virgens, como as companheiras? Sim; mas a sua virtude era meramente natural, e não estava animada pelo espírito de Deus. Faltava-lhes o óleo do amor divino, porque com a virtude buscavam apenas a admiração e louvor dos homens.
Se quiseres saber o que é a virtude verdadeira põe os olhos no Salvador. Vós deveis jugar, como jugou Cristo (1). toda a virtude que não se assemelhar á dele, de virtude tem apenas o nome.
Toda a vida do Salvador, todos os seus pensamentos e obras se dirigiram a fazer a vontade do Pai celestial, a cumprir a missão que ele lhe tinha encomendado.
É ele quem o afirma sublime e santamente: Eu não procuro a minha glória (2).
Se eu não fazer as obras do meu Pai, não creiais em mim (3). O meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou (4).
Por isso ocultou-se quando o quiseram proclamar rei, para correr depois ao encontro dos tormentos e da morte cruenta na cruz.
Que amor tão inefável ao Pai! Que amor tão ilimitado aos homens! Que absoluta renúncia de si mesmo!
Jesus não buscou coisa alguma para si; apenas tomava o que a natureza reclamava como indispensável, e o que era conveniente ao cumprimento da sua missão celestial.
Colocou-se inteiramente nas mãos do Pai; a ele confiou as pequeninas necessidades da sua natureza humana, e toda a sua exaltação e glorificação, prêmio da sua heroica obediência até à morte.
O seu único desejo era fazer a vontade do Pai: quando ela se cumpria, não procurava mais nada.
Jesus não reprovou as riquezas, mas escolheu a pobreza; não condenou certos prazeres; mas abraçou-se com a dor, a perseguição e a cruz; não recusou totalmente as honras, mas preferiu a obscuridade e as humilhações. E tudo isto, só a fim de glorificar melhor o Pai, e de mostrar aos homens quão perigosos são os bens temporais, os prazeres e as honras.
Condena com rigor e severidade os pecados que procedem da maldade do coração, e é suave e indulgente com os fracos.
Odeia a falsa justiça: a falsidade e a hipocrisia são abomináveis aos seus olhos.
No seu porte exterior é atraente, nobre e afável. Desceu do céu por amor dos homens; fez-se todo para todos (5), e cada um dos seus passos ficou assinalado por algum benefício.
Sofre com indescritível paciência as fraquezas dos que o rodeiam; é condescendente e compassivo, a ninguém rejeita, nem ainda aos maiores pecadores.
As perseguições não o rendem; permanece impávido na presença dos mais encarniçados inimigos; dá sempre testemunho da verdade (6); a verdade e a inocência da vida, são as únicas armas com que se defende. Considera os inimigos como instrumentos da justiça divina; padece, perdoa e morre, oferecendo-se como vítima até pelos próprios verdugos.
Oh! que sublime e divino exemplo de virtude! Esta é que é a virtude verdadeira, evidente e positiva, sem vãs aparências e exterioridades, sem nada de arbitrário.
Repara pois, ó jovem; considera no abandonado divino, e procura imitá-lo (7).
A Virgem Prudente, Pensamentos e Conselhos acomodados às Jovens Cristãs, por A. De Doss, S.J. versão de A. Cardoso, 1933.
(1) Fil. II, 5.
(2) Joan. VII, 50.
(3) Joan. X, 37.
(4) Joan. IV, 34.
(5) Cor. IX, 22.
(6) Joan. XVIII, 37.
(7) Ex. XXV, 40.
Última atualização do artigo em 5 de março de 2025 por Arsenal Católico