A terra está mergulhada na desolação, porque não há quem considere no seu coração. (Jer. XII, 11).
Porque será, ó jovem, que é tão fraca a luz do teu entendimento (1), e tão escasso, o vigor da tua vontade?
Tanta debilidade e fraqueza não provirá acaso da tua leviandade juvenil, que foge de todo o pensamento grave e de toda a resolução decidida?
Porque será tão estranha para ti a palavra que eu revelei? Porque será que as grandes verdades da salvação impressionam tão raramente o teu coração e não chegam a penetrar nele?
Passas os dias nas tuas ocupações e trabalhos, e deixas-te arrastar por mil distrações e pelos pequeninos cuidados das coisas terrenas. não tens um instante de repouso e de sossego, nem um momento de recolhimento e de reflexão.
Assim, não é possível ouvires-me a mim que sou o teu Criador, porque eu não ando no meio do ruído e da agitação (2). Não é possível também veres-te a ti, trazendo os olhos tão deslumbrados com a visão de figuras estranhas.
E se alguma vez bato às portas do teu coração com um pensamento santo, tu procuras afastá-lo e dissipá-lo; extingue-se como a luz da candeia, por falta de azeite.
Donzela cristã, serão acaso infundadas estas censuras, que te dirige o teu Deus e Senhor?
O defeito principal das jovens é a volubilidade e a falta de juízo. A inconstância da fantasia, o afã dos sentidos em procurar todos os dias novas impressões, eis as causas da sua irreflexão.
E é exatamente por isso que a juventude necessita de um contrapeso que preserve o frágil batel da vida dos muitos perigos que a ameaçam.
Mas tu perdes-te, jovem cristã, consagrando-te ao serviço do mundo exterior, e distraindo-te com a multidão de negócios que prendem a tua atenção.
As impressões sucedem-se rapidamente…; por tudo te interessas vivamente. Só a ti e à tua salvação deixas de atender.
Porque não consideras com mais frequência que estás na presença de Deus, avivando deste modo o teu amor para com ele?
Porque não meditas mais a miúdo nas grandes verdades eternas, como nos admoesta o Espírito Santo quando diz: Lembra-te dos teus novíssimos, e não pecarás jamais? (3)
Porque não lês algum livro que te mova interiormente e te instrua nos teus deveres?
Sem reflexão não pode haver progresso, virtude ou salvação.
O espírito inconstante dissipa os bons pensamentos; perde as ocasiões que se lhe oferecem de praticar obras de virtude; não ouve os avisos da consciência; despreza os perigos; lança-se inconsideradamente no pecado, e diverte-se à borda do abismo.
Oh! a terra está desolada, porque não há quem medite no seu coração! (4)
Queres ser do número das virgens néscias, que olham a vida como um jogo e um recreio, e que passam os dias sem jamais pensarem no seu destino eterno?
Para tudo te sobra tempo! Só o não terás para a única coisa necessária, para aquilo que dá verdadeiro valor e importância à tua vida?
A Virgem Prudente, Pensamentos e Conselhos acomodados às Jovens Cristãs, por A. De Doss, S.J. versão de A. Cardoso, 1933.
(1) Joan. XII, 35.
(2) 3 Reis XIX, 11.
(3) Ecl. VII, 40.
(4) Jer. XII, 11.
Última atualização do artigo em 28 de dezembro de 2024 por Arsenal Católico