Fazei, Senhor que o meu amor por Vós não se contente com palavras, mas se demonstre em obras generosas.

1 – “O amor nunca está ocioso” (T.J. M. V, 4, 10); quando o verdadeiro amor de Deus penetra numa alma, a pouco e pouco gera nela um dinamismo interior tão forte e premente que a impele a procurar sempre novos meios para agradar ao Amado e a torna hábil na descoberta de novas maneiras de Lhe provar a sua fidelidade. O amor, efetivamente, não se nutre de sentimentos suaves ou de fantasias, mas de obras. O amor, diz S.ta Teresa de Jesus “pode comparar-se a um grande fogo que, para não se apagar, necessita de ter sempre que queimar. Assim são estas almas [nas quais o próprio Deus vai acendendo a chama da caridade], que com o maior sacrifício quereriam trazer lenha para que não se apagasse este fogo” (Vi. 30, 20). O que ama verdadeiramente não se põe a examinar se uma coisa é fácil ou difícil, agradável ou desagradável, mas de tudo lança mão para alimentar o seu amor; assim, escolhe de preferência as obras mais custosas, porque compreende que o amor nunca é tão verdadeiro como quando impele alguém a sacrificar-se por Aquele a quem ama. Assim acontece que “a alma passa, por causa do Amado, um contínuo sofrer sem se fatigar. Porque, como diz S.to Agostinho, todas as coisas grandes, árduas e pesadas são quase nada para o amor. O espírito tem neste estado tanta força que tem a carne tão sujeita e tão em pouco, como a árvore uma das suas folhas. A alma não busca aqui de maneira alguma a sua consolação nem gosto, nem em Deus, nem noutra coisa” (J.C. N. II, 19, 4).

Isto explica a atitude dos Santos que, não só abraçavam de boa vontade todos os sofrimentos postos por Deus no seu caminho, mas iam eles próprios à sua procura com zeloso cuidado, como o avarento vai à busca do ouro. Ao Senhor que lhe perguntava o que queria como recompensa dos grandes serviços que Lhe tinha prestado, João da Cruz, ardendo de amor, respondia: “Padecer e ser desprezado por Vosso amor”. E S.ta Teresa de Jesus, vendo prolongar-se o seu exílio terreno, achava no sofrimento abraçado por Deus o único meio de acalmar o seu coração sedento de amor eterno e suplicava: “Senhor, ou morrer ou padecer; não Vos pelo outra coisa para mim” (Vi. 40, 20).

No céu não teremos necessidade de sofrer para testemunhar a Deus o nosso amor porque então amaremos na claridade indefectível da visão beatífica. mas na terra, onde amamos na obscuridade da fé, o sofrimento é necessário para provarmos a Deus a realidade do nosso amor.

2 – “O amor, quando é perfeito, tem a força de nos fazer esquecer o nosso contentamento para contentar Aquele a quem amamos, tem a força de nos fazer aceitar tão alegremente o saboroso como o amargo quando entendemos que o quer Sua Majestade” (T.J. Fd 5, 10). Evidentemente, um amor semelhante não pode ser fruto da nossa natureza humana, à qual tanto repugna o sofrimento, não pode ser fruto do nosso esforço, porque excede em muito a capacidade da nossa natureza tão fraca e vil. Só Deus infunde pouco a pouco um tal amor nas almas que se deixam guiar por Ele através do caminho estreito da purificação interior. Sim, na aridez, na solidão do coração, na privação de toda a luz e conforto, o Espírito Santo acende nelas a chama da caridade, chama que tanto mais as invade quanto mais dispostas as encontrar, isto é, quanto mais purificadas de tudo o que for contrário ao amor. Quando todas as resistências estão vencidas, todas as escórias eliminadas, o amor arde irresistivelmente e confere à alma uma força de gigante, porque a chama do amor – explica S. João da Cruz – “a faz sair fora de si, renovar toda e passar a nova maneira de ser” (C. 1, 17). Maneira tão nova que, enquanto anteriormente ela temia e fugia do sofrimento, agora ama-o e abraça-o com energia.

A alma mais forte no padecer é a mais forte no amar. Nenhuma criatura do mundo amou nem amará mais a Deus do que Maria Santíssima, e nenhuma foi e será mais forte do que ela no sofrimento. Ei-la aos pés da cruz: é Mãe e assiste voluntariamente ao suplício atroz do Filho; vê os cravos enterrarem-se nas Suas carnes, ouve os golpes surdos do martelo, vê a cabeça coroada de espinhos buscar em vão um pouco de repouso sobre o duro lenho, vê levantarem a cruz e o Filho pender suspenso entre o céu e aterra, desfigurado pela dor, sem o mais pequeno conforto. Maria tem o coração trespassado, e todavia repete o seu fiat com a mesma plenitude com o que pronunciou ao receber o anúncio jubiloso da sua maternidade: no amor encontra coragem para oferecer o Filho amado pela salvação dos Seus verdugos. Que mãe poderá rivalizar com a fortaleza da Virgem? O seu sacrifício ultrapassa imensamente o sacrifício de qualquer mãe porque só ela pode dizer: o Filho que imolo é o meu Deus.

Aos pés da Cruz, junto de Maria, Rainha dos Mártires pelo amor e pela do, aprendamos o segredo do amor forte.

Colóquio – “Quem deveras Vos ama, ó Senhor, não pretende outra coisa senão contentar-Vos. Anda morrendo porque o ameis e assim daria a vida para entender como Vos agradará mais. Um tal amor poderá esconder-se? Oh! meu Deus, se deveras é amor, é impossível! O amor tem, sem dúvida, os seus graus e manifesta-se mais ou menos consoante a força que tem; se é pouco, dá-se a conhecer pouco, e se é muito, muito; mas, pouco ou muito, quando é verdadeiro amor, sempre se dá a conhecer.

“Ó Senhor, fazei que o meu amor não seja fruto da minha imaginação, mas provado com obras. E que poderei eu fazer por Vós, que morrestes por nós, que nos criastes e destes o ser, sem que me dê por venturosa por se ir descontando ao menos alguma coisa do muito que Vos devo?

“Fazei, ó meu Deus, que venha algum tempo em que Vos possa pagar algo do muito que Vos devo! Custe o que custar, não permitais, Senhor, que me apresente diante de Vós com as mãos tão vazias, pois o prêmio será dado segundo as obras. Bem vejo o pouco que posso, mas unida a Vós poderei tudo.

“Ah! Senhor meu, se quem Vos ama não faz grandes obras, não é por Vós faltardes, mas unicamente por nossa cobardia e pusilanimidade. Estamos cheios de mil temores e prudências humanas e nunca nos determinamos; por isso, meu Deus, não operais as Vossas maravilhas e grandezas. Quem mais do que Vós é amigo de dar se tiver a quem e de receber serviços à Sua própria custa? Praza a Vossa Majestade tenha eu feito algum por Vós e não fique ainda mais devedora pelo muito que tenho recebido!” (T.J. Cam. 40, 5; M. III, 1, 7 e 8; Vi. 21, 5; Fd. 2, 7).

Intimidade Divina, Meditações Sobre a Vida Interior Para Todos os Dias do Ano, P. Gabriel de Sta M. Madalena O.C.D. 1952.

Última atualização do artigo em 8 de março de 2025 por Arsenal Católico

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