Ao encontro do Espírito Santo

Francisco Caro, A Santissima Trindade [detalhe], 1630, Museu do Prado, Public Domain -Wikimedia Commons

Vinde, Espírito Santo, invadi-me e atuai em mim.

1 – Ao considerarmos os dons do Espírito Santo e as bem-aventuranças que são os seus frutos, compreendemos cada vez melhor de que maravilhosas riquezas Deus nos dotou. Todo o cristão possui estes dons preciosos desde o dia do seu batismo; por consequência não é temerário desejar que se desenvolvam em nós até à maturidade, de tal modo que a nossa alma possa ser totalmente invadida pela ação do Espírito Santo. Com este desejo vamos ao encontro do desejo do próprio Deus que nos deu estes dons para que possamos ser movidos e guiados pelo Seu Espírito “porque todos aqueles que são conduzidos pelo Espírito de Deus, são filhos de Deus” (Rom. 8, 14). Se nós desejamos ser verdadeiramente filhos de Deus, porventura não o deseja imensamente mais o pai celeste que para isto nos criou e nos elevou ao estado de graça?

Alimentemos, pois, nas nossas almas grandes desejos: não, não é demais, não é temerário, não é presunção; Deus o quer: “voluntas Dei santificatio vestra” (I Tess. 4, 3), esta é a vontade de Deus, a nossa santificação! Mas para que os nossos desejos não sejam vãos, apliquemo-nos com generosidade sempre crescente a dispor a nossa alma à ação do Espírito Santo. Persuadamo-nos de que, antes de nos fazer saborear Deus e a Sua divina união, o divino Paráclito tem de realizar em nós uma obra de purificação profunda, porque assim como o madeiro verde não pode ser penetrado pelo fogo se não for primeiramente seco e liberto de toda a humidade, também a alma não pode ser invadida e transformada pelo fogo do amor divino se não estiver de antemão purificada de todas as suas imperfeições. Disponhamo-nos, pois, a sofrer com ânimo esta purificação indispensável; ou antes, procuremos nós antecipá-la, cortando sem piedade todos os laços que ainda nos prendem à terra, sobretudo os que nos prendem ao nosso amor próprio e ao nosso orgulho. “Ó humildade, humildade… – exclama Teresa de Jesus – o mal daqueles que não avançam [nas vias do espírito] está todo aqui”, na falta de humildade, “porque a humildade é o alicerce do edifício e o Senhor não quererá levantá-lo muito alto se esta virtude não for bem verdadeira” (M. III, 1, 7; 2, 8; VII, 4, 8).

2 – A generosidade, ao desapego e à humildade unamos a oração fervorosa para invocar a ação do Espírito Santo. Elevemos-Lhe as nossas súplicas com as mesmas palavras da Igreja:

“Veni, Creator Spiritus…
Accende lumen sensibus – infunde amorem cordibus,
infirma nostri corporis – virtute firmans perpeti”.

Nas trevas dos nossos sentidos necessitamos da luz interior: que o divino Espírito Santo venha e, acendendo em nós esta luz, nos faça conhecer a Deus por meio da contemplação amorosa das Suas grandezas. Precisamos de caridade: que Ele venha infundi-la nos nossos corações, muitas vezes tão áridos e frios porque cheios de amor próprio e de egoísmo. “A caridade de Deus foi derramada em nossos corações pelo Espírito Santo” (Rom. 5, 5), só dEle a podemos receber. Temos necessidade de fortaleza para nos vencermos a nós mesmos, para enfrentarmos as dificuldades, para nos mantermos serenos e generosos; que Ele nos venha sustentar com os Seus dons e já não seguiremos as loucas exigências do amor próprio; já não nos deixaremos amedrontar, impressionar pelo sofrimento, pelas dificuldades; não perderemos tão facilmente a paz no meio das contrariedades; fortes da Sua fortaleza, poderemos manter aquele equilíbrio interior e aquela serenidade que nos permitirão ser sempre generosos, estar sempre prontos para nos darmos totalmente a Deus.

“Hostem repellas longius – pacemque dones protinus…”

Quando o Espírito Santo nos tiver conduzido àquele perfeito equilíbrio que é a santidade, já nada teremos a recear do demônio; o maligno fugirá para longe e se alguma vez conseguir perturbar-nos ainda, não poderá fazer mais do que aproximar-se do limiar da sensibilidade, enquanto que, sob a poderosa proteção do Espírito Santo, o fundo da nossa alma permanecerá em paz.

O total equilíbrio e a perfeita paz são as características da vida de união com Deus. O Espírito Santo introduzir-nos-á nesta união e far-nos-á progredir nela até penetrarmos no santuário da vida íntima de Deus, na vida trinitária. Este é o fruto mais precioso da Sua ação nas nossas almas; fruto excelente, penhor da eterna glória, fruto que amadurecerá completamente no céu, na visão beatífica do nosso amantíssimo Deus.

Colóquio – “Ó Espírito Santo, Vós tirais, por assim dizer, um raio puríssimo e luminosíssimo da glória do Pai e uma seta ardentíssima e agudíssima de amor do Verbo Incarnado para iluminar e entenebrecer, para ferir e curar, para inflamar, para arrefecer, humilhar ou fascinar, para glorificar as criaturas que Vos recebem no coração e fazê-las caminhar no amor. E quem poderá narrar quantos e quais são os Vossos influxos? São tantos, tantos, que não têm número.

“Mas onde ides Vós derramando os Vossos dons e as Vossas graças? Nas almas que achais bem dispostas: a essas renovais e conduzis ao conhecimento de Deus. Que é, pois, Deus meu, o que priva a alma do Vosso Espírito? É o perverso amor próprio, fonte e origem de todo o pecado. Oh! infelizmente bem vejo quão submerso e afogado está o mundo no amor próprio! Todos se vão submergindo nele: este com a inteligência, aquele com a memória, um terceiro coma vontade, um outro, enfim, com toda a sua alma. E o que mais Vos desagrada, ó Deus, é que este perverso amor habite por vezes nos vossos ministros e nas Vossas esposas. Não nos pareça pequena a desordem do nosso amor próprio e da nossa vontade própria. Para deter o curso deste rio impetuoso e o oceano da graça, não são precisos montões de grandes pecados, basta a areia destes defeitos que parecem pequenos, embora o não sejam!

“Ó Espírito Santo, purificai o mundo inteiro, purificai a minha alma do amor próprio para que ele não volte mais!” (S.ta M. Madalena de Pazzi).

“Ó Espírito Santo e Santificador, Deus onipotente, amor essencial do Pai e do Filho, laço adorável da augusta Trindade, eu Vos adoro e Vos amo com todo o coração. Fonte inexaurível de graça e de amor, esclarecei a minha mente, santificai a minha alma e inflamai o me coração. Deus de bondade e misericórdia, vinde a mim: visitai-me, enchei-me, ficai em mim, fazei do meu coração um templo e um santuário vivo onde possais receber as minhas adorações e as minhas homenagens e achar as Vossas delícias. Fonte de água viva, que jorrais até à vida eterna, regai a minha alma, dessedentai-a, pois tem sede de justiça. Fogo sagrado, purificai-me, fazei que eu me abrase nas Vossas chamas e que elas jamais se extingam. Luz inefável, iluminai-me; Santidade perfeita, consagrai-me; Espírito de verdade, sem Vós estou no erro; Espírito de amor, sem Vós sou gelo; Espírito de unção, sem Vós estou na aridez; Espírito de vida e vivificante, sem Vós estou na morte.

“Ó Espírito divino, fazei uma doce violência ao meu coração para o obrigar a desejar-Vos, a procurar-Vos, a obedecer-Vos, a amar-Vos e a possuir-Vos no tempo e na eternidade. Assim seja” (P. Aurillon).

Intimidade Divina, Meditações Sobre a Vida Interior Para Todos os Dias do Ano, P. Gabriel de Sta M. Madalena O.C.D. 1952.

Última atualização do artigo em 7 de março de 2025 por Arsenal Católico

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