O dia de hoje é a despedida das festas marianas no ano eclesiástico. Tudo que sabemos da Apresentação de Nossa Senhora no templo, sabemo-lo por informações extrabíblicas, O que não quer dizer que o assunto da festa careça de probabilidade histórica. Maria Santíssima, tendo apenas três anos de idade, foi pelos Pais, em cumprimento de uma promessa, levada ao templo, para ali, com outras menina, receber educação adequada à sua idade e posição. A Igreja oriental distinguiu este fato com as honras de uma festa litúrgica. A Igreja ocidental conhece a comemoração da Apresentação de Nossa Senhora desde o ano de 1371. Prescrita primeiramente só para a côrte papal, então residente em Avignon, em 1585, Sixto V ordenou que fosse celebrada em toda a Igreja.
A Apresentação de Nossa Senhora encerra dois sacrifícios: a dos Pais e o da menina Maria. Joaquim e Anna ofereceram a Deus a filhinha no templo, quando esta tinha três anos. Sem dúvida foi para estas santas pessoas um sacrifício muito grande separar-se da filhinha, que se achava numa idade em que não há pais que queiram confiar os filhos a mãos estranhas. Três anos é a idade em que a criança recompensa já de algum modo os trabalhos e sacrifícios dos pais, formulando palavras e fazendo já exercícios mentais que encantam e divertem, dando ao mesmo tempo provas de gratidão e amor filiais. Joaquim e Anna não teriam experimentado o sacrifício em toda a sua amargura? O coração dos amorosos pais não teria sentido a dor da separação? Que foi que os levou a fazer tal sacrifício? A tradição fala de um voto que tinham feito. Votos desta natureza não eram raros no Antigo Testamento. As crianças eram educadas em colégios anexos ao templo, e ajudavam os múltiplos serviços e funções da casa de Deus. Não erramos em supor que Joaquim e Anna, quando levaram a filhinha ao templo, fizeram-no por inspiração sobrenatural, querendo Deus que sua futura esposa e mãe recebesse uma educação e instrução primorosíssima.
Grande era o sacrifício de Maria: Não resta dúvida que para Maria, a criança entre todas mais privilegiada, a cerimônia da apresentação significava mais que a entrada no colégio do templo. Maria reconhecia em tudo uma solene consagração da vida a Deus, a oferta de si mesma ao supremo Senhor. O sacrifício que oferecia, era a oferta das primícias e as primícias, por mais insignificantes que sejam, são preciosas por serem uma demonstração da generosidade do ofertante e uma homenagem a quem as recebe. Maria ofereceu-se sem reserva, para sempre, com contentamento e jubilo da alma. O que o salmista cantou, cheio de entusiasmo, traduziu-se na alma da bem-aventurada menina: “Quão amáveis são os teus tabernáculos, Senhor dos Exércitos! A minha alma suspira e desfalece pelos átrios no Senhor.”. (Ps. 83, 3.). E entrarei junto ao altar de Deus; do Deus que alegra a minha mocidade.
Que espírito, tanto nos santos pais como na santa menina! Que espetáculo para o céu e para os homens! O que encanta a Deus e lhe atrai a graça, em toda a plenitude, edifica e enleva a todos que se ocupam deste mistério, na vida de Nossa Senhora. Poderá haver coisa mais bela que a piedade, o desprendimento completo no serviço do Senhor?
A vida de Maria Santíssima no templo foi a mais santa, a mais perfeita que se pode imaginar. O templo era a casa de Deus e na proximidade de Deus se sentia bem a bela alma em flor. “O passarinho acha casa para si e a rola ninho nos altares do Senhor dos exércitos, onde um dia é melhor que mil nas tendas dos pecadores.” (Ps 83.) Santo era o lugar onde Maria vivia. Era o templo onde os antepassados tinham feito orações, celebrando as festas; era o templo onde se achava o santuário do Antigo Testamento, a arca, o trono de Deus no meio do povo; era o templo afinal, de que as profecias diziam que o Messias nele devia fazer entrada.
Naquele templo a menina Maria rezava e se preparava para a grande missão, que Deus lhe tinha reservado. “Como os olhos da serva nas mãos da Senhora, assim os olhos de Maria estavam fitos no Senhor seu Deus.” (Ps. 122). Segundo uma revelação com que Maria agraciou a Santa Isabel de Turíngia, todas as orações feitas naquele tempo se lhe resumiam no seguinte: 1) alcançar as virtudes da humildade, paciência e caridade; 2) conseguir amar e odiar tudo o que Deus tem amor ou ódio; 3) amar ao próximo e tudo que lhe é caro; 4) a conservação da nação e do templo, a paz e a plenitude das graças de Deus e 5) finalmente ver o Messias e poder servir a sua santa mãe.
Maria era o modelo de obediência, amor e respeito para com os superiores, de caridade e amabilidade para com as companheiras. tinha o coração alheio à antipatia, à rixa, ao azedume e ao amor próprio.
A Maria no templo eram aplicáveis as palavras do salmista (Ps. 139): “Senhor, meu coração não se ensoberbeceu; nem meus olhos se elevaram. não andei em grandeza, nem em magnificências sobre a minha sorte. Se não fosse humilde o meu sentimento, não se elevaria a minha alma (ai de mim!), mas como o menino, apartado já do peito da mãe, lhe fica descansando nos braços, assim está a paz da minha alma.”
Maria era uma menina humilde, despretensiosa e amante do trabalho. Com afã lia e estudava os santos Livros.
Como as meninas do Colégio do templo se ocupavam de outros serviços concernentes ao serviço santo, é provável que Maria tenha recebido instruções sobre diversos trabalhos, como fossem: pintura, trabalhos de agulha, canto e música. É opinião de muitos que o grande véu do Templo, que a hora da morte de Jesus se partiu de alto a baixo, tinha sido confeccionado por Maria Santíssima e as companheiras.
Assim foi santíssima a vida de Maria no Templo. O Divino Espírito esmerilhou o coração e o espírito da esposa, mais do que de qualquer outra criatura. Maria poderia aplicar a si as palavras de Sirach (51. 18.) “Quando ainda era pequena, procurei a sabedoria na oração. na entrada do templo instava por ela… Ela floresceu como uma nova temporã. Meu coração nela se alegrou e desde a mocidade procurei seguir-lhe o rasto.”
É de admirar que Maria, assim amparada pelos cuidados humanos e divinos, progredisse de virtude em virtude?
De Nosso Senhor o Evangelho constata diversas vezes esta circunstância. Como Jesus, também Maria cresceu em graça e sabedoria, diante de Deus e dos homens. Este crescimento a Igreja contempla-o em imagens grandiosas, traçadas por Sirach (24. 17-23): “Sou exaltada qual cedro no Líbano e qual cipreste no monte Sião. Sou exaltada qual palma em Cades e como os rosais em Jericó. Qual oliveira especiosa nos campos e qual plátano, sou exaltada junto da água nas praças. Assim como o cinamomo e o bálsamo que difundem cheiro, exalei fragrância: como a mirra escolhida derramei odor de suavidade na minha habitação; como uma vide, lancei flores d’um agradável perfume e as minhas flores são frutos de honra e de honestidade.” nunca houve mocidade tão santa e esplendorosa como a de Maria Santíssima. outra não poderia ser, devendo Maria preparar-se para a realização do mistério dos mistérios; da Encarnação do Verbo Eterno.
REFLEXÕES
A festa da Apresentação de Nossa Senhora encerra belos ensinamentos para a família cristã, para pais e filhos. Que modelo mais perfeito pais cristãos poderiam procurar, que Joaquim e Anna? Que exemplo de verdadeiro amor de Deus nos dão! Os pais não devem sacrificar os filhos ao egoísmo e às paixões, mas a Deus, que lh’os deu. Como Joaquim e Anna devemos estar prontos e oferecer os filhos, quando Deus os chama para o seu serviço. Todos nós vemos em Maria o exemplo que devemos imitar, se queremos que nossa vida seja agradável a Deus. Oração, pureza de coração e trabalho – eis os capítulos principais no índice da vida cristã.
Na Luz Perpétua, Leituras religiosas da Vida dos Santos de Deus para todos dos dias do ano, apresentadas ao povo cristão por João Batista Lehmann, Sacerdote da Congregação do Verbo Divino, Volume II, 1935.
Última atualização do artigo em 26 de fevereiro de 2025 por Arsenal Católico