Se os pecadores te atraírem com os seus afagos, não condescendas com eles (Prov. I, 10).
A juventude é demasiado fácil em se relacionar. A vivacidade dos anos, a necessidade que experimenta de comunicar com os outros e o sentimento da sua inexperiência contribuem não pouco para isso.
A jovem insensivelmente e sem dar por isso, deixa-se arrastar por certas qualidades que lhe seduzem o espírito: um caráter atraente, a formosura e desembaraço exterior, um trato agradável e um nome ilustre, impressionando ligeiramente os sentidos, despertam neles simpatias e criam vínculos mais ou menos apertados e duradouros.
As jovens que começam por se procurar para falarem e se comunicarem os seus pensamentos, desejos e inclinações, não tardam em sentir e pensar do mesmo modo.
Quem não vê o grave perigo que isto encerra?
Por isso diz o Espírito Santo: Guarda-te cautelosamente do próximo, e junta-te só com os sábios (1).
Sim, jovem cristã; sê muito prudente na eleição das tuas amigas. Tem presente a respeito de todas elas o mandamento que Deus nos deixou do amor do próximo; mas sê muito cauta na escolha daquelas com quem hás de tratar com mais frequência. Com as filhas do mundo, cujo pensamento e ações são só para a vaidade, que não sabem o que é um pensamento generoso e elevado, para as quais a virtude e a piedade são indiferentes e até talvez objeto de escárnio, não tenhas trato nenhum; pelo menos limita as tuas relações com elas ao absolutamente necessário, cingindo-te aos preceitos da caridade.
Que proveito poderás tirar da convivência com elas? Não é de temer que não tardem a comunicar-te o seu modo de pensar, que afoguem com palavras e exemplos os gérmens da tua piedosa educação e que em pouco tempo façam de ti uma jovem fútil e cheia do espírito do mundo? Quando quiseres contrair uma amizade no sentido rigoroso da palavra, inspirada em relações de maior confiança e intimidade, na correspondência mútua de pensamentos e afetos e no empreendimento unânime de projetos, vê primeiro se aquela que há de ser tua amiga é realmente boa e virtuosa, se resiste à prova dum exame aturado e cuidadoso, e, se excluindo toda a sombra de perigo, é também garantia dum proveito particular para o teu coração.
Aparta-te das pessoas que pretendam distrair-te das tuas práticas de piedade, da recepção amiudada dos sacramentos, das pessoas que só tratam do luxo e diversões, e que só disso pensam e falam, e para as quais é quase inacessível um conceito mais elevado do que há de ser a vida humana. Porventura tais amizades serão convenientes a quem é, como tu, naturalmente inclinada a esquecer a seriedade, e importância da vida?
Aparta-te dessas jovens, loquazes, levianas e ociosas que apenas sabem falar de vaidades, atavios, diversões, reuniões, teatros e romances, e cujo supremo fim nesta vida parece reduzir-se a brilhar na cena do mundo e a fazer as chamadas conquistas dos homens!
Deixa-as seguir o seu caminho: tu tens um negócio melhor e mais importante a realizar: salvar a alma, servir a Deus e alcançar o céu.
Há donzelas boas e virtuosas, que acima de tudo colocam a amizade de Deus, em cujo rosto resplandece uma alegria que nada logra empanar, em cuja existência está impressa uma certa gravidade e mandureza, cuja palavra é discreta, e cuja vida é regulada pelo domínio de si mesmas e pela nobreza do seu porte.
Pede a Deus que te departe uma destas: e quando a encontrares, guarda-lhe a máxima fidelidade.
Não há nada que se compare com uma amizade assim, nem há peso de ouro ou prata que se possa pôr em balança com a sua fidelidade (2).
A Virgem Prudente, Pensamentos e Conselhos acomodados às Jovens Cristãs, por A. De Doss, S.J. versão de A. Cardoso, 1933.
(1) Ecl. IX, 21.
(2) Ecl. VI, 15.
Última atualização do artigo em 24 de janeiro de 2025 por Arsenal Católico