As características da alma cristã – Décimo Sexto Domingo depois do Pentecostes

Ó Senhor, fazei que a minha alma esteja bem fundada na caridade e na humildade.

1 – A Epístola (Ef. 3, 13-21) que lemos na Missa de hoje é uma das mais belas passagens das cartas de S. Paulo. Encontramos nela a célebre saudação do Apóstolo aos Efésios que, nas suas três partes, resume toda a substância da vida interior.

“O Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo… vos conceda que sejais corroborados em virtude, segundo o homem interior, pelo Seu Espírito”. O homem interior é o espírito humano regenerado pela graça, é o homem espiritual que renunciou às coisas materiais e aos prazeres dos sentidos. Este homem está em cada um de nós e deve ser forte a fim de poder sustentar a luta contra o homem animal que, infelizmente, enquanto andarmos na terra, vive anda em nós e tenta arrastar-nos para o que é baixo. O Apóstolo tem razão em pedir fortaleza ao espírito Santo, porque a fortaleza da nossa virtude não é suficiente se não for corroborada pela que o Espírito Santo infunde em nós por meio dos Seus dons.

“Que Cristo habite, pela fé, nos vossos corações”. Cristo, com o Pai e o Espírito Santo, habita já na alma em graça, mas a Sua presença pode tornar-se cada vez mais profunda. E quanto mais profunda for, mais penetrada ficará a alma pela caridade divina, de modo a estar verdadeiramente “arraigada e fundada no amor”. Se queremos crescer no amor, devemos manter-nos em contato coma fonte do amor, com Deus vivo na nossa alma.

“Que possais compreender… aquele amor de Cristo que excede toda a ciência”. Compreender, tanto quanto é possível à nossa limitação, o mistério do amor de Deus, é o cume da vida espiritual. O cristianismo é todo amor: nós somos cristãos na medida em que vivemos no amor, na media em que compreendermos o amor de Deus. No entanto este mistério deixa-nos sempre um tanto incrédulos e céticos. Oh! se pudéssemos ver com vêem os bem-aventurados, que Deus é caridade e que não quer mais do que a caridade; que o caminho para ir a Ele é o caminho do amor; que o sofrimento, a mortificação e a humildade não são senão meios para chegar ao amor perfeito, para corresponder ao amor de Deus-caridade! Então ficaríamos, na verdade, “cheios de toda a plenitude de Deus”.

2 – S. Paulo, na Epístola, exortou-nos a permanecer arraigados no amor e Jesus, no Evangelho (Lc. 14, 1-11), exorta-nos a permanecer enraizados no amor e na humildade.

Apesar da tácita desaprovação dos fariseus, fruto da mesquinhez da sua mente e do seu coração, Jesus cura um pobre hidrópico em dia de sábado, ensinando-nos assim, mais uma vez, a grande importância do amor do próximo. Em vão julgaremos estar enraizados no amor de Deus se o não estivermos também no amor do próximo. Como se pode pensar que um ato de caridade fraterna se opõe à lei da santificação de uma festa? São aberrações a que se chega quando se pretende amar a Deus cuidando só dos próprios interesses, não pensando nas necessidades alheias. Isto não é cristianismo, é fariseísmo destruidor da caridade.

Para estarmos enraizados no amor, é indispensável que o estejamos igualmente na humildade, pois só quem é humilde é capaz de amar verdadeiramente a Deus e ao próximo. O Evangelho dá-nos, portanto, uma lição prática de humildade, condenando a caça aos primeiros lugares. E não devemos supor que isto só diz respeito aos lugares materiais; diz também respeito aos morais, quer dizer, aos lugares que o nosso orgulho pretende ocupar na estima e na consideração dos outros. É humilhante constatar como o nosso eu procura sempre fazer-nos ocupar um lugar superior àquele que nos pertence, aliás para nossa vergonha, “porque todo o que se exalta será humilhado”.

“Coloquemo-nos no último lugar – diz S. Bernardo – pois nenhum prejuízo nos pode vir pelo fato de nos humilharmos e nos julgarmos inferiores ao que na realidade somos. Todavia é um dano terrível e um mal enorme queremo-nos elevar nem que seja uma só polegada acima do que somos, e preferir-nos a uma só pessoa. Assim como para passar por uma porta muito baixa não nos prejudica inclinarmo-nos demasiadamente, mas prejudica-nos muitíssimo levantarmo-nos um só dedo acima da trave porque podemos bater e ferir a cabeça; de igual modo não há motivo para temermos humilhar-nos demasiado, mas devemos temer e aborrecer o mais pequeno movimento de presunção”. Peçamos por isso ao Senhor, tal como fizeram os santos, que nos mande uma humilhação cada vez que o nosso orgulho tentar erguer-se acima dos outros; será o meio mais seguro de nos enraizarmos na humildade. Fundados na humildade, também o estaremos na caridade e possuiremos assim as duas características fundamentas da alma cristã.

Intimidade Divina, Meditações Sobre a Vida Interior Para Todos os Dias do Ano, P. Gabriel de Sta M. Madalena O.C.D. 1952.

Última atualização do artigo em 25 de janeiro de 2025 por Arsenal Católico

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