Ó Santíssima Trindade, dignai-Vos renovar a Vossa visita à minha alma.
1 – Desde o instante do batismo, a Santíssima Trindade fixou a Sua morada na nossa alma; contudo a Igreja, com o seu “Veni, Sancte Spiritus”, ensina-nos a implorar constantemente a vinda do Espírito Santo, e por conseguinte, de toda a Santíssima Trindade já que, pela Sua indivisível unidade, nenhuma das três Pessoas divinas vem a nós sem as outras. Porém, se a Santíssima Trindade está em nós, como poderá vir ainda? Basta que a alma tenha um grau de graça para que Deus, já presente nela como Criador, Se lhe torne presente como Amigo e a convide a viver em intimidade com Ele, com as três Pessoas divinas. Mas esta amizade, esta intimidade, tem graus e tornar-se-á cada vez mais estreita e profunda na medida em que a alma, crescendo em graça e caridade, for capaz de entrar em relações mais profundas com a Santíssima Trindade. É o que acontece entre duas pessoas que, por razões de amizade, habitam na mesma casa: crescendo o seu afeto, a sua amizade torna-se mais intensa; por isso, embora estando já presentes uma à outra, a sua recíproca presença adquire um aspecto novo, o aspecto que tem a presença de um amigo muito querido. Embora habitando já na alma do justo, a Santíssima trindade pode tornar-Se nela cada vez mais presente, sob o aspecto de uma amizade mais íntima, quer dizer, as Pessoas divinas podem entrar em relações amigáveis cada vez mais profundas com a alma, como na realidade acontece à medida que esta, progredindo na caridade, adquire novos graus de graça. Como estas novas efusões da Trindade na alma do justo têm aspectos e produzem efeitos sempre novos, muito a propósito se fala delas como de novas vindas, de novas visitas das Pessoas divinas. Mas na verdade Elas estão já presentes na alma; as Suas visitas não vêm de fora, mas de dentro da própria alma, onde moram e onde Se dão a ela, e também, pelo menos até certo ponto, Se lhe revelam, segundo a palavra de Jesus: “Aquele que me ama, será amado por meu Pai e eu o amarei e me manifestarei a ele” (Jo. 14, 21). Nunca, como em face deste inefável mistério, compreendemos tão bem a grande realidade contida no versículo evangélico: “O reino de Deus está dentro de vós” (Lc. 17, 21).
2 – A primeira visita ou efusão da Trindade na tua alma teve lugar no dia do teu batismo: o Pai enviou-te o Filho; o Pai e o Filho enviaram-te o Espírito Santo, e pela indissolúvel unidade dos três, o Pai veio sem ser enviado. Ora, esta visita renova-se todas as vezes que, recebendo um sacramento ou progredindo no amor, adquires um novo grau de graça. A promessa de Jesus: “Se alguém me ama… viremos a ele e faremos nele morada” (Jo. 14, 23), jamais será revogada, é sempre nova, está sempre pronta a realizar-se todas as vezes que possuíres as condições requeridas, isto é, amares com amor mais intenso. Este dom divino que te é oferecido com tanta liberalidade, deve estimular-te à generosidade, ao constante progresso no amor, porque só assim poderás gozar dele plenamente. Se não puseres obstáculos ao desenvolvimento da caridade e da graça na tua alma, a Santíssima Trindade não porá limites à Sua efusão em ti. Encontras-te aqui em face de um horizonte ilimitado, porque o limite, o termo proposto por Jesus à nossa vida de união com a Santíssima Trindade, é a mesma união que existe entre as três Pessoas divinas. O próprio Jesus, na noite da última Ceia, na Sua oração sacerdotal, pediu para nós, ao Pai, uma união semelhante à Sua: “Como Tu, Pai, o és em mim e eu em Ti, que também eles sejam um em nós” (Jo. 17, 21). Evidentemente, a criatura não poderá nunca estar unida à Trindade como as três Pessoas divinas o estão entre Si; contudo, Jesus não hesitou em nos propor e em pedir para nós uma tal união, a fim de nos incitar a uma ascensão contínua e de nos dar a entender que, se não pararmos na nossa correspondência à graça, a Santíssima Trindade não cessará de Se derramar na nossa alma e de nos unir a Si, até que sejamos “consumado na unidade” (ib. 23). Só no céu, onde contemplaremos a Trindade abertamente, face a face, a nossa união com as Pessoas divinas será perfeita; mas já na terra, através da fé e do amor, devemos caminhar a passos velozes em direção a tão esplêndida meta que constituirá o nosso gozo por toda a eternidade.
Colóquio – “Ó Trindade! Deus altíssimo, clementíssimo, beneficentíssimo, Pai, Filho e Espírito Santo, Deus uno, eu espero em Vós. Ensinai-me, dirigi-me, sustentai-me.
“Ó Pai, pelo Vosso infinito poder, fixai em Vós a minha morada e enchei-a de santos e divinos pensamentos.
“Ó Filho, com a Vossa eterna sabedoria, iluminai o meu entendimento, concedei-lhe o conhecimento da Vossa suma verdade e da minha própria baixeza.
“Ó Espírito Santo, que sois o amor do Pai e do Filho, com a Vossa incompreensível bondade, transferi a minha vontade para Vós e inflamai-a com o fogo inextinguível da Vossa caridade.
“Ó meu Senhor e meu Deus, ó meu princípio e meu fim, ó essência sumamente simples, sumamente tranquila e sumamente amável! Ó abismo de doçura e de delícias, ó minha luz amável e suma felicidade da minha alma, de gozos inexprimíveis, plenitude perfeita de todo o bem, meu Deus e e meu tudo, que é que me falta quando Vos possuo? Vós sois o meu bem único e imutável. Não devo buscar nada senão a Vós. Não busco nem desejo nada senão a Vós. Senhor, atraí-me para Vós. Eu bato, ó Senhor: abri-me. Abri a um órfão que Vos implora. Mergulhai-me no abismo da Vossa divindade. Fazei-me um só espírito conVosco para que eu possa, dentro de mim, possuir as Vossas delícias” (Sto. Alberto Magno).
“Pai Santo! Por aquele amor com que refletis sobre mima luz do Vosso rosto, concedei-me a graça de caminhar para Vós com toda espécie de santidade e virtude.
“Ó meu Senhor Jesus Cristo! Por aquele amor que Vos moveu a remir-me com o Vosso próprio Sangue, revesti-me da pureza da Vossa vida santíssima.
“Ó divino Paráclito! em quem o poder é igual à santidade, por aquele amor que Vos moveu a unir-me a Vós, concedei-me a graça de Vos amar com todo o meu coração, de aderir a Vós com toda a minha alma, de esgotar todas as minhas forças amando-Vos e servindo-Vos, e de viver segundo as Vossas inspirações” (Sta Gertrudes).
Intimidade Divina, Meditações Sobre a Vida Interior Para Todos os Dias do Ano, P. Gabriel de Sta M. Madalena O.C.D. 1952.