Ó meu Deus, tornai-me digno de colaborar na difusão do Vosso reino de amor.
1 – O apostolado interior da oração e do sofrimento, pela sua intrínseca eficácia e fecundidade, tem a primazia sobre qualquer outra forma de apostolado a tal ponto que, mesmo sem ser acompanhado de nenhuma atividade exterior, é suficiente para fazer daqueles que o vivem, apóstolos eminentes. Contudo, na sociedade e na Igreja, são necessárias igualmente as obras; Deus quere-as e, de fato, intervém ordinariamente no mundo através da atividade dos Seus apóstolos. para que a vida da graça possa ser comunicada às almas, ao lado do apostolado interior dos contemplativos, é necessária a atividade externa dos Pastores e dos fiéis; para administrar os sacramentos é indispensável o ministério sacerdotal; para converter os infiéis, são precisos missionários; para a formação cristã da juventude, escolas e educadores; para a cristianização da sociedade, obras sociais; são também necessários profissionais que sejam apóstolos nomeio em que vivem. No campo do apostolado, como diz S. Paulo, há diversas funções, muitos ofícios de importância e valor diferentes, mas todos eles provenientes de um único espírito, o Espírito Santo que “os distribui a cada um como Ele quer” e ao mesmo tempo os ordena todos para um único fim: o crescimento do Corpo místico de Cristo (cfr. I Cor, 12). E como no corpo um membro não pode prescindir do outro, “o olho não pode dizer à mão: ‘não necessito do teu serviço’, nem a cabeça dizer aos pés: ‘vós não me sois necessários’ (ib. 21), assim também os contemplativos não podem dizer aos ativos: não são necessárias as vossas obras, nem estes podem dizer àqueles: é inútil a vossa oração, nem os responsáveis das diversas atividades apostólicas podem antepor-se ou preferir-se uns aos outros, mas, estimulando-se mutuamente, todos devem trabalhar com espírito de solidariedade, ajudando-se reciprocamente e empenhando-se cada um em cumprir o seu próprio ofício com a maior perfeição possível. Do amor com que cada um desempenha o seu cargo e, ao mesmo tempo, com que se mantém unido aos outros apóstolos, sempre pronto a apoiar e favorecer as obras alheias, resulta o bem universal da Igreja, bem para o qual o apóstolo deve olhar acima de toda a obra ou interesse pessoal.
2 – O primeiro lugar no ministério apostólico pertence, sem dúvida, aos Pastores, sucessores diretos dos Apóstolos, aos quais Jesus confiou oficialmente a missão de evangelizar o mundo: “Ide, pois, ensinai todas as gentes, batizando-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-as a observar todas as coisas que vos mandei” (Mt. 28, 19, 20). Ao lado deste, que é o apostolado hierárquico, reservado aos clérigos, há o dos leigos que a Igreja convida a colaborar com a Hierarquia. Os Pastores guiam, governam, traçam os planos e, sob a sua direção, os fiéis são chamados a prestar o seu concurso. Compreende-se, portanto, que o apostolado autêntico, o único que pode ser incorporado no plano de Deus para a salvação do mundo, é o que se exerce de harmonia com as diretivas da Igreja. Não merece o nome de apóstolo aquele que pretende trabalhar na vinha do Senhor independentemente dos que Ele propôs para cuidar dela e governá-la. Uma atividade deste gênero, em vez de contribuir para os fins do apostolado, seria antes um prejuízo e um obstáculo.
Nesta colaboração com a Hierarquia ocupam o primeiro lugar as almas consagradas a Deus por vínculos estáveis, os religiosos não clérigos, as religiosas dedicadas a obras de apostolado externo e os membros dos Institutos seculares; seguem-se os pertencentes à Ação Católica e têm também o seu lugar os simples cristãos que, privada ou coletivamente, exercem qualquer forma de apostolado. Não foi por acaso que Pio XII, na Encíclica Mystici Corporis, a propósito da colaboração dos fiéis no apostolado dos Pastores, nomeou expressamente os pais e as mães de família; disse-o, porque todo o cristão que trabalha por fazer penetrar o espírito do Evangelho no meio onde vive – escola, oficina, hospital, etc., – é um verdadeiro colaborador da Hierarquia. O mesmo Papa afirma: “Este trabalho apostólico, realizado segundo o espírito da Igreja, consagra o leigo como ministro de Cristo, no sentido em que S.to agostinho o explica: ‘Ó irmãos… também vós, à vossa maneira, deveis ser ministros de Cristo, vivendo bem, dando esmolas, pregando o Seu nome e a Sua doutrina. Desta forma [até o pai de família] exercerá em sua casa o ofício de clérigo, e de certo modo, de bispo, servindo a Cristo, para estar com Ele eternamente'” (Enc. Summi Fontificatus). Neste sentido S. Pedro, dirigindo-se aos fiéis, não hesita em afirmar: “Sois uma geração escolhida, um sacerdócio real” (I Ped. 2, 9).
Colóquio – “Meu Deus, fazei que eu não pense mais se vou perder ou ganhar, mas que o meu único fim seja contentar-Vos e servir-Vos. Conhecendo o amor que nos tendes, renuncio a qualquer satisfação para não Vos contentar senão a Vós, servindo o próximo e dizendo-lhe as verdades para que as suas almas aproveitem. Com o que poderei perder, não me preocupo nada: só quero ter diante dos olhos o proveito do próximo e nada mais. Pra mais Vos agradar, meu Deus, quero esquecer-me de mim mesma pelos outros e estou pronta a morrer na demanda, como fizeram tantos mártires.
“Parece-me que uma das maiores consolações que há na terra é ver que as almas aproveitam por meio de nós. Ditosos, Senhor, aqueles a quem Vós fazeis estas mercês” (T.J. P. 7, 5 e 6).
“Meu Deus, feliz aquele que saboreou como é doce trabalhar pela salvação das almas! Então já não teme nem o calor nem o frio, nem a fome nem a sede, nem os desgostos, nem as afrontas, nem sequer a morte.
“Ó Senhor, dai-me cruzes, espinhos e perseguições de todo o gênero, contanto que eu possa salvar almas, e entre elas a minha. Da mihi animas, coetera tólle: Senhor, dai-me almas e tomai tudo o resto.
“Só quando souber que o demônio cessou de acometer as almas, cessarei eu de procurar novos meios para as salvar dos seus enganos e das suas insídias.
“Senhor, quero fazer-Vos o sacrifício total da minha vida, quero trabalhar até ao último suspiro pela Vossa glória, suportando com paciência as adversidades e contrariedades no bem que faço. Ajudai-me Vós a empregar, enquanto puder, todas as minhas forças para a salvação das almas” (S. João Bosco).
Intimidade Divina, Meditações Sobre a Vida Interior Para Todos os Dias do Ano, P. Gabriel de Sta M. Madalena O.C.D. 1952.
Última atualização do artigo em 8 de março de 2025 por Arsenal Católico