Ó Espírito Santo, derramai cada vez mais no meu coração o óleo da piedade e da doçura.
1 – O Espírito Santo que, pelo dom de fortaleza, revigora o nosso coração, pelo dom de piedade quer torná-lo manso e doce. Nós mesmos, praticando a virtude da doçura, fazemos o possível – e devemos fazê-lo a todo o custo – por adquirir aquela mansidão de coração tão recomendada por Jesus e que, segundo Ele disse, tem como fruto a paz interior: “Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração e achareis descanso para as vossas almas” (Mt. 11, 29). Todavia não conseguimos estabelecer-nos ainda numa doçura habitual, numa paz contínua. isto é tão verdadeiro que, em casos imprevistos, contradições, agravos, ofensas, a doçura cai por terra e a paz do coração desvanece-se, ao menos por instantes. Estas experiências quotidianas, embora dolorosas e humilhantes, são muito salutares, pois demonstram-nos, melhor do que qualquer raciocínio, a insuficiência dos nossos esforços e a necessidade extrema do auxílio divino, auxílio que Deus já determinou dar-nos, infundindo em nós o dom de piedade. Pondo este dom em ato, o Espírito Santo apagará em nós todos os restos de ressentimento para com o próximo, acabará por abrandar a nossa dureza e tomará – por assim dizer – o nosso coração nas Suas mãos para o estabelecer numa paz e mansidão habituais. Enquanto este nosso coração continuar nas nossas mãos, nunca cegaremos a ser completamente senhores dele; mas ainda que, apesar dos propósitos tantas vezes renovados, tivéssemos de registrar todos os dias faltas de doçura, nem por isso deveríamos desistir da empresa, mas recomeçar de boa vontade os nossos esforços e, ao mesmo tempo, implorar com humilde insistência a ajuda divina: “Veni, Sancte Spiritus, flecte quod est rigidum, fove quod est frigidum, rege quod est devium” (Seq.). Vinde, Espírito Santo, dobrai e vencei a minha dureza, aquecei a minha frieza, guiai e endireitai o que me faz desviar da mansidão.
2 – A bem-aventurança que corresponde ao dom de piedade é o prêmio prometido às almas que com o seu esforço e com a ajuda do Espírito Santo alcançaram a mansidão perfeita: “Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra” (Mt. 5, 4). Que terra? Em primeiro lugar, a do próprio coração que, diz S. Tomás, “a mansidão torna o homem senhor de si mesmo” (IIª IIª, q. 157, a. 4, co.). Sem este domínio interior de todos os impulsos da alma – movimentos de animosidade, antipatia, desdém, cólera, etc. – a nossa conduta poderá revestir-se duma aparência de doçura, como fazem os mundanos por diplomacia, contudo não se poderá possuir aquela mansidão profunda que resiste imperturbável a todos os choques da vida. De resto, o que nos permitirá possuir o coração dos homens é – com disse Jesus – o pleno domínio de nós mesmos. Se queremos ser úteis aos nossos irmãos e conquistar-lhes os corações para os orientar para o bem, para a verdade, para Deus, devemos servir-nos não da força ou da autoridade que irrita e provoca reações contrárias, mas da mansidão, da paciência, da longanimidade. É o método usado por Jesus, cuja missão foi anunciada por Ele próprio como uma obra de doçura: “O Espírito do Senhor pousou sobre mim; pleno que me ungiu para evangelizar os pobres, me enviou a sarar os contritos de coração… a pôr em liberdade os oprimidos” (Lc. 4, 18 e 19).
Também a nós nos foi dado o “Espírito do Senhor”, o Espírito Santo, e também os nossos corações foram ungidos com o óleo da piedade, da doçura, a fim de podermos continuar no mundo a missão de Jesus. Para isto nos convida Ele dizendo-nos: “Ide: eis que eu vos envio como cordeiros entre lobos” (Lc. 10, 3), e nos ordena, como outrora aos Apóstolos, que vamos sem bordão nem arma de defesa, embora sabendo que encontraremos oposições, lutas, inimigos.
A exemplo de Jesus, o Cordeiro de Deus, que ganhou o mundo com a mansidão, também nós conquistaremos os corações dos nossos irmãos na medida em que, dominando-nos a nós mesmos, nos tornarmos cordeiros mansos, mais dispostos a sofrer com Ele do que a impormo-nos a defendermo-nos pela força.
Colóquio – “Ó Jesus, Salvador do mundo, no meio dos insultos, das perseguições e dos sofrimentos não proferíeis ameaças nem maldições, não Vos defendíeis nem Vos vingáveis nem Vos desculpáveis! Cuspiam-Vos na cara e Vós não a escondíeis, estendiam-Vos as mãos e os braços na cruz e não Vos retraríeis, mas em tudo Vos abandonáveis à vontade dos Vossos verdugos para cumprir a obra da Redenção. Isto é um mistério da misericórdia infinita, mas também um exemplo. Assim, ó Senhor, dais-nos exemplo de mansidão e de paciência na tribulação e na adversidade; ensinais-nos a não pagar o mal com o mal, mas a pagar o mal com o bem.
“Lê, pois, ó minha alma, continua a ler neste livro de vida que é Cristo crucificado! Lê nele a mansidão infinita de Deus! Como poderás ainda protestar, murmurar contra as tribulações ou contra quem te faz sofrer, quando o teu Deus Se imolou por ti como um mansíssimo cordeiro”? (cfr. N. Ângela de Foligno).
“Ó Espírito Santo, dai-me um coração simples que nãos e dobre sobre si mesmo, que não se deixe dominar pela tristeza nem pela amargura; um coração liberal em se dar, terno e compassivo; um coração fiel e generoso que não esqueça nenhum bem nem guarde rancor de nenhum mal. Formai em mim um coração manso e humilde, pronto em perdoar, capaz de suportar com mansidão todas as contrariedades; um coração que ame sem egoísmo, contente por se apagar nos outros corações, sacrificando-se diante do Pai celestial; um coração zeloso da glória de Jesus Cristo, ferido do Seu amor e cuja chaga só se cure no céu” (cfr. P. L. Grandmaison, S. J.).
Intimidade Divina, Meditações Sobre a Vida Interior Para Todos os Dias do Ano, P. Gabriel de Sta M. Madalena O.C.D. 1952.
Última atualização do artigo em 25 de janeiro de 2025 por Arsenal Católico