Ó Espírito Santo, extingui em mim a fome as coisas terrenas e aumentai a das coisas celestes.
1 – Quando o Espírito santo Se torna senhor duma alma e a toma inteiramente sob o Seu governo, comunica-lhe uma força invencível que tudo arrasta, que é capaz de enfrentar qualquer obstáculo e de suportar qualquer sofrimento. E, como é próprio dos fortes nãos e contentar com pouco, mas aspirar a coisas grandes, à medida que o Espírito Santo fortalece a alma, desperta nela desejos cada vez maiores de justiça, de virtude, de santidade, desejos tão vivos e prementes que podem muito bem chamar-se fome e sede. Sob o impulso do dom de fortaleza a alma sente grande fome e sede de justiça; esta é a razão porque ao dom de fortaleza corresponde a bem-aventurança: “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça porque serão saciados” (Mt. 5, 6). A expressão de justiça deve entender-se no sentido mais amplo de perfeição, de santidade, de entrega total a Deus e às almas. É neste sentido que o Espírito Santo impele a alma, mostrando-lhe horizontes cada vez mais vastos, convidando-a a obras cada vez mais perfeitas, a uma entrega cada vez mais generosa e profunda. Esta alma já não pode reservar nada para si, o Espírito Santo não lho permite; tem de se dar toda: “o amor de Cristo constrange-me” (II Cor. 5, 14), repete com S. Paulo. Devora-a uma sede ardente da vontade de Deus e procura-a como o avarento procura o ouro; tem uma sede ardente de santidade, não tolera em si a mínima falta de correspondência à graça, parece-lhe fazer sempre pouco por Deus, “e se fosse lícito desfazer-se mil vezes por Ele, ficaria consolada” (J.C. N. II, 19, 3). Tem uma sede arde de almas, pelas quais não cessa de se dar sem se poupar; uma sede ardente da glória de Deus por quem está sempre totalmente esquecida do seu repouso, pronta a empreender novos sacrifícios e fadigas. Donde lhe vem tanta coragem, tanta ousadia? Não da sua força nem das suas energias – bem o sabe – mas da força do Espírito Santo, da sua confiança nEle, da docilidade à Sua ação. Pode afirmar, portanto, com toda a segurança: “Tudo posso nAquele que me conforta” (Fil. 4, 13).
2 – Como o esfomeado goza quando se pode saciar de pão, assim a alma que vive sob o influxo do dom de fortaleza goza quando pode satisfazer a sua fome de justiça e de santidade. Goza quando pode imergir na vontade de Deus, único alimento capaz de a fartar, goza quando pode satisfazer a sua sede de imolação, sacrificando-se por Deus e pelas almas, goza quando pode saciar a sua fome de Deus, recebendo-O na Eucaristia ou mergulhando nEle na intimidade da oração. É uma alegria pura porque não é procurada, porque é fruto do cumprimento do dever; é a alegria da alma que tende para o seu centro, Deus, e que sente que se da cada vez mais a Ele que Lhe pertence totalmente. Mas para gozar desta alegria é necessário estarmos decididos a não querer procurar nem admiti nenhuma outra. “tem muito boa vida – diz S.ta Teresa de Jesus – quem se contenta só de contentar a Deus e não faz caso do seu contentamento” (Cam. 13, 7).
Se não saboreamos esta alegria é porque a nossa gome de justiça não é muito grande: juntamente com esta fome santa, alimentamos talvez ainda a avidez do mundo – fome das coisas e das alegrias cá de baixo – que diminui a fome da primeira e desvia os nossos passos para irem em busca de satisfações humanas. Mas que nos poderão dar as criaturas? Nunca serão suficientes para saciar a nossa fome e sempre nos deixarão insatisfeitos. Peçamos, pois, ao Espírito Santo, que extinga em nós o apetite das coisas terrenas e faça crescer a nossa fome de santidade. Esta fome é ainda fraca em nós e é sobretudo inconstante. Quantas vezes, depois de termos feito grandes propósitos, voltamos a cair por terra e ali ficamos deprimidos e talvez até resignados a não fazer mais nada. O Espírito Santo, pelo dom de fortaleza, quer tornar mais forte e perseverante a nossa fome de santidade de modo que jamais se extinga. Porém não o faz para nos deixar morrer de inédia, mas para nos saciar de bens imperecíveis: de vontade de Deus, de justiça, de santidade. Ele que pode suscitar em nós esta fome, tem também o poder de a saciar, de modo que esta saciedade nos torne eternamente bem-aventurados.
Colóquio – “Ó Deus, oceano de amor sagrado e de doçura, vinde e dai-Vos à minha alma! Fazei que eu anseie continuamente por Vós com todo o meu coração, com um desejo absoluto e um amor flamejante, e que em Vós respire suavemente. Ó minha verdadeira e suprema alegria, que eu Vos prefira a toda a criatura, que por Vós renuncie a todo o prazer transitório!
“Alimentai, ó Senhor, este mendigo esfomeado com o influxo da Vossa divindade, regozijai-me com a desejada presença da Vossa graça. Isto Vos peço e desejo a fim de que o amor veemente me penetre, me encha e em transforme em Vós.
“Fazei, ó dulcíssimo redentor, que eu arda no Vosso amor, que desfaleça a mim próprio, que so em Vós me deleite e só a Vós conheça e sinta. Ó abismo transbordante de divindade, atraí-me, submergi-me em Vós! Arrancai do meu coração qualquer outro amor, aplicai-o a Vós de tal maneira que eu me torne insensível a todas as demais coisas (B. Luís de Blois).
Intimidade Divina, Meditações Sobre a Vida Interior Para Todos os Dias do Ano, P. Gabriel de Sta M. Madalena O.C.D. 1952.
Última atualização do artigo em 25 de janeiro de 2025 por Arsenal Católico