P. – Que vem a ser o casamento?
R. – Dum modo geral, considerado como contrato natural e religioso, o casamento pode definir-se assim: – a união do homem e da mulher, estabelecida por Deus, para a propagação do gênero humano.
P. – É muito antigo o casamento, assim definido?
R. – Remonta ao princípio do mundo.
P. – Mencionar-se-há a instituição do casamento em qualquer documento autêntico?
R. – Sim; na Bíblia capítulo II do Gênesis. Vem referida nos versículos IV e seguintes: “E o Senhor Deus disse: “Não é bom que o homem esteja só; demos-lhe uma companheira semelhante a ele”.
infundiu, pois, o Senhor Deus um profundo sono a Adão; e quando ele estava dormindo, tirou uma das suas constelas, e encheu de carne o lugar dela.
E da costela que tinha tirado de adão formou o Senhor Deus a mulher, e a trouxe a Adão.
Então disse Adão: Eis aqui agora o osso de meus ossos, e a carne da minha carne. Esta se chamará Virago, porque de Varão foi tomada.
Por isso deixará o homem o seu pai e a sua mãe, e se unirá a sua mulher; e serão dois numa carne”.
P. – É pois certo vermos, logo no princípio do mundo, que o casamento deve ser indissolúvel?
R. – Sim, porque esta fusão das duas vidas de nossos primeiros pais não depende apenas da sua vontade própria. Adão e Eva são ligados, unidos por um poder superior, que consagra essa união.
P. – Que poder superior é esse?
R. – É o próprio poder de Deus, autor da nossa natureza e Senhor supremo; de sorte que os homens em nada podem modificar a união conjugal, uma vez estabelecida segundo as condições do direito fixadas pela autoridade legítima.
P. – Como foi que Deus abençoou estes primeiros esposos?
R. – Abençoou-os, e disse: “Crescei, e multiplicai-vos, e enchei a terra, e sujeitai-a ao vosso império”. (Gênesis, I, 28).
P. – Devemos pois ver nesta bênção um grande ensinamento?
R. – Sim. Desde a origem do mundo, Deus quer lembrar ao homem, que, se a essência do casamento consiste na íntima união de duas vidas que se dão mutuamente uma à outra, o seu primeiro fim é a propagação da raça humana: Crescei e multiplicai-vos. Vontade divina, injunção imperiosa, que notificam a lei da união matrimonial, e antecipadamente condenam os esposos desgraçados, que, no decorrer dos tempos, por uma esterilidade calculada, desobedecem às ordens do Criador e deformam a sua obra.
P. – Teve, realmente, um caráter religioso esse primeiro casamento?
R. – Certamente, pois foi o próprio Deus quem teve a sua iniciativa, e o seu objeto essencial é a procriação e educação dos homens, para torná-los participantes de Deus, seu fim último. E ainda por que, em virtude da instituição divina, ele representa de algum modo a união de Jesus Cristo com a Sua Igreja.
São estas, pouco mais ou menos, as próprias palavras do Papa Leão XIII, na sua Encíclica Arcanum, de 10 de Fevereiro de 1880; “Tendo Deus por autor, e sendo, desde a sua primeira origem, uma figura da Encarnação, o casamento tem em si mesmo um caráter sagrado e religioso, que lhe não vem do exterior mas lhe é inato, que não recebe dos homens, mas da sua própria natureza” (1).
EXTRATO
O primeiro casamento. – “Demos, pois, ao homem , diz o Senhor, uma companheira que se lhe assemelhe…” Donde virá esta companheira! Do barro de que saiu o homem? Não. O homem, nesse caso, deixaria de ser, como Deus, o único e primeiro princípio da vida na sua raça, se o ser humano que deve ser seu associado não saísse dele próprio.
– Dorme, meu filho, diz o Senhor, dorme.
Sob a influência de um magnetismo divino, Adão, deitado sobre as flores do Paraíso, é invadido por um sono misterioso, durante o qual Deus retira uma das suas costelas, e a reveste de carne, e faz, dessa parte do homem, animada com uma outra alma, a mulher encantadora e pudica noiva do adormecido. Espantada da vida que acaba de receber, ela espera…
– À bodas! À bodas! Acorda, rei do mundo!
E Adão desperta. Contempla com os seus olhos aquela que entreviu num sonho profético, e compreende que será completada nela a sua perfeição. Ele é a inteligência, ela o coração; ele o pensamento, ela o sentimento; ele a majestade, ela a graça; ele a força, ela a suavidade; ele o mando, ela a insinuação; ele o semeador da vida, ela o terreno fértil onde a vida deve germinar.
Admira-a, enternece-se, exalta-se, e, repleto o seu coração de d’um amor novo, brota-lhe dos lábios o célebre epitálamo que revela ao mundo futuro a essência e as santas leis do matrimônio:
– Eis o osso dos meus ossos e a carne da minha carne. Dar-se-lhe-á um nome tomado do nome do homem, porque do homem ela saiu.
Por isso o homem deixará a seu pai e a sua mãe, e se unirá a sua mulher, e serão dois numa só carne.
A este grito de amor, Deus responde com uma bênção da qual jorrará a humanidade, e que submete ao seu império os seres que já abençoou e fecundou:
– Crescei e multiplicai-vos. Enchei a terra: que ela vos seja sujeita, e sêde os senhores de tudo quanto ela contém.
Tal foi o primeiro casamento, o casamento típico. (R, P. MONSABHÉ, Conférences de Notre Dame de Paris, anno de 1887. La sainteté du mariage, p. 8, 9).
Catecismo do Matrimônio por P. Joseph Hoppenot, S. J., Obra aprovada por 48 cardeais, arcebispos e bispos de França e Bélgica, 1928.
(1) Eis o texto de Leão XIII: – “Quaum matrimonium habeat Deum auctorem fueritque vel a princípio quaedam Incarnationis Verbi Dei adum bratto, ideirco inest in eo sacrum et religiosum quiddam, non adventitium sed ingenitum, non ab hominibus acceptum, sed natura insitum… igitur aum matrimonium sit suâ vi, suâ naturâ, suâ, spinte sacrum…” Donde o Pontífice deduz que a autoridade civil, como tal, nenhum poder tem sobre o laço matrimonial.