Cinco máximas espirituais – Santo Antônio Maria Claret

CINCO MÁXIMAS ESPIRITUAIS

Para alcançar a perseverança final no serviço divino que é a perseverança nas virtudes e o termo de nossa viagem à celeste pátria

Como de nada nos serviria ter empreendido o caminho para ir ao céu, se não andássemos continuamente por ele até chegar ao fim; do mesmo modo que uma pessoa que quisesse ir à capital e até se pusesse em caminho dessa capital, de nada lhe valeriam seus desejos, se ficasse quieta e sentada na estrada, e não praticasse os outros meios para consegui-lo; assim também para não te achares burlado na hora da morte, que será o termo de nossa peregrinação, procura neste negócio de todos os negócios, que é a salvação eterna, pôr em prática estas cinco máximas, que se guardares com toda fidelidade, podes estar certo de que chegarás felizmente à pátria dos bem-aventurados, onde gozarás de Deus por uma eternidade. Amen.

A primeira é:

Antes morrer que pecar. Sim, essa deve ser tua resolução; deixar tudo antes que deixar a Deus. Nisto consiste a observância do primeiro mandamento da lei de Deus. Por isso exclamava Sto. Afonso de Ligório: “Que se perca tudo antes de perder a Deus, e que se desgoste o mundo inteiro, antes que desgostar a Deus…” Mas, se por desgraça, e à vista de nossa fragilidade, te acontecer cair em algum pecado mortal, não dês por isso lugar à desconfian­ça, nem à perturbação de ânimo, com que por ventura pretenderá enganar-te o espírito maligno. O que deves fazer nesse caso, é excitar-te logo à dor e contrição de tua culpa, considerando o mal que fizeste, e aborrecê-la por ser ofensa dum Deus, a quem deves todo o teu amor, porque é teu Deus, teu Criador, teu Redentor, teu Pai… e propor confessá-la o mais breve possível. Deves fazer nesse caso como a pessoa que tomou veneno, a qual, para lançá-lo antes de que lhe tire a vida, procura tomar logo um vomitivo eficaz; da mesma maneira deves tu proceder, se por tua infelicidade cometeste alguma culpa mortal, deves lançá-la logo por meio duma santa e dolorosa confissão, se não queres que ela, como terribilíssimo veneno, te precipite na horrível e eterna sepultura do inferno. Se assim não fizeres, teme, cristão: olha que não tens mais do que uma alma, e se essa perdes, ai de ti, infeliz! descerias ao inferno, donde não poderias sair jamais. Pensa-o bem, porque por uma eternidade hás de ser, ou feliz no céu, ou condenado no inferno… Pensa que se te condenares, de nada te aproveitarão as riquezas, os prazeres e as honras, e que com coisa alguma deste mundo poderias trocar tua desventurada sorte.

A segunda é:

Aparta-te das ocasiões de pecar. Se não fizeres assim, pecarás com toda certeza; porque o Espirito Santo diz que quem ama o perigo, nele perecerá. Se não queres cair, deves fazer como os animais, que, quando hão de passar por um lugar, onde já outra vez caíram ou e feriram, se retiram dele, ainda que seja dando algum rodeio. Procedendo diferentemente, acontecer-te-á o que vemos numa casa, que, por muito que a limpem e tirem as teias de aranha, se não matam as mesmas aranhas, volta logo a estar cheia das teias que elas fabricam: ou bem, acontecer-te-á como ao lavrador que cortou a má erva, e que se não arrancou as raízes, torna a brotar como dantes. Por conseguinte, se sabes já que nos bailes, no jogo, nas conversações amorosas com pessoas de diferente sexo, no trato com esta ou com aquela pessoa, em tal lugar, ou em tal casa caíste nalgum pecado, ofendendo a Deus, deves fugir desse lugar ou pessoa, como fugirias dum lugar empestado, onde viste a morte de perto.

A terceira é:

A oração a Deus e a devoção a Maria Santíssima. Como a perseverança final é um dom especialíssimo de Deus, conforme ensina nossa Madre a Igreja, e Deus não costuma conceder essa graça, diz Santo Afonso de Ligório, senão aos que a pedirem; por isto ensina São Tomás que é mister pedi-la sempre, para poder entrar no céu. Havemos de dizer sempre ao Senhor: venha a nós o vosso reino, agora o da divina graça, e depois o da eterna glória Para alcançar tão assinalada graça, devemos valer-nos da devoção a Maria Santíssima como um dos meios mais poderosos. Ela é o canal do céu por onde passam todas as graças que necessitamos, para nos apartarmos do mal e para bem obrar. Ela é a porta do céu, como ensina a Igreja; e ninguém alcança a misericórdia do Senhor senão por meio dela, diz São Germano, patriarca de Constantinopla. Deves, pois, encomendar-te todos os dias a Maria Santíssima e oferecer-lhe alguns obséquios, como são: rezar-lhe com devoção o santo Rosário e fazer-lhe alguma novena, ou dedicar-lhe algum jejum, se tua saúde e os teus trabalhos permitirem; se não puderes fazer estas coisas, priva-te ao menos dalguma outra, que poderias fazer licitamente, como, por exemplo, cheirar uma flor, beber um pouco de água, olhar ou ir a tal parte, aonde irias com gosto, etc. Procura, sobretudo, imitar suas virtudes, a humildade, a mansidão, a pureza e o amor que Ela teve sempre a Deus e ao próximo. Recomendo-te muito particularmente que rezes a oração que pus entre os exercícios de cada dia, para que a digas diariamente: “ó Virgem e Mãe de Deus, eu me entrego…” (Pág. 37)(1) . Embora seja curta, e por essa razão não deves nunca deixa-la, eu te asseguro que, se a rezares com perseverança, alcançarás por meio dela agora a graça e depois a glória eterna.

A quarta é:

A frequência dos Santos Sacramentos, particularmente da sagrada Comunhão. Eles são os condutos da divina graça, daquela graça que é o remédio que dá saúde às almas. Instituiu Jesus Cristo estes Sacramentos para curar nossas espirituais doenças e para preservar-nos das recaídas. Assim como o doente toma o remédio para curar-se de seus males, e procura alimentar-se com substâncias sãs e nutritivas, a fim de não recair neles, assim também, se não quiseres recair em tuas doenças espirituais e morrer eternamente, deves receber com frequência os santos Sacramentos da Penitência e Eucaristia, para alcançar por meio do primeiro a graça de sarar de teus pecados, ou acrescentar esta graça curativa e a remissão deles, se já a houveres conseguida; e, por meio do segundo a graça que alimenta a tua alma e a fortifica, para te preservar do pecado. No Sacramento da Eucaristia acha-se o Pão da vida. Este é o pão vivo descido do céu: aquele Pão que encerra em si toda doçura, e do qual diz o mesmo Jesus Cristo que, quem o comer com as disposições necessárias, viverá eternamente: este Pão é seu mesmo Corpo, que Ele entregou para a vida espiritual do gênero humano. Aquele, pois, que não comer o Corpo do Filho de Deus feito homem, isto é, aquele que não comungar com frequência, ah! que difícil é, para não dizer impossível, que viva com a vida da graça! Viveria porventura muito tempo aquele homem, ou aquela mulher, que não tomasse alimento corporal, senão de tempos a tempos, de ano em ano, por exemplo?… Ao contrário, aquele que .comunga com as devidas disposições (não quero dizer com as que pediria a alteza de Deus, pois estas não podem conseguir-se, por ser Deus infinito, e nós a mesma miséria, senão estar em graça de Deus e comungar com algum fervor), aquele que comunga, digo, com as devidas disposições, e comunga frequentemente, ah! como corre ele cheio de saúde e vida pelo caminho do céu! Por essa razão dizia São Francisco de Sales, que, no espaço de vinte e cinco anos, que então havia que dirigia almas, com nenhuma outra coisa conhecera ter-se santificado tanto e quase divinizado tanto as almas, como com a sagrada Comunhão. Mas, Deus vos livre de frequentá-la em desgraça de Deus, ou com pecados veniais cometidos com conhecimento, ou por costume, ou por vaidade, ou por outros fins que não são retos e honestos! Cuidado… e grande cuidado… em não enganar-se a si mesmo, enganando (e custa bem pouco) ao diretor, ao qual pode pedir-se permissão e conselho para comungar, cuja licença, todavia, não é necessária, nem mesmo para comungar diariamente… A comunhão frequente e diária é uma das coisas mais úteis ao cristão, que mais agradam e obrigam a Maria Santíssima; de modo que diz Segneri Júnior, que, aquele que faz promessa ou voto de comungar doze domingos seguidos (se antes comungava já à miúde), ou doze meses certos, uma vez cada mês (se antes comungava à miúde) em honra e glória de Maria Santíssima em memória daquelas doze estrelas com que São João a viu coroada no Apocalipse, alcança desta grande Rainha e Senhora das graças qualquer graça que lhe pedir; e se não alcançar a graça que pretende, será por não ser conveniente à sua salvação; mas então ser-lhe-á concedida outra graça maior e mais útil que a que pede, como já fez a experiência. Prouvera a Deus que os fiéis, em vez de fazerem outros votos e promessas, fizessem esta!… certamente que assim conseguiriam melhor o que pretendem.

A quinta e última máxima é:

Avivar a fé de que estás na presença de Deus. Esta prática ordenada pelo Altíssimo ao Santo Patriarca Abraão para que fosse perfeito, quando lhe disse: Anda como um criado fiel, em minha presença, e sê perfeito; considerada com atenção, não pode deixar de dar os mais felizes resultados. Porque, quem não vê sua grande importância? Pensar e crer estas verdades: Olha que Deus te vê… Olha que até os pensamentos mais ocultos tem Ele presentes . . . Olha que em qualquer lugar onde te esconderes para ofendê-lo, sempre estarás diante dEle, e querer pecar não se pode compreender… Seria possível achar um homem que quisesse insultar a um rei poderoso em sua mesma presença, e diante de seus ministros de justiça com as armas na mão, para tomar vingança ao menor aceno de sua vontade? Se não perdeu inteiramente o juízo, ou se não está cego por uma paixão violenta, não creio que fosse possível. Isto, porém, acontece todos os dias, a toda hora, em todos os instantes… Quantos pecados se cometem a cada momento e todos na presença dum Deus infinito em grandeza e majestade!… e na vista de inumeráveis criaturas, que, como ministros de sua divina justiça, estão prontas vingar seus divinos direitos, a um aceno de sua vontade!… A “um sinal do querer de Deus o ar sufocaria o pecador delinquente; a terra o engoliria; a água o afogaria; o fogo reduziria a cinzas; enfim, todas as criaturas pelejariam em seu favor contra os insensatos pecadores… Não será, pois, esta verdade bem ponderada mais que suficiente para apartar-te da culpa? Aviva, pois, a fé desta verdade; porque bem meditada não só te guardará do pecado, senão que te fará santo e grande santo; Assim seja.

Caminho Seguro e Reto para Chegar ao Céu, Santo Antônio Maria Claret, 1944.

(1) A oração mencionada é a seguinte: “ó Virgem e Mãe de Deus, entrego me por vosso filho e em honra e glória de vossa pureza, ofereço-vos minha alma e corpo, potências e sentidos, e Vos suplico que me alcanceis a graça de não cometer jamais nenhum pecado. Amen”. (três Ave Marias).

Última atualização do artigo em 10 de janeiro de 2025 por Arsenal Católico

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