A paixão de Cristo nos ensina o valor da nossa alma e a importância da salvação. O Padre Antônio Vieira, num dos seus sermões, convida os ouvintes a verificarem o preço da sua alma na “balança da cruz”. No braço direito desta “balança” está o Divino Redentor, o Cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo. No braço esquerdo está a alma culpada de pecado mortal. O braço direito, com o peso da justiça de Cristo, desceu tanto que trouxe Deus do céu à terra, enquanto o esquerdo subiu tanto que nos afastou do pecado e do inferno, e nos aproximou do céu. Quando o demônio foi tentar a Nosso Senhor, ofereceu-lhe em troca da sua alma todos os reinos do mundo. Mas a alma vale o sacrifício de Cristo. Não entreguemos, portanto, a nossa alma por uma miserável tentação, ainda que ela nos prometa o mundo inteiro.
Jesus Cristo ofereceu por nós o seu sacrifício redentor. Ele é o nosso Redentor.
Mas, porque nós não somos coisas como uma pedra, mas pessoas, dotadas de inteligência e de vontade, Deus quer que livremente apliquemos a nós a redenção de Cristo.
A redenção de Cristo é como uma água que lava os nossos pecados. Mas para que sejamos purificados é preciso que nos aproximemos dessa água e nos lavemos nela. A água, de si, tem o poder de nos lavar, mas se nós não a aplicarmos a nós ela não nos purifica, não por falha da água mas por preguiça ou descuido de nossa parte.
Assim também acontece com a Redenção de Cristo. Devemos aplicá-la a nós, seguindo as determinações de Jesus, que fundou a sua Igreja e fez dela a distribuidora de suas graças aos homens, pelos canais dos sacramentos.
Se não quisermos nos submeter à Igreja e aos sacramentos não estaremos cooperando com a Redenção.
Santo Agostinho expressou de maneira muito clara esta necessidade, quando disse: “Deus que te criou sem ti não te salvará sem ti”.
Para nos colocar na ordem da existência Deus não nos consultou, mas; para a salvação eterna, Ele quer nossa colaboração. Porque ninguém vai para o inferno contra a sua vontade, ma também não entrará no céu sem a sua vontade.
Para salvarmos a nossa alma precisamos do auxílio de Nosso Senhor, que é a parte mais importante, mas também precisamos lançar mão dos recursos que Nosso Senhor põe ao nosso alcance. Assim como alguém que resvalasse para o abismo, além de receber o auxílio de uma corda ou escada, precisaria também, para sair de lá, fazer um pouco de esfôrço pessoal, trepar por esta corda ou subir por esta escada.
Quem está fraco e doente deve· tomar o alimento e aplicar o remédio.
O esfôrço que nós devemos fazer resume-se principalmente nos seguintes pontos: receber os sacramentos, rezar e assistir à missa, observar os mandamentos e evitar as ocasiões de pecado.
Os sacramentos são os meios principais que nos dão as graças de Nosso Senhor.
Pelo batismo entramos na Igreja e nos tornamos filhos adotivos de Deus.
Quando fomos introduzidos, pela primeira vez, na igreja o sacerdote que nos batizou também nos advertiu que devíamos amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos.
Por isso dizemos que cristão é aquele que é batizado, crê e professa a doutrina de Jesus Cristo.
O batismo é o início da vida espiritual que se desenvolve com os outros sacramentos e com a prática da caridade e das virtudes, que em última análise se resume nos mandamentos da lei de Deus e da Igreja.
Está claro que iremos ainda estudar na Catequese Popular tanto os sacramentos como os mandamentos.
Mas, agora, queremos só lembrar que precisamos observar os mandamentos de Deus e da sua Igreja, pois este é o caminho normal para chegarmos até o céu.
Custa geralmente observar direito todos os mandamentos, mas Nosso Senhor não nos abandona, ao contrário, constituiu a sua Igreja, onde temos auxílios extraordinários e eficazes, que são os sacramentos.
Se não estamos ainda crismados não tenhamos respeito humano. Procuremos receber este sacramento que nos confirma na fé e nos torna soldados de Cristo.
Procuremos nos confessar com regularidade e freqüência, para ficarmos livres do pecado e termos os auxílios necessários para lutar contra a tentação.
Ao menos uma vez por ano devemos nos aproximar da Santa Comunhão, tendo a nossa consciência purificada com uma boa confissão.
Mas se Nosso Senhor ficou conosco em forma de alimento foi para nos indicar que devemos comungar com mais freqüência possível.
Quando temos doentes passando mal, em possível perigo de morte, chamemos o padre para dar a extrema-unção, que, às vezes Deus permite, pode restituir a saúde ao enfermo.
Também não é possível merecer um casal as bênçãos de Deus se não tiverem feito o seu casamento religioso?; do contrário, vivem em pecado, pois estão contra as determinações de Jesus Cristo.
Além dos sacramentos, é preciso rezar e rezar muito.
Nosso Senhor ensinou aos Apóstolos a oração do “Pai Nosso . . . ” (Mt 6, 9 ss.). Em outro lugar disse (Mt 26, 41): “Vigiai e orai para não cairdes em tentação ; o espírito está pronto, sim, mas a carne é fraca”. Oração é falar com Deus, é colocar o nosso pensamento mais perto do nosso Criador, é conversar com o nosso Pai celeste. Se não rezamos, a traição da carne, que é fraca, prejudica seriamente o nosso espírito.
A oração mais poderosa é a Santa Missa. A Santa Missa é a renovação do sacrifício do Calvário. Nosso Senhor, quando instituiu a Eucaristia, instituiu juntamente a Santa Missa e mandou que os Apóstolos e seus continuadores a celebrassem (Lc 22, 19): “isto é o meu corpo que será entregue por vós, fazei isto em memória de mim”. Na sexta-feira santa, quando Nosso Senhor morreu por nós, no meio dos sofrimentos da sua paixão, mereceu-nos as graças que precisamos. Entretanto, como nós não vivíamos naquele tempo, não pudemos estar presentes ao sacrifício do Calvário. Para aproveitar melhor dele, Nosso Senhor instituiu a Missa, quando se renova este mesmo sacrifício é que nos são distribuídas as graças, que Nosso Senhor nos mereceu naquela ocasião. A diferença é que na Santa Missa Cristo já não pode mais sofrer.
A Missa é de grande importância para nós, porque é o sacrifício de Cristo para a nossa redenção. Por isto a Igreja nos manda sob obrigação de pecado mortal assistir à Missa inteira nos domingos e dias santos, quando for possível. O esfôrço que fazemos para assistir à Missa é um esfôrço nosso, com o qual “completamos o que falta à paixão de Cristo”, porque aceitamos os méritos d’Ele que nos são necessários.
Precisamos também fugir das tentações, pois Nosso Senhor disse: “o espírito está pronto, mas a carne é fraca”. Quem não foge das tentações cai no pecado com tanta facilidade como alguém que, com as roupas molhadas de gasolina, se aproxima do fogo para secar-se, e se torna uma fogueira viva.
Assim como o nosso corpo precisa cada dia de alimento para renovar as fôrças e nos permitir trabalhar, precisamos também cada dia viver de acordo com a religião, que é a vida sobrenatural da nossa alma. Se falta o alimento, enfraquecemos e morremos. Se falta a prática da religião, caímos em pecado mortal e nos perdemos.
Basta uma falha grande, um pecado mortal para arruinar toda a nossa alma. Não podemos escolher algumas obrigações religiosas e deixar outras. Para um relógio andar bem é preciso que todas as suas peças e rodinhas estejam inteiras, no seu lugar. Basta uma rodinha quebrada, e o relógio todo fica inutilizado.
Exemplo: Os santos todos foram exemplos de grande sabedoria. Porque a sabedoria consiste em saber muito de Jesus Cristo e seguir os seus mandamentos.
São Francisco de Assis ouvia a leitura do Evangelho como se fosse o próprio Cristo que pessoalmente lhe desse uma ordem e, por isso mesmo, se santificou.
São Pedro facilitou um pouco, quis seguir sua cabeça e não a palavra de Jesus, e pecou, mas se arrependeu e, como fruto do seu pecado, aumentou seu amor a Cristo.
Judas, ao contrário, embora tivesse sido escolhido para o Colégio Apostólico e gozasse da amizade de Cristo, por causa do dinheiro traiu o seu Mestre e depois se desesperou. Foi a sua calamidade. Se tivesse pedido perdão, aproximando-se de Cristo, não se teria enforcado, cheio de vergonha e de desespero.
Oração. – Ó Deus, de quem Judas recebeu o castigo do seu pecado e o bom ladrão a recompensa da sua profissão de fé, concedei-nos o efeito da vossa misericórdia, a fim de que, como Nosso Senhor Jesus Cristo em sua paixão a um e a outro tratou segundo os méritos, assim também, destruída a nossa antiga maldade, nos conceda a graça de sua ressurreição, Ele que, sendo Deus, convosco vive e reina em unidade do Espírito Santo por todos os séculos dos séculos. Amém”. (Oração da Missa da quinta-feira santa) .
Cheios de gratidão recitemos o “Creio em Deus Pai . . . “
Resolução: Ver se consigo levar alguma pessoa ou para fazer a sua Páscoa ou então regularizar sua união, com o casamento religioso.
Leituras de Doutrina Cristã, Parte I – Dogma, Padres Jesuítas de Três Poços, Pinheiral, Estado do Rio, 1958
Última atualização do artigo em 12 de dezembro de 2024 por Arsenal Católico