Resisti ao demônio e ele fugirá de vós (Sant. V, 7).
Há muitas classes de tentações. E assim, elas podem assaltar o homem com maior ou menor violência, dum modo mais sensível ou espiritual, com maior clareza ou simulação, conforme o encontrarem mais ou menos afastado do bem.
Ordinariamente a tentação apresenta-se debaixo da forma dum bem sensível, e convida o homem dizendo-lhe quer ele seja proibido ou não: Toma-o.
Por isso é necessário antes de tudo que o homem esteja prevenido e que a razão e a fé afirmem o seu domínio sobre os sentidos.
Donde se conclui a grande vigilância em que havemos de viver, pois, quanto mais refreados e dominados estiverem os sentidos, tanto menos violentos serão os assaltos do apetite.
Convém também que em todo o nosso interior reine uma ordem tão perfeita que nos coloque em circunstâncias de ver o momento em que a tentação se acerca de nós.
Porque, se no coração reina a desordem, se tudo nele é um torvelinho de impulsos violentos, não é possível conhecermos quando o inimigo se aproxima. Ainda nem sequer suspeitavas a sua presença, e já ele se tinha apoderado do teu coração, assenhoreando-se da tua vontade e sujeitando-a com ferros e ligaduras.
Ainda é mais importante, não dar a mão ao inimigo, constituindo-te voluntariamente na tentação.
Quando ela se apresentar, não te deixes arrastar pela covardia, nem pela persuasão de que não a podes vencer.
Deus que é fiel, não consente que sejamos tentados dum modo superior às nossas forças; por isso dar-te-á modo de a venceres, concedendo-te o seu auxílio para perseverares no bem (1).
Mas, como a vitória depende da graça de Deus, não sejas temerária confiando demasiado nas tuas forças. Levanta o coração a Deus, e implora o seu auxílio. Quem se vir na adversidade ou na necessidade, ore (2).
Sim, jovem cristã: acode à oração quando sentires que o inimigo se aproxima, porque ela é onipotente. Se Deus é por ti, quem será contra ti? (3)
Infelizmente porém, muitos faltam a este dever; em vez de se voltarem depressa e resolutamente contra a tentação, examinam-na, divertem-se com ela; tanto basta para se encaminharem para a beira do abismo: por fim ela atrai-os fortemente, apodera-se deles a vertigem, escurece-se-lhes a razão, a vontade vacila, e … oh infelicidade que eu podia ter previsto! Quem ama o perigo, nele morrerá (4).
Quando a tentação não ceder, procura excitar no teu espírito pensamentos salutares.
Se Deus me vê, como ousarei praticar o mal na sua presença? (5)
Que prometi a Deus há pouco, quando me perdoou com tanta bondade? Que gratidão seria a minha, se tornasse a ofendê-lO?
E se a morte me surpreendesse no momento do pecado ou logo depois dele? Oh eternidade! Oh inferno espantoso!
É possível que eu queira ofender a Deus, meu sumo Bem, e meu Pai amorosíssimo? que eu queira lançar a minha alma na mais espantosa desgraça e dar um novo triunfo ao inimigo?
Meu Jesus, e meu Salvador crucificado! Hei de pagar assim o grande amor que me tendes? Mil vezes antes a morte, do que pecar. Aparta-te de mim, Satanás?
Não serão acaso eficazes estes pensamentos, para repelir os assaltos do inferno?
Além da oração e dos pensamentos salutares é muito bom meio para afugentar a tentação, distrair imediatamente o espírito com outras ocupações. Lê, fala com alguém, distraia-te. Mas não te detenhas nela!
Seria muito bom, e isso é o que mais confunde o espírito maligno, aproveitá-la para praticares alguma boa obra.
Faz pois, algum ato da virtude contrária ao mal a que a tentação te pretende induzir. Assim feres o inimigo com as suas próprias armas, e fazes que não te torne a incomodar. Quando te sentires tentado com maior frequência e violência, ora mais e com mais fervor, lê num livro piedoso e faz alguma mortificação ou obra boa.
E quando ela tiver passado, dá graças a Deus e alegra-te por veres voltar ao teu espírito a paz e a serenidade. Mas, não deponhas as armas. O tentador só muito pouco tempo te deixará em paz (6).
Feliz de ti, se te exercitares desde a juventude neste combate espiritual. A cada vitória corresponderá mais um grau de fortaleza, garantia de novos triunfos: a cada triunfo corresponderá mais uma jóia a fulgir na coroa que te há de ornar a frente por toda a eternidade! (7)
A Virgem Prudente, Pensamentos e Conselhos acomodados às Jovens Cristãs, por A. De Doss, S.J. versão de A. Cardoso, 1933.
(1) Cor. X, 13.
(2) Sant. V, 13.
(3) Rom. VIII, 31.
(4) Gen. XXXIX, 29.
(5) Ecl. III, 27.
(6) Luc. IV, 13.
(7) Tim. IV, 8.
Última atualização do artigo em 25 de janeiro de 2025 por Arsenal Católico