Convite para o banquete – Segundo Domingo depois do Pentecostes

Ó Jesus, concedei-nos a graça de corresponder sempre ao Vosso convite e de participar dignamente no Vosso banquete.

1 – O Evangelho deste domingo (Lc. 14, 16-24) harmoniza-se perfeitamente com a festa do Corpo de Deus. “um homem fez uma grande ceia e convidou muitos”. O homem que faz a ceia é Deus, e a grande ceia é o Seu reino onde as almas encontrarão na terra toda a abundância de bens espirituais e, na outra vida, a felicidade eterna. É este o sentido próprio da parábola, mas nada obsta a que também se possa entender num sentido mais particular, vendo na ceia o banquete eucarístico e no homem que o ofereceu, Jesus, que convida os homens a alimentarem-se da Sua carne e do Seu Sangue. “A mesa do Senhor está pronta para nós – canta a Igreja – A Sabedoria [ou seja o Verbo Incarnado] preparou o vinho e pôs a mesa” (BR.). O próprio Jesus, ao anunciar a Eucaristia, dirige a todos o Seu convite: “Eu sou o pão da vida; o que vem a mim não terá jamais fome e o que crê em mim não terá jamais sede… Vossos pais comeram o maná no deserto e morreram. Este é o pão que desceu do céu, para que aquele que dele comer não morra” (Jo. 6, 35-50). Jesus não Se limita, como os outros homens, a preparar-nos uma ceia, a fazer numerosos convites e a apresentar iguarias excelentes; mas o fato singularíssimo – que nenhum homem por mais rico e poderoso que seja poderá imitar – é que Ele próprio Se oferece como alimento. S. João Crisóstomo a quem pretende ver Cristo na Eucaristia com os olhos do corpo, diz: “Pois bem, já O vês, tocas e comes. tu queres ver as Suas vestes e Ele, ao contrário, concede-te não só vê-Lo, mas até comê-lO, tocá-lO e recebê-lO dentro de ti… Aquele a quem os anjos olham temerosos e não ousam contemplar livremente devido ao Seu deslumbrante esplendor, faz-Se nosso alimento; nós unimo-nos a Ele e formamos com Cristo um só corpo e uma só carne” (BR.).

2 – Jesus não podia oferecer ao homem uma mesa mais rica do que o banquete eucarístico. E de que modo correspondem os homens ao Seu convite para esta mesa? Muitos, como os judeus incrédulos, encolhem os ombros e retiram-se com um sorriso cético nos lábios: “Como pode este dar-nos a comer a sua carne?” (Jo. 6, 53). Mas o que afasta da Eucaristia não é só a falta de fé; esta é muitas vezes acompanhada e não raramente deriva das causas morais de que fala o Evangelho de hoje. “Comprei uma quinta e é-me necessária ir vê-la; rogo-te que me dês por escusado”, respondeu um; e outro: “Comprei cinco juntas de bois e vou experimentá-las; rogo-te que me dês por escusado”. A excessiva preocupação com os bens terrenos e o apego aos mesmos, o mergulhar-se totalmente nos negócios, são so motivos pelos quais tantos recusam o convite de Jesus. Porém, ainda não é tudo: “Casei-me e por isso não posso ir”, respondeu um terceiro. Este representa aqueles que, submersos nos prazeres dos sentidos, perderam a sensibilidade para as coisas do espírito e, em presença delas, continuam o seu caminho, não se lembrando sequer de se deculpar.

É impossível não estremecer em face da grande cegueira do homem que antepõe ao dom de Cristo, Pão dos anjos e penhor de vida eterna, os interesses terrenos, os vis prazeres dos sentidos, que muito depressa se dissipam como o nevoeiro aos raios do sol. E contudo, não é difícil que uma sombra desta cegueira vele também o olhar e o coração daqueles a quem Jesus chamou para O seguirem mais de perto e designou com o doce nome de amigos. Estes não recusam o convite, mas aceitam-no muitas vezes com frieza, quase por costume. Acaso não é verdade que, enquanto nos preocupamos com muitas coisas: trabalhos, negócios, família, amizades, etc., bem pouco nos preocupamos com dispor-nos cada dia mais dignamente para o Banquete eucarístico? Jesus vem a nós talvez cada manhã, mas encontrará sempre uma hospitalidade calorosa, delicada, solícita, cheia de amor? Oh! muitas vezes encontra o coração dos Seus amigos ocupados com mil pensamentos, bagatelas e afetos terrenos ao passo que para Ele, Hóspede divino, muito pouco lugar fica, quando deveria pertencer-Lhe inteiramente! Todavia o pensamento do encontro diário com Jesus deveria dominar qualquer outro pensamento.

Colóquio – “Ó Sacramento de piedade! Ó selo de unidade! Ó vínculo de caridade! Quem quer viver, tem onde viver e com quem viver. Ó Senhor, aproximar-me-ei com fé da Vossa mesa, participando dela para ser por ela vivificado.

“Fazei, Senhor, que eu seja inebriado pela abundância da Vossa casa, e dai-me a beber da torrente das Vossas delícias. Porque junto de Vós, está a fonte da minha vida: não fora de Vós, mas ali junto de Vós, está a fonte da vida. Quero beber para viver; não quero atuar por mim, pois posso perder-me, não quero saciar-me no meu coração para não ficar árido; quero antes aproximar a minha boca da fonte onde a água não se esgota.

“Suprirei as desculpas vãs e mesquinhas e aproximar-me-ei da ceia que me deve fortalecer interiormente. Não me detenha a altivez da soberba: não, não me torne orgulhoso a soberba; nem sequer me detenha a curiosidade ilícita, afastando-me de Vós; não me impeça o deleite carnal de saborear o deleite espiritual.

“Fazei que eu me aproxime e me fortaleça; deixai que me aproxime embora mendigo, fraco, aleijado e cego. À Vossa ceia não vêm os homens ricos e saudáveis que julgam caminhar bem e possuir a agudeza de vista, homens muito presunçosos e por consequência, tanto mais incuráveis quanto mais soberbos. Aproximar-me-ei qual mendigo, porque me convidais Vós que, de rico Vos fizestes pobre por mim, para que a Vossa pobreza enriquecesse a minha mendicidade. Aproximar-me-ei como fraco, porque o médico não é para os que têm saúde senão para os doentes. Aproximar-me-ei como aleijado e Vos direi: ‘Dirigi Vós os meus passos pelas Vossas veredas’. Aproximar-me-ei como cego e Vos direi: ‘Iluminai os meus olhos, a fim de que eu jamais durma o sono da morte'” (Sto Agostinho).

Intimidade Divina, Meditações Sobre a Vida Interior Para Todos os Dias do Ano, P. Gabriel de Sta M. Madalena O.C.D. 1952.

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