Ó Jesus que tanto me amastes, tornai-me capaz de corresponder ao Vosso amor.
1 – Leão XIII, na Encíclica Annum Sacrum, afirma: “O Sagrado Coração de Jesus Cristo, caridade que nos incita a corresponder-Lhe”. De fato, nada melhor que o amor é capaz de suscitar amor. “Amor com amor se paga”, disseram e repetiram sempre os Santos. Sta Teresa de Jesus escreve: “Sempre que pensarmos em Cristo, recordemo-nos do amor com que nos fez tantas mercês… pois amor atrai amor. E ainda que nos vejamos muito no princípio e muito ruins, procuremos ir considerando sempre estas verdades e despertando-nos a amar” (Vi. 22, 14).
Justamente para nos incitar ao amor, a Igreja propõe-nos a devoção ao Sagrado Coração de Jesus; no Ofício da Sua festa, depois de nos ter recordado as inúmeras provas do amor de Cristo, esta boa Mãe pergunta-nos com vivo entusiasmo: “Quem não pagará com amor a quem tanto nos amou? Quem entre os Seus remidos não O amará?” (hino de Laudes). E para nos impelir cada vez mais a dar amor por amor, põe nos lábios de Jesus estas palavras sublimes da Sagrada Escritura: “Amei-te cm um amor eterno e, por isso, atrai-te cheio de compaixão” (lição III); e também: “Fili, praebe mihi or tuum“, filho, dá-Me o teu coração (ant. de Laudes). Eis em que consiste a verdadeira devoção ao Sagrado Coração: corresponder ao amor, “dar amor por amor”, segundo se exprime Sta Margarida Maria, a grande discípula do Sagrado Coração; “corresponder incessantemente com amor a quem tanto nos amou”, com escreve Sta Teresa Margarida do Coração de Jesus, a escondida, mas não menos ardente discípula do Coração divino.
2 – A estrutura da nossa vida espiritual depende, em grande parte, da ideia que fazemos de Deus. Se, como o servo preguiçoso do Evangelho (Mt. 25, 14-30), fazemos de Deus uma ideia acanhada e mesquinha, em vez de nos sentirmos estimulados a amá-lO e a entregar-nos generosamente ao Seu serviço, ficaremos frios, preguiçosos, calculadores, enterraremos também nós o talento recebido do nosso amo, não nos preocupando com empregar para Deus os bens que dEle recebemos. Muitos cristãos, infelizmente, vivem assim: servem a Deus como o escravo serve o seu amo; se se abstêm do pecado, é só por temor do castigo; se rezam ou fazem alguma obra boa, é só em vista do interesse próprio e por isso, não há neles ímpeto algum de generosidade e de amor. Quando, pelo contrário, a alma começa a ter a intuição de que “Deus caritas est” (I Jo, 4, 8), a penetrar no mistério do amor infinito que a envolve, e a compreender o amor de Deus, o amor de Jesus para com ela, tudo então muda de aspecto porque “o amor atrai o amor”. A devoção ao Sagrado Coração, que é a devoção ao amor infinito de Jesus, deve produzir em nós este efeito: fazer-nos compreender cada vez melhor “o amor de Cristo que excede toda a ciência” (Ef. 3, 19). Meditando e contemplando o Coração de Jesus trespassado por nosso amor, aprenderemos a ciência do amor, ciência que nenhum livro terreno nos pode ensinar, mas que se aprende somente no livro aberto do Coração de Cristo nosso único Mestre. “E ciência me ensinou mui saborosa” (J.C. C. 27, 2), canta com entusiasmo a alma que Jesus introduziu nos segredos do Seu divino Coração. Então a resposta ao Seu amor será fácil: “Ele amou-me e entregou-Se a Si mesmo por mim… e eu de muito boa vontade darei o que é meu e me darei a mim por Ele e pelas almas que são o Seu tesouro” (cfr. Gál. 2, 20; II Cor. 12, 15). O amor lança-nos para além de todo o cálculo, de todo o egoísmo.
Colóquio – “Desperta, ó minha alma. Até quando continuarás dormindo? acima dos céus há um Rei que deseja possuir-te: ama-te com todo o coração, ama-te sem medida. tão docemente, tão fielmente te ama que deixou o Seu reino e Se humilhou por ti. Para te procurar, suportou ser preso como um malfeitor. Ama-te tão cordial e fortemente, está tão zeloso por ti e tantas provas te deu disto que por ti entregou de bom grado o Seu corpo à morte. Lavou-te com o Seu Sangue e resgatou-te coma Sua morte. Até quando esperarás para corresponder ao Seu amor? Apressa-te, pois, a dar-Lhe uma resposta.
“Eis que venho a Vós, Jesus amantíssimo! Venho ela Vossa doçura, pela Vossa piedade, pela Vossa caridade; venho com todo o coração, com toda a alma, com todas as forças. Quem me concederá ser toda conforme ao Vosso Coração, a fim de que possais encontrar em mim tudo quando desejais?
“Ó Jesus, meu Rei e meu Deus, recebei-me no asilo benigníssimo do Vosso Coração divino e uni-me aí a Vós de modo que eu viva totalmente para Vós. Deixai doravante que me abisme no oceano imenso da Vossa misericórdia, que me abandone completamente à Vossa piedade, que me lance na fornalha ardente do Vosso amor e nela permaneça até ficar consumida…
“Mas que sou eu, meu Deus? Oh! como sou diferente de Vós, eu que sou o refugo de todas as criaturas! Vós, porém, sois a minha grande confiança porque em Vós está a compensação e a abundância dos bens que perdi. Fechai-me, Senhor, no sepulcro do Vosso Coração aberto pela lança e colocai em cima a pedra do Vosso olhar dulcíssimo, de modo que eu fique eternamente confiada aos Vossos cuidados. À sombra do Vosso amor paternal, servir-me-á de repouso a memória perpétua do Vosso precioso amor” (Sta Gertrudes).
Intimidade Divina, Meditações Sobre a Vida Interior Para Todos os Dias do Ano, P. Gabriel de Sta M. Madalena O.C.D. 1952.